A Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (Aspe) estima que a doença atinge cerca de três milhões de pessoas no Brasil. Em 80% dos casos, elas podem ter uma vida normal, se tratadas adequadamente. Mas a epilepsia ainda é vista com preconceito, devido à falta de conhecimento sobre a doença.
O Dia Roxo de Conscientização da Epilepsia (Purple Day) surgiu em 26 de março de 2008. A campanha, de origem canadense, durará todo o mês, colorindo de prédios como o Congresso Nacional, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a própria Unicamp.
De acordo com o embaixador da campanha no Brasil, Eduardo Caminada, uma das formas de chamar a atenção da população para os estigmas da epilepsia é a mobilização. “É um lento trabalho contra o preconceito. Com informação, as pessoas entenderão o que é essa condição”, comenta Caminada.
Centro de referência nacional e internacional
Fernando Cendes, neurologista do HC da Unicamp e chefe do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), explica que lesões cerebrais, insultos [agressão ao órgão] ou alterações genéticas podem causar crises epiléticas. Para um diagnóstico correto, é preciso definir se se trata de uma crise isolada ou da epilepsia propriamente dita. “As crises podem ocorrer em circunstâncias de insultos cerebrais agudos, enquanto na epilepsia há recorrência das crises independente de um fator externo”, explica Cendes.
De acordo com o neurologista, existem dois tipos principais de tratamento: os fármacos anticrises, para controlar e prevenir os episódios, e a cirurgia. “A cirurgia é indicada para pacientes com epilepsia refratária, isto é, quando os remédios não são suficientes para controlar as crises, e que apresentam um foco epiléptico bem definido”, diz Cendes.
O HC Unicamp é um dos poucos centros no país a realizar cirurgia para epilepsia, contando para isso com uma equipe multidisciplinar. Outro tratamento especializado que o HC Unicamp oferece é o suporte para o uso da dieta cetogênica. O hospital é referência internacional para o tratamento da doença e também no treinamento e formação de especialistas.
“Temos também no HC o laboratório de neuroimagem, com equipamentos de última geração para mapear as áreas de lesão cerebral. Já realizamos mais de 500 procedimentos cirúrgicos para epilepsias de difícil controle”, pontua Cendes.
Terapias alternativas
Quando a cirurgia ou a medicação não são eficazes, há tratamentos alternativos, como a implantação de estimulador vagal, um chip que descarrega impulsos elétricos no nervo vago para reduzir a frequência das crises. Já a dieta cetogênica consiste em uma alimentação rica em gordura e pobre em carboidrato. A cetoacidose inibe os disparos neuronais e ajuda a controlar as convulsões.
Outra possibilidade é o uso do canabidiol, também conhecido como CBD, substância retirada da cannabis. Ele já é usado no tratamento de outras doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson e ansiedade.
“O canabidiol atua diretamente no sistema nervoso central, e melhora a disfunção neurológica. Mas seu uso para a epilepsia depende de receita médica e autorização da Justiça”, alerta o neurologista do HC.
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