A Unicamp e a Shell firmaram nesta quinta-feira (31/3) uma parceria para pesquisas na área de biocombustíveis e biogás. A empresa irá investir cerca de R$ 6,1 milhões na instalação de uma planta piloto para processamento de biomassa e produção de biohitano, um biogás enriquecido com hidrogênio, o que lhe confere maior potencial energético. As pesquisas serão conduzidas pelo Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE), do Instituto de Biologia (IB), e pela Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.
A parceria foi assinada pelo reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, e por Alexandre Breda, gerente de tecnologias de baixo carbono da Shell. Participaram do evento os líderes do projeto, professores Gonçalo Pereira, coordenador do LGE, e Gustavo Mockaitis, docente da Feagri. Também estiveram presentes os diretores das faculdades, professores André Freitas (IB) e Angel Pontin Garcia (Feagri), e o diretor executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Renato Lopes.
Por determinação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as empresas do setor devem investir parte de seus recursos em pesquisas de desenvolvimento tecnológico realizadas por universidades. Segundo Alexandre Breda, a Shell tem como meta zerar suas emissões de carbono até 2050, o que depende de tecnologias voltadas ao uso de biocombustíveis. "Uma empresa não consegue atingir esse objetivo sem a contribuição da academia e dos governos. A parceria com a universidade é fundamental para trazer soluções tecnológicas e para nos ajudar a dialogar com a sociedade", comenta.
Formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Alexandre reconhece a vocação da Universidade para desenvolver tecnologias que atendam demandas do mercado e contribuam com o meio ambiente. "Voltar à Unicamp me dá a certeza de estar em um lugar que tem a inovação no sangue. Desde que entrei na graduação, há cerca de 25 anos, a Unicamp sempre teve essa vocação. Foi o que me fez escolhê-la então para cursar engenharia, e hoje para parceira de pesquisa".
Do metano ao biohitano
As pesquisas realizadas com investimentos da Shell irão se concentrar em duas frentes: a instalação de uma planta piloto de processamento de biomassa para produção do biohitano e a exploração da biomassa do Agave para obtenção de biocombustíveis e biogás. O biohitano é um biogás obtido a partir de processos de digestão anaeróbia em que há uma concentração maior de hidrogênio em comparação com o metano.
"Por conter cerca de 30% a mais de hidrogênio, o biohitano tem o dobro do potencial energético. Um litro dele tem quase o dobro de energia do biometano. Quando enriquecido pelo hidrogênio, é um gás extremamente energético", explica Gonçalo Pereira. O produto tem grande valor para a indústria petroquímica mas pesquisas na área são recentes: "Ainda não existe produção industrial de biohitano. Por isso a Shell se mostrou interessada".
Os pesquisadores também pretendem investigar o potencial da biomassa do Agave para produção de biocombustíveis. A planta é utilizada para produção de fibras de sisal e de tequila, mas ainda pouco explorada do ponto de vista energético. São necessários estudos a respeito dos processos bioquímicos envolvidos em sua digestão por microorganismos e da forma como sua biomassa pode ser processada para obtenção de energia. "Queremos estudar esses processos em escala micro no Laboratório de Genômica e bioEnergia e elevar a escala disso na Feagri. Ou seja, desenvolver uma forma de transformar o conhecimento sobre a biomassa de Agave e sobre os microorganismos que irão transformá-la em um processo piloto, depois em escala semi-industrial e, então, em escala industrial", detalha Gustavo Mockaitis.
Por ser uma espécie adaptada a regiões semi-áridas, o Agave é uma opção para o desenvolvimento de áreas como o sertão nordestino. "Para sermos competitivos economicamente, precisamos de biomassa barata. O Agave é uma planta com produtividade semelhante à da cana-de-açúcar, e cujo cultivo pode gerar empregos, renda e manter as pessoas do campo", defende Gonçalo.
O reitor da Unicamp elogiou o caráter inovador do projeto e a sua conexão com as demandas do país. "O futuro da transição energética está em disputa hoje e precisamos entrar nessa corrida. Se tivermos a capacidade de criar tecnologias e ciência, vinculando nosso potencial às demandas sociais, poderemos ter uma grande relevância global", pontua Antonio Meirelles.