Morreu neste domingo (24/4), aos 91 anos, Niza de Castro Tank, professora do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. O velório foi realizado na segunda-feira (25) no Cemitério da Saudade, em Campinas. O corpo foi em seguida levado para Limeira, cidade natal de Niza, onde foi sepultado. Tank foi a primeira docente da cadeira de canto do Departamento de Música do IA. Ela se consagrou como uma das maiores cantoras líricas do país, com destaque para a interpretação das obras de Carlos Gomes. Niza Tank formou uma geração de músicos e intérpretes com características que se tornaram marcas de seu trabalho: excelência artística, generosidade e alegria.
Em homenagem a Niza Tank, a TV Unicamp disponibiliza em seu canal no YouTube o documentário "Joias da Princesa: Niza de Castro Tank", dirigido por Ariane Porto, professora do IA, e Tereza Aguiar, diretora de teatro falecida em abril deste ano. Produzido em 2012, o filme contou com o apoio do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) e compôs uma série de documentários sobre pessoas importantes para a história da cidade. Confira o vídeo a seguir.
"Niza sempre foi uma pessoa inspiradora"
Nascida em Limeira em 1931, Niza recebeu incentivo para a música em casa e na escola. Com a mudança para Campinas, em 1945, passou a ter aulas de canto. O aprimoramento a encorajou a tentar um contrato como cantora na Rádio Gazeta, na capital paulista. O talento da jovem encantou os profissionais da emissora, o que lhe rendeu um início de carreira como cantora de óperas entre 1954 e 1960. A primeira apresentação no Theatro Municipal de São Paulo foi em 1957, feito que a colocou sob os holofotes do canto lírico nacional e internacional.
"Quando Niza subia no palco, roubava a cena. Era de baixa estatura, mas imensa enquanto artista. Atuou com brilhantismo e sensibilidade. Seu canto carregava muito sentimento e era algo muito coeso artisticamente", lembra Adriana Giarola, professora de canto do IA, aluna e colega de departamento de Niza.
Em 1959, foi a primeira soprano a gravar a ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, interpretando a personagem Ceci, em uma iniciativa do maestro Armando Belardi, então diretor artístico da Rádio Gazeta. A relação de Niza com o compositor campineiro foi um dos destaques de sua carreira. Em sua voz, obras como Il Guarany, Schiavo, Fosca, A Noite do Castelo, Salvador Rosa e Colombo circularam pelo Brasil e outros países.
"Niza foi uma das mais importantes sopranos ligeiros do Brasil da segunda metade do século XX e princípio do século XXI. Além do vasto repertório de câmara e operístico, divulgou amplamente a música de Carlos Gomes", avalia Angelo Fernandes, docente de canto do IA. De seu trabalho, destaca-se ainda o livro Minhas Pobres Canções, em que reúne análises, partituras e gravações das músicas de Carlos Gomes. "Ela deixa um legado de conhecimento a um grande número de alunos, de diversas gerações de cantores e professores de canto".
A vinda para a Unicamp ocorreu a convite do maestro Benito Juarez, então diretor do Departamento de Música do IA. À época, Niza estava prestes a ingressar como docente na Universidade de Brasília (UnB), mas com a criação da cadeira de canto na Unicamp, optou por ficar na cidade de Carlos Gomes e ser a primeira professora da área na Universidade.
Como professora, combinava o rigor artístico dos grandes mestres com uma leveza e bom humor que contagiava alunos e colegas. "Niza tinha um espírito de muita responsabilidade, mas era de uma jovialidade impressionante. Além de seu entusiasmo, uma marca de seu trabalho era a alegria", comenta Paulo Ronqui, diretor do IA. Para ele, o legado pedagógico de Niza vai além dos muros da Unicamp e está presente nas escolas de música de todo país. "Muitos dos professores universitários de música do país passaram pela Unicamp e tiveram contato com Niza. Direta ou indiretamente, ela teve um impacto na trajetória de muitos cantores".
Adriana Giarola compartilha uma lembrança que dá a dimensão do quanto a arte de Niza Tank era contagiante: "Certa vez, ela participava de uma obra dificílima, chamada 'Concerto para Soprano e Orquestra', do Gliere, junto com a Orquestra Sinfônica de Campinas. Atrás do palco, ela estava muito simpática, falante, contando piadas. Até que um dos músicos perguntou: 'Niza, você não está nervosa?' Ela respondeu com muita confiança: 'Eu ensaiei, estudei, confio na minha técnica. Por que vou ficar nervosa? Quero curtir o espetáculo".
Confira a edição do programa Memória Científica, da TV Unicamp, com Niza Tank:
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