A Câmara de Mediação e Ações Colaborativas da Unicamp celebra, em 2022, um ano de bons resultados na solução de conflitos e no fortalecimento da cultura do diálogo na Universidade. Instituído em agosto de 2019, o órgão deu início às atividades no início de 2021, com a formatura da primeira turma de mediadores. Ao longo desse período, o grupo adquiriu experiência graças ao aumento na procura pela mediação entre a comunidade universitária e a parcerias com outras instituições. Para ampliar a visibilidade da Câmara e promover a troca de conhecimentos sobre o tema, a Unicamp promove, em junho, o primeiro Seminário em Mediação em Ambiente Universitário.
Em 2021, o órgão realizou 12 mediações de conflitos entre membros da Universidade. Neste ano, seis mediações já foram concluídas. Os números dizem respeito apenas aos casos que se enquadram nas disposições da Resolução 032/2019, que criou a Câmara e determina as situações passíveis de mediação. Segundo Maria Augusta Pretti Ramalho, advogada responsável pela Câmara, mesmo nos casos em que a mediação é possível, frequentemente ocorre um longo processo de atendimentos e avaliações pelos mediadores.
"Como a mediação é voluntária, às vezes uma das partes apresenta um assunto passível de mediação, mas a outra parte não quer participar. Precisamos conversar com todos os atores envolvidos na situação, verificar quem deseja participar, analisar o caso, para então dar início ao processo. Por isso realizamos muitos atendimentos, mas nem todos se tornam uma mediação", informa Maria Augusta.
O grupo também intensificou a divulgação da Câmara nas unidades da Unicamp, explicando seu trabalho e os benefícios da mediação na solução de conflitos. "Acredito que a procura deve aumentar. As pessoas que já passaram pelo processo e conseguiram um efeito positivo tornaram-se defensoras da mediação", explica. Maria Augusta também atribui o aumento nas demandas ao reconhecimento da importância de se incentivar o diálogo no espaço de trabalho.
"As práticas restaurativas transformam as relações. Por exemplo, posso lhe ofender por algo que eu venha a dizer. Na mediação, terei a oportunidade de reformular minha fala e você poderá explicar por que se sentiu ofendido", detalha. Segundo a advogada, mesmo que um dos objetivos seja evitar que um caso torne-se uma sindicância ou processo administrativo, a mediação pode ocorrer depois do término desses processos, pois o foco está no cuidado com as relações. "Às vezes as pessoas estão tão contaminadas pelo conflito que não conseguem sentar para conversar. A mediação é boa justamente por isso, porque as relações interpessoais continuam existindo depois que o problema é solucionado".
Parceria com MP-SP e formação de novos mediadores
Os voluntários da Câmara de Mediação têm a oportunidade de atuarem também junto ao Núcleo de Incentivo em Práticas Autocompositivas (Nuipa), órgão ligado ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) dedicado a propor soluções consensuais que atua em diversas esferas. "É uma parceria positiva para o MP-SP porque nossos mediadores atuam sem custo algum. Para nós é uma boa experiência, pois os casos que chegam ao Nuipa são ações difusas, questões ligadas ao meio ambiente, à saúde pública, à habitação, entre outras", salienta Maria Augusta.
Essa parceria poderá também ampliar as possibilidades de atuação dos mediadores da Unicamp. "Futuramente, talvez possamos nos tornar uma câmara de mediação para atender a cidade. Hoje atendemos apenas a comunidade interna, mas podemos nos tornar abertos à população. Seria mais um serviço prestado pela Unicamp à sociedade"
Diante da demanda crescente pela mediação, a Câmara também programa, para o início de 2023, uma nova edição do curso de formação de mediadores, oferecido pela Escola de Educação Corporativa da Unicamp (Educorp). Na primeira edição, 48 mediadores tornaram-se aptos a atuar junto à Câmara, sendo 43 da Universidade. Para atuar como mediador, não é necessário ter formação jurídica, apenas o curso específico para a função, o que amplia a possibilidade de atuação de pessoas com diferentes formações. "Temos muita procura de funcionários. Já há cerca de 15 pessoas interessadas na próxima edição do curso. É uma formação que pode mudar nossa vida pessoal, porque começamos a ver novas possibilidades na solução dos conflitos no cotidiano".
Adriana Ferreira, chefe de gabinete adjunta da Reitoria, acredita que o trabalho da Câmara soma-se a outras políticas pela diversidade e o bem estar da comunidade universitária. "Muitos dos problemas de saúde mental decorrem de conflitos que se estendem por anos. É preciso renovar nossa cultura e abraçar a diversidade. Isso exige um intenso trabalho. A Unicamp está inserida em uma sociedade que tem contradições. Acreditamos que a Câmara de Mediação é um elemento educativo, ao mostrar que é possível resolver tensões pelo diálogo", defende Adriana.
Seminário para troca de experiências
Para aprimorar a formação do grupo e compartilhar experiências com outros profissionais e instituições, a Unicamp promove, no dia 9 de junho, a primeira edição do Seminário em Mediação em Ambiente Universitário. O tema será “A gestão de conflitos e as práticas colaborativas nas Universidades como mecanismo de transformação social, educação e Cultura de Paz”. O evento é uma realização da Câmara de Mediação e do Gabinete do Reitor. Ele será realizado no auditório do Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), a partir das 9h, e terá transmissão pelo YouTube. As inscrições podem ser feitas no site even3.com.br/seminariomediacao
Na programação, as aplicações da mediação no contexto universitário e as experiências acumuladas pela Unicamp, Unifesp e USP. Haverá ainda o lançamento do livro Mediação e Práticas Restaurativas nas Universidades: Experiências e Inspirações, da Editora V&V. Nele, especialistas discutem a aplicação de princípios da justiça restaurativa em diferentes contextos universitários. A obra conta com capítulos escritos por membros da Unicamp: as professoras Dora Maria Grassi (IB) e Néri de Barros Almeida (IFCH), a bióloga Priscila Cristina da Silva (IB) e Maria Augusta, coordenadora da Câmara.
"Nosso propósito é disseminar a cultura da mediação no ambiente universitário. Graças às nossas políticas de inclusão, que se aprofundaram nos últimos anos, percebemos que os conflitos internos na Universidade precisam ser tratados de uma maneira dialógica", reflete Adriana Ferreira. Ela convida a todos os interessados a contribuir com a mudança de cultura nas universidades. "Esperamos que as discussões realizadas no Seminário alcancem outros locais do país, para que essa experiência possa ser compartilhada".