Luiz Sugimoto, o jornalista que semeou a paz

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Após mais de duas décadas de Unicamp e pelo menos quatro de jornalismo, Luiz Sugimoto decidiu que deveria descansar. Deixou a Assessoria de Imprensa da Unicamp para acompanhar o crescimento dos netos Cauê e Pedro, nascidos no dia 18 de abril, e a quem passou a chamar de "samuraizinhos". 

No dia 13 de maio, aproveitou a manhã livre de compromissos e foi à Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH) da Universidade finalizar o processo de desligamento. Queria, a partir dali, iniciar uma nova fase.

Estacionou o carro ao lado da Praça da Paz, um dos pontos emblemáticos da Universidade, bem próximo à antiga Assessoria de Comunicação, onde trabalhou por quase 23 anos.

Ao voltar para o carro, sentiu-se mal. Caiu no chão e, em uma repetição do que fora durante a vida, morreu quase em silêncio. Partiu sem alarde, ao lado das árvores que viu quando ainda eram pequenas mudas plantadas na Praça.

No dia 1º de abril, quando anunciou seu desligamento da Unicamp, ele falou da Praça, das árvores e de sua relação com elas.

“É com grande tristeza que me desligo da Unicamp, onde atuei por quase 23 anos. Quando cheguei, em 1999, havia apenas mudas de árvores plantadas na Praça da Paz. Gosto de pensar que cresci junto com elas no campus. O fim do vínculo me deixa também aliviado. Um beijo de gratidão a todos com quem convivi. As árvores ficam”, escreveu.

Segundo as informações da Secretaria de Vivência do Campus (SVC), ele  foi socorrido no local pelo Atendimento da SVC e pelo SAMU, mas não resistiu a um infarto fulminante.

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Luiz Sugimoto trabalhou nos jornais Diário do Povo e Correio Popular; ingressou na Unicamp em maio de 1999, assumindo a sub-coordenação da então Assessoria de Imprensa

Luiz Sugimoto era uma personalidade curiosa. Plácido no trato com os amigos, jorrava lavas quando escrevia contra poderosos. Era capaz de dedicar horas à elaboração de uma dobradinha ou de uma feijoada para os amigos do Céu Azul, o bar da rua Padre Vieira, na região central da cidade, que frequentava com assiduidade diária. Mas era tomado por uma intensidade incomum quando refletia sobre as mazelas e desigualdades do Brasil.

Em um grupo no Facebook que recolheu depoimentos de jornalistas sobre a pandemia, disse estar vivendo "um estado de torpor" que progredia à medida que assistia ao noticiário diário sobre a evolução dos óbitos provocados pela Covid-19.

"O confinamento, diante do cenário surreal lá fora, também transforma a indignação em ira, que me causa vertigem, literalmente", relatou em  depoimento escrito quando haviam transcorridos mais de 70 dias da reclusão. 

"A pandemia fez muito mal a ele", disse Inês Noronha, mãe de seus dois filhos e com quem conviveu por 43 anos.

"Nos últimos meses, pareceu muito abalado. Chegamos a discutir a necessidade de ficarmos mais próximos dele", lembrou a ex-companheira. Sugimoto costumava preparar refeições também para a nova família da mulher, em um gesto de generosidade.

"Foi a pessoa mais generosa que conheci. Nós nos separamos, mas continuamos muito amigos", garantiu. "Estávamos sempre juntos. Houve um tempo em que nos encontrávamos todos os finais de semana", relembra.

Mesmo quando esses encontros foram se tornando mais escassos, o contato jamais foi interrompido. "Ele cozinhava em todas as datas importantes, Dia das Mães, Natal, Ano Novo...", relembra.

"Dizíamos brincando que nossos filhos (Yury e Thiago) gostavam muito mais da papinha que ele fazia". "Ele adorava cozinhar. E adorava a cozinha brasileira", revela Inês.

"Era um cozinheiro de mão cheia. Fazia feijoada,  joelho de porco, pratos à base de frango, pernil assado", disse Benedito de Oliveira, o Dito, um dos amigos e também frequentador assíduo do Céu Azul. "Ele fazia uma salada de pepino desidratado que era divina", lembrou. Para Dito, Sugimoto vai deixar saudade em todo o pessoal do bar.

Na Unicamp

Sugimoto trabalhou nos jornais Diário do Povo e Correio Popular. Ingressou na Unicamp em maio de 1999, assumindo a sub-coordenação da então Assessoria de Imprensa. Em julho de 2000, passou a ser Coordenador da Assessoria e Editor do Jornal da Unicamp.

Luiz Sugimoto deu uma nova cara ao Jornal, que passou a contar com reportagens com maior aprofundamento e debate de ideias. A partir de uma reestruturação em maio de 2002, o periódico deixou de ser mensal e passou a circular com periodicidade semanal, o que se manteve até 2016, quando o formato online foi adotado.

Uma de suas últimas matérias redigidas antes do isolamento, em 2019, foi publicada no Jornal da Unicamp com o título “A contundente resposta do ex-diretor do Inpe ao Presidente da República”, após entrevistar o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. Sua última publicação foi no Portal da Unicamp, em março de 2022, uma matéria sobre a literatura dos refugiados. Em 18 de abril, ele foi desligado da Universidade.

Em 30 anos de jornalismo, não me lembro de tremer tanto ao publicar uma nota de pesar”, escreveu a colega e amiga Raquel dos Santos.

“Sugimoto foi uma das pessoas mais importantes na minha carreira profissional. Competente, ético e de uma inteligência impressionante. Perdi as contas do quanto me fez reescrever textos, mas valeu a pena. Com ele aprendi muito do que sei hoje. E, sobretudo, tive o privilégio de contar com sua amizade nos 23 anos em que trabalhamos juntos. Queria escrever mais, mas as lágrimas não param de escorrer”, finalizou a amiga.

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Em sua trajetória na Universidade, Luiz Sugimoto deu uma nova cara ao Jornal da Unicamp, que passou a contar com reportagens com maior aprofundamento e debate de ideias

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004