A Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja), vinculada à Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da Unicamp, apresentou ao reitor Antonio José de Almeida Meirelles, no dia 17, um documento sobre a crise provocada pelas mudanças ambientais globais.
A Comissão propõe, entre outras medidas, a adoção de uma política de ambientalização da Universidade, visando a uma formação comprometida com a compreensão das mudanças ambientais globais, seus efeitos sistêmicos e os mecanismos para enfrentá-los.
O programa pretende promover também (veja os pontos abaixo) o engajamento dos atuais conteúdos curriculares com a educação ambiental e com as vertentes científicas que abordam as mudanças ambientais (ciências da natureza, ciências humanas e tecnologia). Essa proposta é conhecida como "ambientalização curricular".
A ideia é criar gerações bem informadas a respeito dos diagnósticos planetários, envolvidas com ações de transformação local e com o desenvolvimento de soluções promotoras da sustentabilidade e comprometidas com os direitos humanos.
No campo da gestão, a Comissão sugeriu que a Universidade assumisse um papel exemplar, reconfigurando sua relação com empresas fornecedoras ou parceiras, estabelecendo cláusulas relativas ao respeito aos direitos humanos e às boas práticas socioambientais.
A Fazenda Argentina - uma área de 1,4 milhão de m2 pertencente à Unicamp – recebeu destaque pelo potencial de se constituir segundo os princípios da sustentabilidade integral.
Mudança ecológica
Segundo a professora Néri de Barros, presidente da Comissão, o enfrentamento da crise ambiental exige uma rápida e profunda mudança ecológica, com o estabelecimento de um novo padrão nas interações entre sociedade, meio ambiente e tecnologia.
No documento entregue ao reitor, a Comissão citou dados divulgados no 6° relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente), e mencionou o papel decisivo da ciência e da biodiversidade brasileiras na reconfiguração do futuro planetário.
Essa situação “traz oportunidades para que a Universidade se coloque definitivamente no centro do pensamento disruptivo que se inicia em diversas partes do mundo”, diz o documento.
Composição da Comissão
A comissão tem 44 membros, com representantes de todas as áreas de conhecimento da Universidade. Ela é composta por docentes, pesquisadores e funcionários, estudantes de graduação, pós-graduação e colégios técnicos. Há, ainda, representantes da sociedade civil, representantes de povos originários, especialistas, ativistas e gestores.
“A bandeira da sustentabilidade, em suas dimensões sociais, econômicas e ecológicas, conserva sua importância, mas seus alvos não podem mais estar no futuro”, diz o documento.
“Para atender à aceleração dos processos físicos planetários, eles precisam ser planejados em poucos anos, garantir a sustentabilidade de ponta a ponta, envolver mais pessoas em sua elaboração e execução e acontecer de forma coordenada com processos educativos da população”, acrescentam os autores.
Emergência climática
Para a professora Néri de Barros, a emergência climática “é uma ameaça real e seu enfrentamento é extremamente complexo”.
“Estima-se que, se forem tomadas todas as decisões cruciais para seu enfrentamento, serão necessários séculos de adaptação às consequências das transformações que já vivemos”, diz ela.
“Trata-se de um problema sistêmico de amplitude planetária, que só pode ser adequadamente enfrentado com mudanças estruturais, que envolvam a reconfiguração de todo o sistema produtivo, valores e modos de vida”, adverte a professora.
“A humanidade nunca atendeu a uma demanda dessas proporções. O enfrentamento do problema, nas dimensões e ritmo por ele impostas, exige um engajamento das instituições por meio de uma nova abordagem das prioridades e de nossa visão de futuro”, acrescenta.
“O futuro é hoje. Temos de rever o que foi feito no passado e como essas coisas foram feitas, a fim de não reproduzirmos procedimentos danosos à vida”, afirma o professor Herling Alonzo, da área da Saúde Coletiva da Unicamp. Segundo ele, impactos graves da emergência climática na saúde das pessoas já podem ser sentidos.
A arquiteta e professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) Gabriela Celani - que coordena o componente físico-espacial do HIDS, distrito inteligente de Campinas do qual fará parte a Fazenda Argentina - defendeu o modelo proposto pela Comissão.
Celani lembrou exemplos semelhantes ao HIDS em execução no exterior, como o de Paris-Saclay, na França. Ali, além das florestas e corredores ecológicos, algumas áreas agrícolas tradicionais também foram tombadas de maneira permanente, garantindo a manutenção da permeabilidade do solo e da memória da vocação histórica da região. Disso resultou o adensamento adequado do espaço, o desenvolvimento local ligado à sustentabilidade integral e o respeito aos interesses da comunidade científica e da população local.
Outras iniciativas
Para o reitor, a preocupação com a questão ambiental “está disseminada por toda a Universidade”. Ele mencionou algumas iniciativas já em andamento, como o programa Campus Sustentável, parceria com a CPFL; o programa de redução de emissões de gás de efeito estufa, firmado com a Comgás; o projeto de Biogás, desenvolvido com a Shell, e o início do processo de implantação dos corredores ecológicos na Fazenda Argentina.
“O caminho é esse. A Universidade deve trabalhar para construir soluções”, disse, garantindo apoio às propostas da Comissão.
A coordenadora geral da Universidade Maria Luiza Moretti, sugeriu introduzir no texto a atenção às migrações em sua relação com as mudanças climáticas, notadamente no que se refere à saúde.
“O que mais nos anima é percebermos as convergências entre o que pensa a Reitoria e o que o propõe a Comissão", disse a professora Sônia Seixas, que assumirá a presidência da Comissão a partir de 1º de junho.