O programa da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, que prevê um mutirão de cirurgias eletivas represadas pela pandemia do coronavírus, deverá testar um novo modelo de atendimento com apoio de equipes de saúde do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp.
A reitoria da Universidade e a DRS-7 (Diretoria Regional de Saúde) discutiram, proposta que prevê o deslocamento de equipes do HC a cidades pertencentes às divisões regionais de saúde atendidas pelo hospital. As equipes fariam, nos locais, cirurgias classificadas como de média complexidade.
A ideia é reduzir a fila de cirurgias e reservar o HC para atendimentos de alta complexidade, respeitando sua vocação original, explicou o reitor da Unicamp, Antonio Meirelles. Na segunda-feira (6/6), ele se reuniu com a nova diretora da DRS -7, Fernanda Vasconcelos, para discutir o assunto. A DRS-7 congrega 42 municípios.
Segundo Vasconcelos, com o mutirão, a Secretaria Estadual de Saúde pretende realizar, em quatro meses, ao menos 70 mil cirurgias eletivas na região. Deverão ser incluídos no programa instituições da rede pública de saúde, hospitais filantrópicos e, pela primeira vez, hospitais particulares. O mutirão começou no dia 1º de junho em hospitais filantrópicos e conveniados ao SUS e chegará aos hospitais privados em julho.
"O governo do Estado irá pagar uma tabela do SUS a mais para os serviços que optarem pelo mutirão, que será financiado pelo município por meio do Fundo Estadual da Saúde", explicou a diretora da DRS-7.
O novo modelo
A coordenadora de Assistência do HC da Unicamp, Elaine Ataide, detalhou o projeto. "Nossa ideia é fazer uma parceria com médicos e docentes do HC, que, em um primeiro momento, iriam com os residentes de cirurgia geral até as cidades para fazerem procedimentos de nível secundário, como cirurgias de hérnia e de vesícula".
Segundo a coordenadora, mesmo com profissionais disponíveis para as cirurgias, frequentemente faltam leitos para internação para esse tipo de paciente no HC. Já em outras cidades da região, há infraestrutura e leitos disponíveis, mas falta pessoal para realizar as cirurgias.
"Trabalhamos com uma enfermaria com mais de 100% de demanda. Temos pacientes aguardando para serem internados. Não conseguimos interná-los para cirurgia aqui, mas na sua cidade de origem, sim. Acredito que a parceria poderá ser frutífera", disse.
Se o projeto-piloto der certo, o procedimento poderá tornar-se permanente. Ataide garante que não haverá desfalques nas equipes do HC. "Os mutirões seriam realizados aos finais de semana, com uma equipe que não estaria de plantão", explica.
Aumento da capilaridade da universidade
Para o diretor executivo da Área da Saúde da Unicamp, Oswaldo Grassiotto, o mutirão de cirurgias eletivas é hoje uma necessidade, e a colaboração da universidade nesse âmbito é central. Porém, haveria mais a ser feito.
"O mutirão responde à crise desencadeada pela Covid, mas também sinaliza uma linha de atuação que aumentaria a capilaridade da universidade junto aos outros municípios", disse. Segundo ele, o HC trabalha atualmente com 120% de sua capacidade."A ideia é irmos a hospitais qualificados da região semanalmente, ou quinzenalmente", acrescentou.
Segundo Grassiotto, a ação se integraria ao projeto de extensão da universidade, sem ampliar sua estrutura, que já está comprometida. "Vamos analisar com cuidado a viabilidade dos deslocamentos de equipe junto à comissão de residência e aos conselhos dos hospitais. Queremos conhecer a exata abrangência da demanda e o tempo a ser dedicado a isso", acrescentou.
Reorganização da estrutura de saúde
Segundo o reitor, a possibilidade de equipes do HC atuarem em hospitais de média complexidade da região converge com a proposta de uma nova articulação do complexo de saúde da Unicamp, que deve se concentrar na alta complexidade. “Avaliaremos a proposta com cuidado, mas já anuncio a disposição de atender essa demanda, que também fornece possibilidades adicionais de formação aos nossos residentes", concluiu.
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