A Unicamp inaugurou nesta terça-feira (28) o mais moderno Instituto de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU) do Brasil. Instalado em uma área de 11 mil m² no campus de Barão Geraldo, em Campinas, o centro também irá abrigar setores de ensino e pesquisa, em um modelo inédito no País.
“É um orgulho para a Unicamp um instituto como esse, único na América Latina. Não há meia dúzia desses em todo o mundo”, disse seu diretor, Agrício Crespo, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. “O prédio é inteiramente dedicado às doenças da cabeça e pescoço, surdez profunda e câncer de cabeça e pescoço”, explicou.
O IOU foi planejado para realizar anualmente 200 mil consultas médicas, 88,6 mil exames de apoio diagnóstico e 4,3 mil cirurgias. Será o principal centro médico-hospitalar para uma população estimada de 7 milhões de habitantes de 90 cidades da região de Campinas.
“Além de centro de assistência, o IOU também é um centro de formação de recursos humanos qualificados. Nosso laboratório de treinamento de cirurgias de alta complexidade será referência para toda a América Latina”, garante Crespo.
O Instituto foi idealizado pela Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Unicamp, pioneira na cirurgia do câncer de laringe por método minimamente invasivo. Como hospital-escola, receberá aproximadamente 130 estudantes de medicina e fonoaudiologia da Unicamp por ano, além de residentes de todo o país.
“Seremos também um centro de pesquisa por meio do nosso laboratório de genômica, que se dedicará à genética da surdez profunda e ao câncer de cabeça e pescoço. Neste tipo de pesquisa, o IOU terá relevância internacional”, prevê o professor.
“Teremos 70% de atendimento de pacientes do SUS e 30% de pacientes privados, como a lei permite, e como fazem o Instituto do Coração em São Paulo e tantos outros. Mas a renda gerada pelo atendimento da saúde suplementar será inteiramente revertida para a melhoria do atendimento do SUS. É uma instituição sem fins lucrativos”, explica.
Reitor
“O IOU não é apenas um orgulho para a Universidade, ele é a prova da nossa intensa relação com a sociedade”, disse o reitor da Unicamp, Antonio Meirelles. Para ele, o IOU poderá inspirar inovações no setor de saúde.
“Queremos pensar a saúde não apenas como assistência ou atendimento, queremos um projeto que reúna também empresas da área de equipamentos hospitalares e de desenvolvimento de medicamentos. Vemos na Universidade a organizadora de uma grande atividade de inovação, com estruturas assistenciais e também empresas inovadoras”, explica.
“O IOU é o primeiro dos nossos desafios de fazer a diferença na assistência pública, aproximando a inovação das necessidades da população”, finalizou.
Presente na inauguração, o governador Rodrigo Garcia informou que foram investidos R$ 33 milhões na construção do Instituto que, segundo ele, o custeio será feito pelo governo estadual. “Estamos destinando R$ 12 milhões para o início de operação do Instituto. Esperamos que a partir do segundo semestre ele passe a atender a população da região”, disse Garcia.
Na cerimônia de inauguração, também estiveram presentes o secretário estadual de Saúde, Jean Gorenstein, e o prefeito de Campinas, Dário Saadi, além de prefeitos de cidades da região e deputados estaduais e federais.
Ministério Público do Trabalho
Os recursos para a construção do IOU tiveram origem em uma das maiores tragédias ambientais do Brasil, conhecida como “Caso Shell”. A justiça constatou a negligência das empresas na proteção dos trabalhadores de uma fábrica de agrotóxicos em Paulínia, região metropolitana de Campinas, entre 1975 e 1993. Em 2013, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) homologou o maior acordo da história da Justiça do Trabalho do país - R$ 200 milhões -, celebrado entre o MPT, a Raízen Combustíveis (Shell) e a Basf.
A conciliação encerrou a ação civil pública movida pelo MPT em 2007.
Mais de mil pessoas se beneficiaram do acordo, que abrangeu os trabalhadores contratados pelas empresas, terceirizados e autônomos que prestaram serviços a elas, e os filhos de todos eles nascidos durante ou após a execução do trabalho na planta.
“Concluímos hoje a última inauguração dos nossos projetos. Fizemos cinco prédios, dois barcos-hospitais e duas lanchas já em operação no Amazonas, atendendo ribeirinhos, indígenas e quilombolas”, disse o Procurador do Trabalho, Ronaldo Lira.
O Centro Infantil de Investigações Hematológicas Dr. Domingos Boldrini e a Fundação de Pesquisas Médicas de Ribeirão Preto (Fupeme) também receberam verbas indenizatórias do Caso Shell.
Juíza
A juíza Maria Inês Targa, que iniciou a ação indenizatória, compareceu à inauguração do IOU e, em discurso emocionado, lembrou as pessoas que morreram ou tiveram danos severos à saúde devido ao contato com material contaminante.
“Recebo a homenagem com emoção, mas não em meu nome, e sim no das 62 pessoas que morreram", disse. “Foram 62 pessoas que faleceram no curso da ação judicial. Muitas delas foram minhas reclamantes na Vara do Trabalho. Com o passar do tempo, percebia que eram suas famílias que vinham às audiências. E, com elas, eu chorava também”, revelou.
A ação aberta pelo MPT tramitou na Vara de Paulínia e depois, em 2º grau, no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas, antes de ser finalizada no TST.
IOU em números
200 mil consultas médicas/ano
88.668 exames de apoio diagnóstico/ano
4.320 cirurgias de portes variados/ano
7.000 m2 de construção, em terreno de 11.000 m2
30 consultórios médicos e para terapias complementares
18 estações de treinamento em cirurgias videoendoscópicas e microcirurgias
4 salas de cirurgias
10 salas de procedimentos especializados
Confira imagens das instalações do IOU: