A residência artística de Antonio Nóbrega no Instituto de Estudos Avançados (IdEA) tem trazido reflexões importantes para suas pesquisas sobre a cultura popular e mobilizado professores, alunos e pesquisadores de outros Estados. Em entrevista ao Portal da Unicamp, o músico, dançarino, compositor e ator pernambucano descreve como as atividades na Unicamp influenciam o processo de escrita de um livro sobre o universo cultural brasileiro e fala sobre a participação do público nas palestras e oficinas.
Professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp entre 1985 e 1991, Nóbrega avalia como muito positiva a resposta do público até agora ao ciclo de palestras “Brasisbrasil” e às oficinas de poesia e dança realizadas, entre março e junho. O artista residente do IdEA adaptou o conteúdo e as práticas para contemplar uma audiência mais ampla.
“Essa residência artística provocou em mim um aprofundamento de temas, reflexões e interpretações. Ela agudizou a necessidade de tentar ir mais fundo. Tenho um público atento, que me cativa, principalmente nas oficinas”, elogia. “O confronto com o público, as perguntas, me faz revisitar conceitos e considerações, o que está sendo muito rico.”
Transcorrida metade da agenda do Programa “Hilda Hilst” do Artista Residente, Nóbrega, que completou 70 anos em maio, tem pela frente mais seis palestras e quatro oficinas, divididas em dois temas: teatro e música. Para os encontros teóricos, promovidos quinzenalmente no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), ele tem adaptado o conteúdo de um livro que está escrevendo, que terá o mesmo nome do ciclo de palestras.
“Esse ciclo, que chamei de ‘Brasisbrasil’, foi uma forma de apresentar capítulos do meu livro. Não são tantos encontros que me permitam apresentá-lo por inteiro, mas já me ajudou a aprofundar a reflexão.” A obra é resultado de décadas de investigações sobre o universo da cultura popular, em trabalhos de campo no país e no exterior e em extensas pesquisas bibliográficas.
O programa de atividades foi composto por duas aulas iniciais (“Origens, formação e desenvolvimento do mundo cultural popular brasileiro”, dias 15 e 29/3), duas aulas sobre poesia (“Da quadra ao galope beira-mar”, 12 e 26/4) e duas sobre dança (“Com passo sincopado: teoria e prática de uma linguagem brasileira de dança”, 31/5 e 14/6). O próximo tema, o teatro, começaria no dia 28, mas as atividades foram adiadas porque Nóbrega teve contato próximo com casos confirmados de Covid-19, embora mantenha-se assintomático.
As próximas atividades serão sobre o tema “Dos terreiros e reiseiros ao cavalo-marinho” (12 e 26/7). A programação abordará, depois, a música, com duas palestras e duas oficinas sobre “O imaginário musical popular brasileiro” (9 e 23/8), e será concluída com duas palestras intituladas “Brasisbrasil”, ambas em 6/9, pela manhã (10h às 12h) e à tarde (das 14h30 às 16h30). Para a professora Gracia Navarro, do Departamento de Artes Cênicas do IA, ex-aluna de Nóbrega, a oficina de dança teve um significado especial de reencontro, pois ele foi o primeiro docente que a despertou, ainda na graduação de dança, em 1987, para a riqueza das danças populares brasileiras. “As aulas são de altíssimo nível, mas simples. Ele consegue trazer toda a complexidade da movimentação e transmite isso com muita lógica. As pessoas captam rapidamente todo o material que ele está trazendo para a Unicamp.” A docente tem acompanhado parte da programação e chegou a trazer uma turma de alunos para assistir a uma das palestras.
Diversidade regional
O ciclo de atividades do Programa “Hilda Hilst” do Artista Residente atraiu interessados de outros Estados. Entre eles, a doutoranda potiguar Emanuelle dos Santos, professora de educação física em Imperatriz (MA), de onde veio em uma viagem de ônibus que durou dois dias. Ela faz pesquisa em educação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte sobre o corpo na arte do brincante Antonio Nóbrega.
“Aprendemos muito nas palestras, porque é o olhar de um artista-pesquisador, um artista que produz sua arte e ressignifica o universo da cultura popular a partir de uma linguagem própria”, disse a doutoranda. “Ele dá visibilidade a artistas da tradição popular e consegue enxergar quão rica ela é.” Para ela, é importante esse resgate dos artistas populares, por meio da poesia, da música ou da dança na obra de Antonio Nóbrega. “Participar das oficinas foi como realizar um sonho.”
Outro participante, o professor de artes Rodrigo dos Santos, vem quinzenalmente do Paraná para acompanhar as atividades. Segundo ele, as palestras e, principalmente, as oficinas, estão superando as expectativas. “Nas aulas das manhãs, mais teóricas, há muita coisa que não conhecia, mesmo tendo já pesquisado o assunto, pois a cultura popular perpassou as três graduações que fiz.” Envolvido no ambiente familiar com a dança e a música, ele dedicou sua formação superior às artes visuais e busca trabalhar a cultura popular na sala de aula, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio, incentivando seus alunos a conhecerem as manifestações artísticas brasileiras.
“Brasisbrasil – ciclo de encontros com Antonio Nóbrega segue até setembro no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). As aulas estão sendo gravadas e disponibilizadas na página do YouTube do IdEA . As oficinas podem ser acompanhadas apenas de forma presencial. Os interessados ainda podem se inscrever para as duas últimas oficinas, sobre “O imaginário musical popular brasileiro” (26/7 e 9/8).
Assista ao vídeo produzido pela TV Unicamp: