A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a suspensão cautelar da importação, produção, distribuição e comercialização do carbendazim, agrotóxico amplamente utilizado no país para combater fungos em plantações de feijão, arroz, soja, frutas cítricas e outras culturas agrícolas.
O processo de reavaliação toxicológica desse fungicida foi iniciado em 2019, mas apenas agora, diante de diversos estudos que apontam o seu risco para a saúde humana e para o meio ambiente, sua utilização foi suspensa pela Anvisa. Segundo o professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp José Luiz da Costa, coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CiaTOX), apesar de estar entre os 20 agrotóxicos mais utilizados no Brasil, o carbendazim é proibido em países da Europa, na Austrália e nos Estados Unidos há muitos anos. “O banimento acontece nesses países por causa da suspeita do carbendazim de ser carcinogênico e de causar embrofetotoxicidade, ou seja, recai sobre ele a suspeita de causar câncer e de alterar a reprodução”, contextualiza o professor.
No Brasil, o registro de um agrotóxico não tem prazo de validade. A última avaliação do carbendazim, por exemplo, já tem mais de 20 anos. Nesse período, as pesquisas científicas sobre o fungicida avançaram, trazendo novas evidências para o debate.
A professora do Instituto de Química (IQ) e coordenadora do Laboratório de Química Ambiental, Cassiana Montagner, tem realizado diversos estudos com o fungicida, com foco na detecção de resíduos do agrotóxico na água. “O carbendazim tem sido encontrado em diferentes rios e mananciais, de diferentes regiões do Brasil, em concentrações pequenas se considerado seu uso, mas que causam efeitos especificamente para a biota aquática”, explica. Para a pesquisadora, o país libera muitos agrotóxicos, mas não realiza o monitoramento adequado de seus impactos no meio ambiente. “Nossos estudos estão entre os poucos no Brasil sobre a ocorrência e a dinâmica do carbendazim para a saúde da vida aquática”, avalia.
Após a suspensão cautelar, foi aberta uma consulta pública para subsidiar as discussões sobre o banimento definitivo do agrotóxico. Contribuições podem ser feitas até o dia 11 de julho, pelo site da Anvisa.
*Atualização: A proibição definitiva do carbendazim no Brasil foi aprovada pela Anvisa em 08 de agosto de 2022 por unanimidade.
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Produção, reportagem e edição de áudio: Juliana Franco
Edição de imagem: Renan Garcia
Edição de vídeo: Kleber Casabllanca
Imagem de capa: Edmarjr/Commons Wikimedia