Escola de Verão proporciona imersão na cultura grega para pesquisadores da Unicamp

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Terminou, em junho, a primeira Escola de Verão Brasileira na Grécia, iniciativa do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp em parceria com o arqueólogo grego Yannos Kourayos, curador do Museu Arqueológico de Paros. O curso levou um grupo de 11 pessoas, entre alunos de graduação e pós-graduação e professores da Unicamp, para uma temporada de três semanas em cidades importantes da Ática, do Peloponeso e das ilhas Cíclades, incluindo duas semanas de escavações no sítio arqueológico de Despotiko. Os objetivos de engajamento de pesquisadores de estudos clássicos foram alcançados com sucesso por meio dessa imersão na cultura grega, e os participantes consideraram enriquecedores a experiência de pesquisa e o contato com a prática arqueológica.

O ciclo de palestras e as visitas a museus, bibliotecas e templos da Grécia antiga permitiu um primeiro contato com a cultura material grega aos brasileiros das áreas de letras, filosofia, história e arqueologia, antes em geral restritos às pesquisas bibliográficas. A Escola de Verão teve o apoio do Programa de Pós-Graduação em Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e da Embaixada do Brasil em Atenas, onde foram realizadas parte das aulas do curso.

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Em Despotiko, a pesquisa só pode ser realizada no verão, quando o calor é intenso, e a ilha não dispõe de infraestrutura, o que torna mais árdua a tarefa de remoção de terra

Uma primeira etapa de formação na Unicamp, em abril, precedeu a viagem do grupo à Europa. O ciclo de palestras “Inovação e Tradição no Período Arcaico Grego: História, Arte e Arqueologia”, com a arqueóloga Erica Angliker, do Danish Institute of Mediterranean Studies (DIOMEDES), foi promovido na sede do IdEA, com duração de três dias em modelo híbrido, presencial e remoto. Angliker, uma das organizadoras da Escola de Verão, é pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Ela também é afiliada ao Centro de Teoria da Filologia (CTF), grupo de estudos liderado pela professora Isabella Tardin Cardoso, coordenadora adjunta do IdEA.

“O grupo estava bem integrado, o que proporcionou uma dinâmica fácil. A pandemia dificultou o trabalho, mas tudo ocorreu bem e ficamos bastante satisfeitos”, avaliou Angliker. A programação teve início com duas manhãs de palestras na Embaixada Brasileira em Atenas, com os professores da Unicamp e convidados gregos, visitas a museus e sítios arqueológicos. O grupo conheceu três regiões: a Ática, uma parte das ilhas gregas – como Paros, Delos e Despotiko – e o Peloponeso. Por fim, hospedaram-se por duas semanas na ilha de Antíparos, de onde se deslocavam para as ruínas de Despotiko.

O arqueólogo Yannos Kourayos iniciou, em 2000, uma busca sistemática de vestígios da Antiguidade grega em Despotiko. Nessa pequena ilha desabitada, de cerca de oito quilômetros quadrados, Kourayos descobriu as ruínas de um santuário dedicado a Apolo, além de mais de 20 edificações e uma grande coleção de artefatos. A reconstrução do santuário do período arcaico no local começou 14 anos depois, a fim de constituir um parque arqueológico que reacendesse o interesse pela cultura das ilhas Cíclades. Ministro regional do Ministério da Cultura e Esporte da Grécia em Paros, Kourayos chefia a equipe científica de Despotiko, com apoio da arqueóloga Kornilia Daifa.

Sucesso sob o sol escaldante

O trabalho de escavação arqueológica requer força e disposição física sob condições muitas vezes extenuantes. No caso de Despotiko, a pesquisa só pode ser realizada no verão, quando o calor é intenso, e a ilha não dispõe de infraestrutura, o que torna mais árdua a tarefa de remoção de terra com pás, picaretas e carriolas. Os voluntários brasileiros atuaram em todas as fases do trabalho arqueológico, como a limpeza, a manutenção, a organização inicial e a escavação.

Apesar de o sítio de Despotiko ser conhecido pela abundância de vestígios materiais da Antiguidade, o resultado das escavações superou as expectativas, pois foram encontrados fragmentos de cerâmicas raras, de grandes vasos com decorações geométricas, e até mesmo partes da perna de uma estátua de mármore. Usualmente, são descobertos no local frações de recipientes cerâmicos menores e sem adornos, empregados no dia a dia para armazenamento de alimentos ou azeite.

Para Isabella Tardin Cardoso, a Escola de Verão Brasileira na Grécia foi muito bem-sucedida, tendo proporcionado a muitos dos alunos a sua primeira experiência de formação fora do Brasil. Além das atividades já mencionadas, Cardoso considera importante o contato com autoridades e diplomatas na Casa do Brasil na Grécia, que recebeu a comitiva acadêmica brasileira na sede da Embaixada, em Atenas.

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No sentido horário, professora Patrícia Prata (IEL); coordenadora adjunta Idea, Isabella Tardin Cardoso; grupo de alunos e professores e a arqueóloga Erica Angliker: três semanas de trabalho

O grupo era composto por dois professores do IEL, Patrícia Prata e Flávio de Oliveira, e nove alunos de cursos diversos. Sete deles foram contemplados com bolsas de um convênio entre o IdEA e o Santander Universidades. “Essas bolsas foram fundamentais para viabilizar a participação dos alunos. Sem elas, muitos certamente não poderiam ir, já que tiveram agora sua primeira experiência no exterior, essencialmente relacionada à sua área de pesquisa”, estimou Tardin Cardoso, lembrando que os estudantes apresentaram recomendações de seus orientadores para participarem do processo seletivo e agora poderão divulgar os resultados.

A mestranda do IEL Mônica Venturini, estudante de poesia e religiosidade no mundo antigo e contemplada com a bolsa, classificou a experiência como “transformadora”, tanto em âmbito acadêmico quanto pessoal. “É impossível quantificar a expansão dos meus horizontes – de pesquisa, de projetos de vida – depois do que experenciamos nos lugares em que estivemos”, ponderou. “Também reforço que o trabalho foi árduo; uma escavação arqueológica não é uma atividade glamurosa: é terra, é suor, é força física pura.”

Graduando em história pelo IFCH, Sidnei de Oliveira Junior também foi beneficiado com uma bolsa, indispensável não apenas para sua primeira experiência no exterior, mas sua primeira viagem para fora do Estado de São Paulo. Aluno de iniciação científica na área de história antiga, ele estuda o reino de Pérgamo, na atual Turquia. O contato com a arqueologia na Grécia foi revelador. “A escavação esclareceu minhas visões sobre minha pesquisa de iniciação científica. Lido com coleções históricas formadas a partir de escavações arqueológicas. Observar o processo de constituição de uma coleção museológica me deu uma nova perspectiva para analisar meu objeto de estudo.”

O aprendizado acadêmico foi o ponto alto da experiência para a professora Patrícia Prata, com destaque para o trabalho no sítio arqueológico e a interação com profissionais e voluntários de diversas áreas e nacionalidades. Trabalhar nas escavações transformou os participantes em agentes da prática arqueológica, descobrindo e manuseando peças que normalmente só podem ser apreciadas em museus, sob a mediação de um vidro ou separados por uma corda de isolamento, destacou Prata.

“A experiência possibilitou-me contato direto com a cultural material, não só sua observação em museus e sítios arqueológicos. A partir dela, terei novas práticas em sala de aula – poderei enriquecer as aulas estabelecendo conexões entre o conteúdo previsto nas disciplinas e a cultura material –, bem como em minha própria pesquisa, já que a escavação possibilita a vivência in loco de meu objeto de estudo – em sentido mais amplo, a Antiguidade”, explicou a docente de latim, vinculada ao Departamento de Linguística.

Além de Despotiko, os voluntários consideraram notáveis as visitas à Biblioteca Gennadius, na Escola Americana de Estudos Clássicos, em Atenas, com um grande acervo de manuscritos e obras raras; ao santuário de Apolo, no sítio arqueológico da ilha de Delos; ao Menelaion, próximo a Esparta; ao Museu Arqueológico de Atenas e ao Partenon, na acrópole da capital grega.

Flávio de Oliveira, professor de grego no Departamento de Linguística do IEL, elogiou a iniciativa por ter possibilitado aos estudantes um aprofundamento na cultura grega sob a orientação de especialistas. “O fato de a Unicamp propiciar essa experiência formativa a seus alunos está de acordo com nosso modelo de universidade pública popular, democrática e inclusiva – uma universidade que investe tanto na formação científica como na formação humanística de seus alunos”, defendeu o professor. “Nestes tempos de desgoverno e de asquerosa barbárie política que vive o Brasil, é auspicioso constatar que a universidade pública continua a cumprir a sua missão principal: promove igualmente a ciência e os valores humanísticos, formando profissionais que serão, também, bons cidadãos.”

A partir de setembro, o IdEA irá oferecer uma série de palestras complementares ao curso oferecido aos participantes da Escola de Verão, que serão virtuais e abertas ao público em geral, mediante inscrição. Os detalhes e o formulário para os candidatos serão divulgados em breve no site do Instituto. Enquanto esboça as propostas para a segunda edição da Escola de Verão, em 2023, a organização do evento acerta os detalhes de uma exposição, com fotos da expedição inaugural, a ser realizada na Unicamp no segundo semestre de 2022.

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Escola de Verão levará pesquisadores da Unicamp para escavação arqueológica na Grécia

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Inovação e Tradição em Paros Arcaico

As esculturas do Partenon no contexto da narrativa curatorial do Museu da Acrópole

Centro de Teoria da Filologia

Confira imagens da Escola de Verão Brasileira na Grécia: 

O curso levou um grupo de 11 pessoas para uma temporada de três semanas em cidades importantes
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Alunos e professores participaram em junho de atividades que incluíram descoberta de peças raras em escavação arqueológica

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004