Uma exposição com desenhos marca a aposentadoria do médico, professor da Faculdade de Medicina da Unicamp (FCM), Jorge Paschoal. A mostra “Campos vicejantes” abre amanhã, dia 22, às 11h, no segundo piso do Instituto de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça & Pescoço (IOU), e segue até o dia 14 de agosto. São 30 obras do médico otorrinolaringologista que dedicou mais de 50 anos aos pacientes do Hospital de Clínicas e aos alunos da FCM. “Sempre gostei muito de ensinar e, como nunca tive aptidão para a pesquisa, fiz do Hospital e da clínica o meu laboratório. Vou sentir falta. Sinto uma alegria permeada de melancolia”, disse o médico.
O interesse pela Medicina surgiu ainda na infância. “Eu venho de uma família simples, praticante do Metodismo. Quando li meu primeiro livro, sobre a vida do missionário escocês David Livingstone, nos primórdios da minha alfabetização, decidi que queria ser médico e missionário”, contou. Paschoal iniciou seus estudos quando o curso de Medicina ainda funcionava na Maternidade de Campinas. A sua turma, de 1968, foi a primeira a ter aulas no campus em Barão Geraldo. Com pouco apoio financeiro dos pais, ele trabalhou e estudou ao mesmo tempo durante a graduação. “Toda a minha formação aqui na Unicamp me formou não só como médico, mas também como cidadão”, disse.
Medicina como missão - Em 1975, ao final da sua residência e recém-contratado como professor da FCM, Paschoal viveu momentos de profunda insatisfação pessoal. “Tinha a impressão de que me faltava um sentido na vida, algo que se relacionava com questão missionária a que me propusera na infância", relembra. "Essa fase foi superada em um dia, ao caminhar pelos corredores da Santa Casa de Campinas, quando entendi que ali seria o local do meu ministério, da minha missão. Entendi que eu poderia ser um missionário aqui mesmo”, lembrou.
O artista – Foi ainda durante a graduação em Medicina que seu interesse pelas artes amadureceu. Juntamente com um pequeno grupo de amigos, Paschoal passou a frequentar a casa do pintor campineiro Egas Francisco, que ele considera seu grande mentor. “Como professor de arte, Egas tem um perfil raro. Respeitando o trabalho do aluno, orienta na composição e na exploração dos recursos que ele esteja usando: tinta, lápis...”, afirmou. A amizade e a admiração entre os dois seguem até hoje e se expressam na grande coleção de pinturas e desenhos de Egas Francisco que Paschoal mantém em um espaço no bairro Cambuí, em Campinas, a Galeria Outrora.
A galeria viu o acervo crescer justamente no período da pandemia, que, para ele, foi uma experiência ao mesmo tempo dolorosa e enriquecedora. “No isolamento, eu pude fortalecer ainda mais minha ligação com a arte e com a escrita”, disse. Seu processo de criação não obedece a regras ou planejamento. “Eu costumo dizer que desenho por desenhar, é tudo bastante aleatório”, complementou. Os trabalhos expostos no IOU, parte deles produzida na pandemia, mostram isso. São uma pluralidade de cores, formas, motivos e emoções, sempre utilizando a técnica pastel oleoso, embora Paschoal também trabalhe com grafite. Conforme explica Jardel Dias Cavalcanti, doutor em História da Arte pela Unicamp, na obra de Paschoal, “não existe um plano fixo para a criação dos desenhos. As figuras emergem da textura do lápis, ganhando vida, movendo-se ou organizando-se a partir das massas oleosas que imprimem peso, densidade material ou uma vaporosa existência transubstancial nelas”.
Vicejando – Paschoal se despede da rotina de aulas e clínica no hospital, mas não de sua ligação com a Unicamp. Quatro obras da exposição “Campos vicejantes” serão doadas pelo médico para o IOU. A escultura em frente ao novo hospital, intitulada "A Cura", de autoria de Paulo Roriz, também foi doada por ele.
A partir de agora, a arte deve ocupar ainda mais espaço na vida do médico. Além de dedicar mais tempo aos lápis e pinceis, um de seus projetos é catalogar o acervo da Galeria Outrora, de grande valor histórico e artístico e que inclui obras de artistas de Campinas e de outros locais, tais como os escultores Lelio Coluccini e Victor Brecheret e o pintor e desenhista José Ferraz Pompeu, que dedicou vários trabalhos às paisagens e cenas campineiras. Esse projeto deve render um site na internet, um catálogo impresso e algumas exposições, uma delas somente com obras de Egas Francisco.
Serviço
Lançamento da Exposição Campos Vicejantes (após o lançamento, a mostra poderá ser visitada mediante agendamento pelo WhatsApp: (19) 97116-2401).
Autor: Dr. Jorge Paschoal
Obras: 30 desenhos em pastel oleoso
Local: Instituto de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça & Pescoço – IOU, no átrio do 2º piso
Data: 22 de julho, às 11h
Endereço: Av. José Roberto Magalhães Teixeira, 150, Cidade Universitária – Unicamp