Lideranças indígenas que participam do IX Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (ENEI), realizado na Unicamp, foram recebidos na tarde desta quinta-feira (28) pelo reitor Antonio Meirelles. Entre os líderes, estava a cacique Guarani-Kaiowá, Valdelice Veron, que fez um apelo pelo fim da violência contra os povos originários no Brasil.
O grupo agradeceu ao reitor pelo apoio dado pela Universidade ao evento – que desde terça-feira (26) reúne perto de 2 mil estudantes indígenas de várias regiões do país no campus de Barão Geraldo, em Campinas.
O estudante de engenharia elétrica Arlindo Baré, da região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, contou ser aluno da primeira turma de estudantes indígenas da Unicamp. “Três anos depois do Vestibular, nós percebemos que a luta do indígena para ocupar os espaços nas universidades cresceu muito na Unicamp. A impressão é que cresceu mais do que em outras universidades”, disse ele. “Acredito que, em 10 anos, a Unicamp vai ser referência nacional de modelo de inclusão do estudante indígena. E acredito que o modelo que vem sendo aplicado aqui, será repetido em outras universidades”, acrescentou.
Em 2017, quando foi aprovada a Lei de Cotas Étnico-Raciais na Universidade, havia 40 estudantes indígenas nos cursos de Graduação na Unicamp. Em 2022, esse número subiu para 343.
Há cinco anos, os alunos indígenas compunham 0,22% do total de matriculados na Universidade. Este ano esse grupo representa 1,2% dos alunos.
Os líderes também pediram o aprofundamento de políticas afirmativas adotadas pela Universidade. Solicitaram, por exemplo, ações específicas voltadas para a política de permanência dos estudantes indígenas. “Nós temos diferenças culturais profundas. O estudante que chega, sente dificuldades do ponto de vista da saúde física, mas também do ponto de vista emocional”, disse a estudante Guarani-kaiowá, Kellen Vilharva. “E a Unicamp precisa estar atenta a isso”, disse ela.
Kellen agradeceu a forma como os indígenas são acolhidos na Unicamp, mas ressaltou. “A Unicamp também tem muito a ganhar com a nossa presença aqui”, disse ela.
O grupo tratou também de questões relativas à licenciatura intercultural, para a formação de jovens indígenas para exercerem a docência infantil em escolas indígenas. “A Unicamp está um passo à frente. Está no caminho certo. Agora é preciso ampliar”, disse a líder Alva Rosa Tukano, do Amazonas.
Permanência
O reitor garantiu aos líderes que as políticas afirmativas vão continuar e que os sistemas de permanência dos estudantes será mantido. “Diante de tudo o que já se caminhou, acho muito pouco provável que ocorra um recuo nessas políticas”, afirmou. “Nós queremos que as pessoas venham para cá, que permaneçam aqui e se formem. Essa é a nossa tarefa”, acrescentou o reitor. “Fico muito feliz que a Unicamp tenha tomado esse caminho [da inclusão] e queremos avançar ainda muito mais”, finalizou.