Mais de cem pesquisadores da área da Matemática estão reunidos na Unicamp para dois eventos simultâneos: a XXV Escola Brasileira de Matemática Probabilística e a Escola São Paulo de Ciência Avançada em Equações Diferenciais Parciais Estocásticas Singulares e as suas Aplicações. Pós-graduandos e professores integram a jornada de cursos e palestras que teve início no dia 2 de agosto e se encerra no dia 13. Martin Hairer, ganhador da Medalha Fields (prêmio correspondente ao Nobel da Matemática), ministrará um dos cursos ofertados.
A Escola Brasileira de Matemática Probabilística é um evento reconhecido mundialmente por sua importância. Neste ano, a edição ocorre junto à programação da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Equações Diferenciais Parciais Estocásticas Singulares e as suas Aplicações, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e que tem como pesquisador responsável o professor Christian Olivera, do Instituto de Matemática e Computação Estatística (IMECC) da Unicamp. “Esse é um programa da Fapesp para dar suporte aos congressos de ciência avançada, de alto nível, e que fortalece a internacionalização de grupos de pesquisa”, aponta o diretor do IMECC, Paulo Ruffino.
As atividades ocorrem em duas semanas, em que são ofertados minicursos e palestras. Pesquisadores de instituições de ensino como o Imperial College, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), a Universidade de Sorbonne, a Unicamp, a USP e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão entre os expositores. Mais de 120 alunos de diferentes universidades participam.
“Para o desenvolvimento da área, esse é um momento considerável e, para a Unicamp, mais ainda. A interlocução é importantíssima para fortalecer a colaboração com pesquisadores do exterior”, avalia o diretor do IMECC.
Doutorando em Matemática na Unicamp, Lourival de Lima participa do evento e reforça a importância das cooperações. “Há alguns meses, tive a oportunidade de fazer parte do meu doutorado no Imperial College of London. Foram seis meses trabalhando ativamente com o grupo de pesquisa. Essa oportunidade surgiu por conta dos encontros e dos congressos”, conta.
O pesquisador é orientado por Ruffino e co-orientado por Xue-Mei Li, com quem realizou o doutorado sanduíche no Imperial College. Xue-Mei Li está na Unicamp para o evento e é uma das palestrantes. Além disso, ela assistirá à defesa de doutorado de Lourival, que ocorre nesta quarta-feira (10).
Troca com pesquisadores prestigiados
Um dos cursos do evento é ofertado por Martin Heirer, contemplado por diversos prêmios por sua contribuição à Matemática, como a Fields Medal (2014), o Breakthrough Prize in Mathematics (2021) e King Faisal Prize (2022). Apesar da longa lista de reconhecimentos, para Hairer, esse não é o objetivo principal da sua carreira. “Claro que fiquei feliz em recebê-los, mas os prêmios não são a parte mais importante do que fazemos. Acredito que a maioria de nós faz matemática porque gosta de matemática e de compartilhar com os outros”, avalia.
Os momentos mais importantes de sua trajetória, reflete, são aqueles em que encontra soluções para problemas difíceis. “É quando se tem flashes de inspiração, e, de repente, você percebe o caminho a seguir, para depois travar novamente, e assim por diante”, brinca.
Pela terceira vez no Brasil, o pesquisador aponta o reconhecimento mundial da Escola Brasileira de Probabilística e também ressalta a importância da Escola da Ciência Avançada. “São eventos importantes para os estudantes conheceram as descobertas recentes e colegas de outros lugares. Além disso, escrever um teorema sozinho te dá satisfação pessoal de alguma forma, mas não é tão proveitoso se não é compartilhado com outros”.
A possibilidade de os palestrantes elucidarem questões de forma direta, ainda, é uma das vantagens destacadas por ele. “Ler um artigo, especialmente para estudantes, toma muito tempo e pode ser muito difícil, mesmo que o paper esteja bem escrito e que o autor explique as ideias principais em uma longa introdução. É mais difícil do que entender por meio de uma palestra, especialmente aquelas em que é possível fazer questões. É um modo mais eficiente de comunicação do que os papers, ainda que seja importante escrevê-los”.
Pesquisador da área de Estocástica, o professor do Imperial College a define da seguinte forma para o público não especializado: “É a matemática da aleatoriedade, pela qual se descreve fenômenos que podem ser aleatórios porque temos um conhecimento incompleto do que está acontecendo. Por exemplo, se você lança uma moeda, o fenômeno não é intrinsecamente aleatório, só o é por conta do desconhecimento. Se você souber as exatas velocidade, posição do dedo e posição da moeda, você pode descobrir como ela irá cair”, sintetiza.
Dessa forma, explica, a estocástica tenta oferecer as ferramentas matemáticas para descrever esses fenômenos, com especial interesse naqueles que ocorrem em escala microscópica ou molecular.
Confira algumas imagens dos eventos realizados no Centro de Convenções: