O Teatro de Arena da Unicamp foi palco, nesta quinta-feira (11), de mais um momento da história da Universidade na defesa da democracia. Professores, funcionários, estudantes e membros da sociedade civil participaram da cerimônia de leitura pública da Carta às Brasileiras e Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!, manifesto criado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e que já conta com mais de 950 mil adesões. O ato acompanhou manifestações realizadas em diversas cidades do país e foi transmitido pela TV Unicamp.
Assista ao ato público em defesa da democracia
A cerimônia foi presidida pela coordenadora-geral da Unicamp, Maria Luiza Moretti, e contou com a participação de representantes das entidades profissionais e estudantis parceiras na realização do ato: Paulo Centoducatte, presidente da Associação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp); Elisiene Lobo, da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU); Renan Oliveira, da Associação Central de Pós-Graduação da Unicamp (APG), e Michele Silva, do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Participaram também os ex-reitores da Unicamp Carlos Vogt (1990-1994), José Martins Filho (1994-1998), José Tadeu Jorge (2005-2009 e 2013-2017), Fernando Ferreira Costa (2009-2013) e Marcelo Knobel (2017-2021).
"Este é um ato que ocorre em 22 capitais do país em defesa da democracia. Democracia esta conquistada, neste país, por meio de muita luta, e rodeada de muito luto", informou Maria Luiza Moretti na abertura do evento. A primeira parte do ato foi dedicada às manifestações das quatro entidades envolvidas na iniciativa. Todos destacaram a participação dos membros da comunidade universitária na defesa da normalidade democrática e o papel dos profissionais que atuam em instituições públicas de ensino e pesquisa na ampliação da democracia.
"Não se pratica democracia sem respeito, sem responsabilidade e sem transparência", declarou Elisiene Lobo, ao lembrar o quanto os trabalhadores das universidades públicas contribuem para o estado democrático. Na mesma direção, Paulo Centoducatte ressaltou que o aperfeiçoamento da democracia passa pelas universidades e pelo trabalho da comunidade acadêmica. "Uma democracia plena deve ser estendida a todos os indivíduos, independente de raça, gênero, orientação sexual ou classe social", acrescentou.
Os representantes das entidades estudantis também reforçaram seu trabalho na produção de ciência e conhecimento. "Hoje, o movimento estudantil está nas ruas. Onze de agosto é o dia do estudante, dia histórico de luta que simboliza todos os estudantes que lutaram contra a Ditadura Militar", pontuou Michelle Silva, que reafirmou a luta pelo ensino público de qualidade, acessível e inclusivo. Ao comentar os efeitos dos cortes orçamentários em ciência e tecnologia, Renan Oliveira destacou a importância da pós-graduação para o setor no país: "Estudantes de pós-graduação se unem a esse movimento para defender a democracia".
Além da leitura da Carta em defesa da democracia, houve a leitura pública do Manifesto da Unicamp pela Democracia, iniciativa liderada por professores eméritos da Universidade, que destacou o histórico da Unicamp na luta contra o autoritarismo e os desvios do regime democrático. O texto foi lido por Andreia Galvão, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
"Na longa noite de arbítrio e autoritarismo que se abateu sobre o país, a Unicamp buscou, pois, resistir às tentativas de controle e subordinação aos objetivos políticos e estratégicos defendidos pelos dirigentes da ditadura militar, seja no plano federal, seja no plano estadual. Com destemor e firmeza, a Universidade procurou manter sua autonomia acadêmica e científica, bem como sua independência política e ideológica diante das frequentes ameaças, vindas de agentes e aparelhos da ditadura militar", afirma o texto.
O manifesto também mencionou contribuições recentes da Unicamp para a ciência e a democracia, como no contexto da pandemia de Covid-19. "Ao defendermos, de forma resoluta, a democracia política no país, não podemos deixar de reafirmar nosso compromisso com a efetivação de políticas públicas que, no próximo governo federal, enfrentem as profundas desigualdades sociais e as discriminações de todas as espécies, bem como se comprometam com a defesa do ensino público, gratuito e de qualidade no Brasil". Leia o texto na íntegra.
Antes da leitura da Carta em defesa da democracia, feita por Rodolfo Ilari, professor emérito, e Silvia Santiago, diretora-executiva de Direitos Humanos da Unicamp, ex-reitores da universidade compartilharam suas memórias e vivências na gestão da universidade e na manutenção de seu compromisso com a ciência, ensino e democracia. As lembranças despertaram a emoção e o sentimento de comprometimento de toda a comunidade com o estado democrático. Eles também relataram experiências profissionais e pessoais no período da Ditadura Militar, e afirmaram o quanto o regime democrático é essencial. "Não podemos modificar o passado, mas também não podemos esquecer aquilo que ele nos ensinou e que está vivo nas lembranças, na escrita e nos livros. Estamos interligados a esta universidade, este grupo não está aqui por acaso. Temos ligações e lembranças que nos trazem a este momento", salientou Maria Luiza Moretti.
Na sequência do ato, o público pôde acompanhar a transmissão da leitura pública feita em São Paulo, no Pátio das Arcadas da Faculdade de Direito da USP.
Depoimentos dos ex-reitores da Unicamp:
"O mal é cruel em sua banalidade e banal em sua crueldade. Estamos em um outro estágio da maldade contingente e substantiva, aquele em que a banalidade do estado alegado do cumprimento de ordens superiores se passa pelo exercício debochado do prazer de cumprir essas ordens. Fora o mal! Fora os predadores das instituições democráticas e da democracia!"
"A Unicamp não só se posiciona e luta pela democracia, mas vive a democracia. Todos nós, ex-reitores, fomos eleitos democraticamente. Sinceramente, fico muito feliz que a Unicamp honre a história democrática que sempre teve. Não me lembro de nenhum momento em que não tenhamos nos manifestado abertamente, sem medo e de forma democrática"
"Quando vemos manifestações contrárias à democracia, ao Estado de Direito, à educação, à ciência, à cultura e à Universidade, é hora de tomarmos uma posição clara e inequívoca. É com grande esperança e orgulho que vemos manifestações como esta na Unicamp hoje"
"É natural que a Universidade se posicione para defender a sua essência democrática e talvez o principal valor sobre o qual ela se ancora: a liberdade, fundamental para a educação como um todo. Sem democracia, não há cidadania. E a democracia só pode existir efetivamente se houver educação plena"
"São momentos como este que despertam nossa vontade de continuar lutando e trabalhando para um país melhor e mais democrático, por um futuro com menos desigualdades, mais justiça social, qualidade ambiental, com todas as qualidades que queremos para um país livre e democrático"
Veja imagens da cerimônia