Reitores das três universidades estaduais paulistas firmaram compromisso nesta quinta-feira (11), em defesa da democracia, pelas eleições livres e contra o arbítrio, em ato suprapartidário que reuniu milhares de pessoas no Largo de São Francisco, na Faculdade de Direito da USP.
O ato – que ocorreu no salão nobre da faculdade – se prolongou no pátio das Arcadas do Largo e se transformou numa manifestação nas ruas do entorno, reunindo estudantes, acadêmicos, artistas e políticos.
A manifestação foi marcada pela leitura de duas cartas em defesa da democracia. Uma delas, organizada por ex-alunos da São Francisco, recebeu a adesão de quase 900 mil assinaturas. O ato foi uma resposta aos ataques desferidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as urnas eletrônicas e o processo eleitoral.
Representando as universidades estaduais paulistas e todas as universidades públicas do estado, o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, afirmou que as instituições participaram do ato “para defender a democracia, a legislação eleitoral, a Justiça eleitoral e o sistema eleitoral, com as urnas eletrônicas”.
“Queremos eleições livres e tranquilas. Queremos um processo eleitoral sem fake-news, pós-verdades ou intimidações”, disse o reitor em seu pronunciamento. “A Universidade é casa da pesquisa e do conhecimento. É o oposto do autoritarismo. Ela cultiva o pensamento crítico e diverso, a ciência, a filosofia e as artes”, acrescentou. “A USP, a Unicamp e a Unesp têm compromisso com a liberdade acadêmica. Nós não queremos o arbítrio”, alertou.
Carlos Carlotti lembrou que o regime de exceção provocou mortes, em um cenário de violações aos direitos humanos que não pode se repetir. “Nós, da USP, perdemos vidas preciosas durante o período de exceção. Perdemos 47 pessoas de nossa comunidade. Não esquecemos e não esqueceremos nunca”, disse. “Aqueles que rejeitam e agridem a democracia não protegem o saber. Nós, da USP, Unicamp e Unesp, somos partidários da democracia”, reiterou.
Para o reitor da USP, após 200 anos da Independência, os brasileiros deveriam estar pensando no futuro, e não preocupados em impedir retrocessos. No entanto, ele acredita que a manifestação deste 11 de agosto deve “inibir qualquer pensamento de violações às liberdades”.
O reitor da Unicamp, professor Antonio Meirelles, acompanhou o ato no na Faculdade de Direito. “Acho que ficou muito claro, aqui, pelo congraçamento de vários setores da sociedade, que reuniu trabalhadores, estudantes, representantes de organizações sociais, do setor produtivo; todos eles vinculados à afirmação da democracia, do Estado de Direito e da legitimidade do nosso processo eleitoral”, disse.
“É só garantindo a democracia que poderemos resolver problemas concernentes à justiça social, à inclusão, ao direito ao trabalho, à educação de qualidade e ao desenvolvimento de ciência e tecnologia”, acrescentou o reitor. “Do ponto de vista das universidades, ciência, educação e democracia são palavras que têm de andar juntas”, finalizou.
Ouça depoimento do reitor da Unicamp, Antonio Meirelles.
“O ato já pode ser considerado um marco histórico da democracia”, afirmou o reitor da Unesp, Pasqual Barretti. “O que vimos aqui foi o posicionamento da sociedade brasileira; dos trabalhadores, empresários, da sociedade civil organizada em torno do maior bem social, a democracia. Acho que o Brasil passa a ser melhor a partir de hoje”, avalia.
Em defesa da democracia e pela justiça
O ato no salão nobre da Faculdade de Direito foi dedicado à leitura da Carta “Em Defesa da Democracia e pela Justiça”, iniciativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com apoio de mais de 100 entidades ligadas ao setor produtivo.
A carta foi lida pelo advogado e ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. “Talvez se trate de um momento inédito na nossa história. O capital e o trabalho, juntos, em favor da democracia. Estamos celebrando aqui um hino à democracia”, disse.
Representantes de diversos setores tomaram a palavra, como o economista Armínio Fraga, o presidente da Indústria Brasileira da Árvore (Ibá), Horácio Lafer Piva, e a presidente da secção São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Patrícia Vanzolini.
“Essa manifestação com essa representatividade não é um bilhete, nem uma cartinha, como alguém chegou a insinuar”, disse José Canindé Pegado, da União Geral dos Trabalhadores, sem citar Bolsonaro. “Não podemos nos calar diante de setores que flertam com o esgoto mais sombrio da nossa história”, afirmou a presidente da UNE, Bruna Brelaz. “A democracia é nosso farol e nosso alicerce, e temos de lutar por ela para garantir o direto ao trabalho, à educação e à saúde”, alertou Miguel Torres, da Força Sindical.
Na segunda parte da manifestação, houve a leitura da Carta às Brasileiras e Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! O pátio ficou lotado, e o público que não conseguiu acessá-lo aglomerou-se em frente à faculdade. Acadêmicos, representantes de entidades civis, políticos e artistas discursaram.