A Unicamp iniciou um processo de aproximação que deverá resultar em novas cooperações com instituições de ensino superior e de pesquisa da Alemanha. Uma comitiva partindo de Campinas manteve, entre os dias 12 e 16 de setembro, contatos com a Universidade Técnica de Munique, com a Universidade Friedrich-Alexander em Erlangen (FAU), a Universidade Livre de Berlim e o Centro Universitário da Baviera para a América Latina (Baylat), além de outras instituições de pesquisa e ensino superior no país.
O objetivo dos encontros, segundo explicou o reitor da Unicamp, professor Antonio Meirelles, foi o de renovar parcerias e iniciar novas colaborações entre as instituições. A comitiva da Unicamp esteve também na embaixada brasileira em Berlim.
“Projetos nas áreas de sustentabilidade, que representam uma marca forte da Unicamp, interessam muito às instituições alemãs”, disse o reitor. “O interesse deles, no entanto, vai além dos setores técnicos. Eles querem cooperações também nas áreas de humanas”.
O reitor lembrou que os alemães possuem informações sobre a Unicamp no que diz respeito aos rankings internacionais de sustentabilidade e que eles estão buscando incorporar na pauta temas como inclusão, questões ligadas aos povos originários ou de estímulo à inclusão de mulheres na atividade científica. Segundo Meirelles, os alemães estão interessados em convênios e programas de intercâmbio envolvendo ações relacionadas a esses temas.
Integraram a comitiva diretores e diretores associados dos institutos de Química, Biologia, Filosofia e Ciências Humanas e da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, além de um representante da Diretoria Executiva de Relações Internacionais (DERI). Nesse sentido, os contatos foram amplos, lembrou o reitor.
No Centro Universitário da Baviera para a América Latina, por exemplo, foi discutida a possibilidade de intercâmbio em pesquisa na área de alimentos. Na Universidade Técnica de Berlim, os alemães demonstraram interesse nos programas do Campus Sustentável – desenvolvido na Unicamp – e no Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), distrito inteligente que está em fase de implantação no campus de Barão Geraldo e que envolve a universidade, empresas e o poder público.
Na FAU, a comitiva da Unicamp discutiu sobre pesquisas com painéis solares e placas fotovoltaicas. Os alemães mostraram aos brasileiros as suas pesquisas no setor. Uma delas, de interesse, combina a instalação das placas e agricultura.
Na Universidade Livre, a comitiva da Unicamp conheceu um centro multiusuário, compartilhado por vários grupos de pesquisa ligados às áreas de química, física e biologia. Os alemães realizam, no Centro, pesquisas no limite do conhecimento, como, por exemplo, o mapeamento de sinapses neurais com técnicas em desenvolvimento muito recente.
Meirelles afirmou, ainda, que a ideia é fortalecer o intercâmbio de professores e estimular a mobilidade entre alunos, abrindo canais de contato que permitam a vinda de pesquisadores alemães para Campinas, para trabalhar em grupos de pesquisa, por períodos curtos.
“Eles demonstraram interesse ainda em abrir possibilidades de intercâmbio não apenas para estudantes de pós-graduação ou doutorado. Querem também trabalhar com alunos em fase final de graduação”, declarou o reitor.
“A viagem foi muito importante para ampliar nosso processo de internacionalização e nos ajudou a penetrar de forma mais efetiva nas estruturas das universidades alemãs”, finalizou.
Reforço da imagem da Unicamp
A viagem para a Alemanha é parte do esforço da universidade – por meio da DERI – para reforçar a imagem da Unicamp junto a importantes instituições parceiras no exterior.
De acordo com a coordenadora para Cooperação Internacional da DERI, Angélica Torresin, trata-se de uma ação fundamental no contexto da retomada das mobilidades internacionais de docentes, pesquisadores, estudantes e funcionários, interrompidas em decorrência da pandemia da covid-19.
“A visita da delegação da Unicamp a algumas de suas principais parceiras na Alemanha, com a presença do reitor, é uma manifestação do empenho da universidade em retomar plenamente as atividades de internacionalização no contexto da redução das barreiras à mobilidade”, disse a coordenadora.
“É também uma demonstração do desejo da Unicamp de aprofundar as parcerias já existentes em pesquisa e ensino, bem como de ampliar o alcance e a escala dessas colaborações”, finalizou.
Reuniões frutíferas
A delegação da Unicamp foi recebida também pelo embaixador brasileiro em Berlim, Roberto Jaguaribe. De acordo com o grupo da Unicamp, as reuniões se mostraram “muito frutíferas” e abriram uma série de oportunidades de cooperação e possíveis fontes de financiamentos. Jaguaribe disse que a embaixada pode ser um ponto de apoio da Unicamp no contato com as instituições de ensino e pesquisa da Alemanha.
Na embaixada do Brasil em Berlim, além da recepção pelo embaixador, foi realizada uma reunião com um grupo representante da Diáspora Brasileira Rede Apoena, que tem como missão conectar pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, com o objetivo de impulsionar a colaboração Brasil-Alemanha. Houve, ainda, reunião com representantes da Universidade de Potsdam e da Universidade de Muenster.
Oportunidades para parcerias
O professor Michel Nicolau Neto, diretor associado do IFCH, ficou otimista com a visita às universidades alemãs. Primeiro, disse ele, o grupo conseguiu se relacionar com instituições de diferentes espectros – desde universidades técnicas, como as de Munique e Berlim, como também a Universidade Livre, o Baylat, além de uma rede de pesquisadores e organismos governamentais.
Neto destaca algumas possibilidades que surgiram a partir das visitas. Houve interesse dos alemães, por exemplo, nas pesquisas sobre o meio ambiente sendo desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam).
De acordo com o professor, eles também se mostraram interessados em estudos de gênero – pesquisas que tratam de feminismo, mas que também tenham relação, por exemplo, com gênero e trabalho. Ele citou, ainda, temas como ciência política, para discussões em torno de democracia e autoritarismo, que poderiam envolver, inclusive, os BRICs – o grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Neto corrobora o reitor, comentando as novas possibilidades de intercâmbio de professores, pesquisadores e, especialmente, de estudantes. "Sabemos que é muito mais fácil levar alunos brasileiros para lá. A dificuldade é trazer estudantes alemães para cá. Uma solução para o aumento dessa mobilidade seria, por exemplo, a realização de estágios de curto período”, afirma. Segundo ele, essa possibilidade ganhou força após os encontros.
“Achei ótima essa estratégia da DERI, pois conseguimos contatar muitas instituições. Quando conversamos com a Baylat, por exemplo, estávamos falando com 40 universidades”, argumentou.
O diretor do Instituto de Biologia, professor André Freitas, disse que o contato já começou a render frutos. A Unicamp já começou a articular um workshop para as próximas semanas, envolvendo pesquisadores do Grupo Apoena.
A ideia é começar a discutir colaborações nas áreas de sustentabilidade. Freitas afirma que, no início, poderá reunir pesquisadores do IB e do IFCH, mas que os acordos poderiam ser ampliados para as áreas mais técnicas. “Acho que se pode ampliar perfeitamente essas camadas de possibilidades”, avalia.
O professor disse ter ficado entusiasmado também com a expectativa de implementação de programas de intercâmbio de estudantes. “Estamos muito preocupados com os alunos de graduação, e as instituições alemãs querem abrir caminhos para essas interações”, acrescentou. “A viagem foi um sucesso”, resumiu o diretor.
O professor Paulo Cardiere, diretor associado da FEEC, diz que a viagem foi importante “para perceber o desejo das universidades alemãs em estabelecer cooperação com as universidades brasileiras e o reconhecimento da Unicamp”.
No caso específico da Engenharia Elétrica, Cardiere vê “ótimas possibilidades de cooperação” na área de energia oriunda de fontes renováveis, uma área muito forte na unidade.
O diretor do Instituto de Química, o professor Claudio Tormena, afirmou que esse tipo de visita é muito importante para o estabelecimento de novas parcerias. De acordo com ele, numa visita presencial é possível conhecer a infraestrutura das universidades e ver de perto como elas podem ser acessadas por pesquisadores e docentes.
“O contato presencial foi importante para avaliar quais estratégias a Unicamp poderá adotar para estabelecer futuras parcerias e ver as formas de financiamento, tanto para levar pesquisadores e docentes da Unicamp para a Alemanha, como no sentido inverso”, disse o professor. “Foi muito bom ver como é feito esse tipo de organização pelas universidades alemãs”, finalizou o professor.