Ceuci é o nome da deusa tupi-guarani protetora das lavouras e das moradias. É também o nome do Centro de Estudos sobre o Urbanismo para o Conhecimento e a Inovação, um dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD-SP) cujo lançamento aconteceu na última quarta-feira (21) no auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Unicamp. O nome do novo centro faz referência a um dos desafios do planejamento urbano para as áreas de conhecimento existentes e as que devem surgir nos próximos anos: tornar esses ambientes mais diversos e conectados com a cidade, combinando universidades, laboratórios de pesquisa, empresas e startups com moradias, parques e áreas com agricultura urbana e agrofloresta.
No atual cenário de mudanças climáticas, de destruição de ecossistemas e de crise econômica e social, essas transformações devem enfrentar uma série de desafios, exigindo novos métodos e ferramentas de planejamento urbano. Assim, a missão do Ceuci é contribuir para a implantação de áreas urbanas do conhecimento e inovação, em particular aquelas situadas em zonas de franjas ou de expansão urbana, tendo como diretrizes os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Uma das motivações para a criação do novo centro foram os estudos para elaboração de propostas urbanas inicialmente para a Fazenda Argentina e, em 2020, para o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, o HIDS, que engloba toda a área do Polo de Desenvolvimento Tecnológico de Campinas (Ciatec 2). Para aprofundar esses estudos, a FECFAU criou a sua primeira especialização em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil. “Criamos uma série de disciplinas aqui na FECFAU para pensar a ocupação da Fazenda Argentina e depois do HIDS. Em plena pandemia, conseguimos implementar uma especialização que teve resultados excelentes. Tudo isso está intimamente ligado ao Ceuci”, lembrou Emilia Wanda Rutkowski, professora da FECFAU e coordenadora de comunicação do centro.
O Centro abre caminho para continuar esses estudos e ampliá-los, tendo o HIDS como um dos estudos de caso. “Esperamos compilar uma série de experiências e oferecer propostas para o desenvolvimento urbano das cidades do Estado de São Paulo”, disse Gabriela Celani, que será diretora do Centro.
Cidades do conhecimento
Entre os conceitos que guiarão as pesquisas, está o Knowledge-based urban development, um novo paradigma de desenvolvimento urbano que visa a trazer prosperidade econômica, sustentabilidade ambiental, uma ordem socioespacial justa e boa governança para as cidades, incentivando a produção e a circulação do conhecimento. Conforme explicou Celani, os estudos também irão envolver uma série de oficinas e os chamados laboratórios urbanos (Urban Living Labs) que possibilitam a criação de espaços de co-criação ou de inovação aberta, nos quais todos os interessados testam, desenvolvem e criam soluções em conjunto para as cidades.
Assim como os demais CCDs, o Ceuci vai funcionar por meio da colaboração entre a Unicamp, empresas, organizações não governamentais e o governo. Na Unicamp, a unidade sede do Ceuci é a FECFAU, mas também participam como instituições de pesquisa a Faculdade de Tecnologia da Unicamp (FT) e a Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA), ambas em Limeira. A professora do curso de Administração Pública da FCA e também coordenadora de parcerias do Ceuci, Milena Serafim, lembrou a importância de ir além dos diagnósticos quando se trata de formular políticas públicas. “Trabalhar em conjunto com arquitetos e urbanistas vai nos ajudar a considerar também as modelagens de cenários futuros para melhorar a gestão pública”, disse. “Precisamos dar um salto de qualidade para criar um ambiente saudável nas cidades”, complementou.
O CPQD é a principal instituição externa associada ao projeto. Seu diretor de inovação, Paulo José Pereira Curado, destacou a importância de trabalhar em conjunto com a universidade. “No CPQD, nos identificamos com o propósito do Ceuci, que é buscar soluções para desafios contemporâneos e materializá-las na forma de desenvolvimento econômico, social e em qualidade de vida para as pessoas”, disse ele, que é vice-diretor do Centro.
A Prefeitura Municipal de Campinas (PMC), a Agência de Inovação da Unicamp (Inova), a Embrapa, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (SDE) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também são instituições parceiras. “Na Embrapa temos um arcabouço de tecnologias de modelagem e monitoramento baseados em dados que devem ajudar nos estudos planejados no Ceuci”, contou Stanley Oliveira, chefe geral da Embrapa Agricultura Digital. Já a diretora da Inova Unicamp, Ana Fratini, destacou a experiência da Agência na gestão de parques tecnológicos e em propriedade intelectual que pode contribuir para as soluções de planejamento urbano para ambientes de inovação.
As empresas participantes são a Flock Circular, a Ecclo Saneamento e Paisagismo Ecológico, a Suzano e o Instituto Ecofuturo, a Cariba Empreendimentos e Participações e a Rewood Soluções Estruturais em Madeira. A ONG Instituto 17, que atua em projetos de difusão dos objetivos de desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento de soluções de economia circular, defesa do meio ambiente e desenvolvimento local, também irá colaborar com o Centro. Para o reitor da Unicamp, Antonio Meirelles, a principal virtude de projetos como esse é serem multi-institucionais. “Nesse modelo, ampliamos o diálogo com a sociedade e a possibilidade de gerar impactos sociais e econômicos”, disse. A coordenadora geral da Universidade, Maria Luiza Moretti, lembrou que projetos de longo prazo como o Ceuci exigem grande comprometimento institucional, mas também promovem crescimento de toda a comunidade acadêmica. O coordenador do HIDS na Unicamp, Mariano Laplane, falou sobre a complexidade do projeto. “O sucesso do HIDS depende de uma enorme mobilização de atores, dentro e fora da Universidade, do poder público e do envolvimento da cidade que, de certa forma, tem que abraçar o projeto, reconhecendo nele valor econômico e social. O Ceuci vai ajudar a encontrar esses caminhos”, afirmou.