Unicamp aprova título de professor emérito a Luiz Gonzaga Belluzzo

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O Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou por unanimidade, na manhã desta terça-feira (27), a concessão do título de professor emérito ao economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo.

Formado em Direito e Ciências Sociais pela USP, Belluzzo cumpriu importante papel no início do processo de instalação do Instituto de Economia (IE) da Unicamp.

Considerado um dos melhores economistas heterodoxos do Brasil, Belluzzo é lembrado por ser um dos responsáveis pela articulação da autonomia orçamentária das três universidades estaduais paulistas – mecanismo que garantiu investimentos regulares e deu o suporte para o desenvolvimento das instituições. Belluzzo era o secretário da então pasta de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, quando da publicação do decreto da autonomia, em 1989.

A proposta de concessão do título foi apresentada pelo IE e aprovada pela congregação em 4 de maio deste ano. Contou com a aprovação da comissão especial, formada pelos economistas Luciano Coutinho (presidente), Eros Grau e Leda Paulani.

Em sua fala no Consu, o professor Luciano Coutinho disse que a comissão identificou quatro grandes razões para aprovar a entrega do título honorífico a Belluzzo. A primeira, disse ele, foi a intensa contribuição de Belluzzo enquanto economista político e pensador da tradição da economia política e das suas teorias a respeito do desenvolvimento do capitalismo contemporâneo.

“Baseado na contribuição de grandes pensadores, o professor Belluzzo sintetizou, com admirável capacidade, uma análise especialmente relevante para compreensão das diversas facetas, da instabilidade, das limitações, das mutações e transformações no capitalismo contemporâneo e de suas tendências – como a elevada concentração da riqueza, da renda, da exclusão e do acirramento de determinadas contradições no plano geopolítico –, que é o que nós temos visto de forma muito marcante nos últimos tempos”, argumentou.

Luiz Gonzaga Belluzzo foi um dos responsáveis pela articulação da autonomia universitária
Luiz Gonzaga Belluzzo foi um dos responsáveis pela articulação da autonomia orçamentária das três universidades estaduais paulistas

O presidente da comissão especial lembrou também o papel exercido por Belluzzo na análise macroeconômica e das políticas macroeconômicas contemporâneas. Segundo Coutinho, “a clareza dessas contribuições é útil na discussão de políticas macroeconômicas, mormente aquelas relativas à questão da evolução do crédito, dos mercados de capitais, das moedas, das taxas de câmbio, especialmente nas economias desenvolvidas, com seus reflexos nas economias emergentes”, apontou.

O terceiro pilar importante, continuou o economista, foi a relevante participação de Belluzzo no debate público sobre as sociedades modernas. Para o colega, as reflexões de Belluzzo vão além da esfera estritamente econômica. “O professor Belluzzo é dono de grande erudição. Teve formação invejável em Ciências Humanas e Sociais. Foi bacharel em Direito, em Sociologia e pós-graduado em Economia, com base nos cursos especiais que a Cepal ofereceu no Brasil nos anos 80”, pontuou.

Além disso, o professor faz incursões profundas na esfera da Filosofia, da História, da Sociologia, da Política e até da Psicanálise, o que lhe permite uma capacidade de reflexão a respeito da sociedade, com muita argúcia, e uma capacidade muito grande de identificação das diversas patologias sociais e políticas das últimas décadas”, avaliou Coutinho.

Formação de profissionais

Outro destaque do presidente da comissão especial foi para a importante contribuição de Belluzzo na formação de economistas e de profissionais de destacada atuação acadêmica. Ele lembra que o homenageado é responsável por dezenas de publicações em periódicos internacionais, que valeram um reconhecimento no dicionário biográfico internacional de economistas heterodoxos notáveis. “Ele tem o privilégio de estar entre os 100 mais notáveis economistas heterodoxos internacionais”, celebrou.

Homenagem faz jus à história

O diretor do IE, André Biancarelli disse que a homenagem faz justiça à história de Belluzzo. “Ele foi uma das pessoas responsáveis pela criação do Instituto de Economia, entendendo o desafio de montar um curso crítico, alternativo, com viés progressista, no momento mais difícil da ditadura militar no Brasil, com um conjunto de economistas com idade inferior a 40 anos na época. Foi uma obra acadêmica e intelectual notável e um feito político de grande envergadura e coragem. Além de ser um projeto intelectual ousado, exitoso e influente”, destacou o diretor.

Produção acadêmica expressiva

O reitor Antonio Meirelles lembrou que a produção acadêmica de Belluzzo é bastante expressiva em áreas como a economia política e a economia monetária e financeira. “Eu diria que ele é um dos principais teóricos da análise do capitalismo contemporâneo. É inspirado de uma forma muito criativa em grandes mestres”, definiu.

“Os seus livros sobre esses temas são enriquecedores, e eu os recomendo a todos. Outro aspecto importante é o papel que ele sempre teve no debate econômico e político em nosso país”, continuou o reitor. Meirelles disse, ainda, ter ficado orgulhoso pela representatividade da comissão especial que avaliou o título ao economista. “É um orgulho ter uma comissão com esse destaque acadêmico e institucional”, comentou.

O pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, Fernando Sarti, lembrou o papel fundamental de Belluzzo no processo que culminou na autonomia financeira das universidades paulistas. “Eu não tenho a menor dúvida de que a qualidade das universidades estaduais paulistas se deve, fundamentalmente, à nossa autonomia financeira, e todos nós aqui sabemos a importância da participação do professor Belluzzo nessa luta”, afirmou o pró-reitor.

Carreira política

Luiz Gonzaga Belluzzo foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1985-1987) durante o governo de José Sarney e, de 1988 a 1990, foi secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo durante a gestão do ex-governador Orestes Quércia. Foi consultor pessoal de economia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fundou a Facamp (Faculdades de Campinas), juntamente com os economistas João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano e Eduardo da Rocha Azevedo. Recebeu ainda o Prêmio Intelectual do Ano Prêmio Juca Pato de 2005.

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004