Quando um profissional da saúde exerce suas atividades no setor público, não é com um crachá do Sistema Único de Saúde (SUS) que ele se identifica. “Ninguém trabalha no SUS. Os profissionais podem afirmar que trabalham em hospitais, postos de saúde, mas ninguém identifica o SUS, e isso atrapalha a imagem do sistema”, avalia Gastão Wagner de Sousa Campos, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e um dos idealizadores do SUS.
Para ele, as ramificações do atendimento nas esferas municipal, estadual e federal, em universidades, hospitais e postos de saúde, formam uma espécie de “Torre de Babel”, sem algo em comum que identifique o atendimento como fruto do sistema público de saúde. O professor é o entrevistado do novo episódio do videocast Analisa, disponível no canal TV Unicamp, no Youtube.
Falta de visibilidade
A intenção evidente de desvalorizar as conquistas e o alcance do Sistema Único de Saúde, que atende regularmente 70% da população sujeita às desigualdades sociais, é outro problema. O professor ressalta que o SUS contraria interesses de grupos de médicos e empresários, que defendem a regulação do mercado na administração da saúde. Nas pesquisas sobre o sistema, a classe média, que não usa o SUS, o avalia com nota menor do que seus próprios usuários. “Mas o SUS produziu equidade, conseguiu chegar nos setores mais carentes da população e mudou muita coisa”, diz Gastão.
A falta de visibilidade da importância do atendimento em saúde pública impacta também questões de financiamento. Apesar de ter sido um dos responsáveis pela expansão na esperança de vida entre menores de 5 anos e maiores de 60, o SUS sofre a pressão do pensamento liberal, que critica as políticas públicas. Gastão conta que, nesses 32 anos, os municípios dobraram os investimentos, os estados aumentaram 20 por cento, mas o governo federal fez apenas a correção da inflação. O ideal, segundo o professor, seria então dobrar os recursos, que hoje chegam a 130 bilhões de reais por ano. Além disso, seria necessário reequilibrar as destinações à atenção básica, que hoje atende 48% da população e fica com 30% dos recursos.
O papel do SUS durante a pandemia, as pesquisas e parcerias com a Unicamp, as pessoas que implementaram o sistema e os resultados da busca constante pela melhoria do HumanizaSUS no atendimento à saúde básica também foram abordados durante a entrevista.
Saúde é independência
Para valorizar a imagem do SUS, a Unicamp lançou, em setembro, a campanha “Saúde é independência – Unicamp e SUS”. Idealizada pelo Grupo de Estudos e Ação em Saúde Pública do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA), a campanha tem como objetivo realçar o SUS, suas conquistas, seus desafios e a relação com a universidade, desde a sua implementação.
Um documentário que reúne depoimentos e imagens relembrando a história da implementação do SUS e a abrangência do trabalho realizado foi lançado nesta quinta-feira (6). A direção e edição são de Diego Padgurschi, a produção e as entrevistas são assinadas por Samy Charanek, e as imagens são de Marcelo Justo e Vitor Serrano. A coordenação ficou a cargo do coordenador do IdEA, Christiano Lyra Filho, com argumento de Gastão Wagner.
Como parte das ações da campanha, peças publicitárias também foram espalhadas nas entradas da Unicamp em Campinas e em pontos estratégicos do campus.
Confira o videocast Analisa:
Confira as imagens da cerimônia de lançamento do documentário: