‘A Unicamp foi pioneira com a criação dos Centros e Núcleos’, diz a fundadora da Cocen, Ítala D'Ottaviano

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Qual a essência da universidade? Ao relembrar a trajetória da Coordenadoria dos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen), que completou 24 anos no dia 29 de setembro, a professora Ítala D'Ottaviano destacou o pioneirismo da Unicamp ao instituir sua rede de interdisciplinaridade científica.

"A Unicamp foi altamente pioneira com a criação dos Centros e Núcleos. Eles começaram a recuperar, no Brasil, a essência da universidade, que é a universalidade, a interdisciplinaridade. É um retorno às origens da instituição universitária", diz Ítala, que foi a primeira coordenadora da Cocen, entre 1998 e 2002, e exerceu ainda um segundo mandato, entre 2009 e 2013.

Na Unicamp desde 1969, Ítala foi testemunha do crescimento da universidade em diversas frentes ao longo de décadas. Ela lembra que, no início, uma parcela da comunidade acadêmica manifestava resistência ao fortalecimento dos Centros e Núcleos. Isso porque havia quem enxergasse as unidades interdisciplinares como deslocadas academicamente, por não se filiarem a tradições disciplinares específicas. Contudo, as abordagens interdisciplinares certamente não são opostas ou contrárias às especializações disciplinares – ambas as perspectivas se complementam, de maneira cooperativa.

Ítala D'Ottaviano
A professora Ítala D'Ottaviano: testemunha do crescimento da universidade em diversas frentes ao longo de décadas 

"Já hoje em dia, a moda é a interdisciplinaridade", comenta Ítala, referindo-se à crescente valorização global da perspectiva interdisciplinar no universo científico. Ela cita como exemplo um convite recente que recebeu da Unesp para dar uma aula inaugural para uma turma de calouros cujo tema proposto foi justamente a interdisciplinaridade.

Do CLE à criação da Cocen

A Unicamp tinha apenas três anos de idade quando a professora Ítala foi contratada. Com formação em matemática e atraída pela área de lógica, ela logo começou a trabalhar no grupo do notório matemático, lógico e filósofo Newton da Costa.

Menos de uma década depois, em 1977, ela seria uma das fundadoras do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE), o primeiro Centro Interdisciplinar da Unicamp, criado pelo professor Oswaldo Porchat Pereira, que teve essa ideia após voltar de um pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley.

"O que aconteceu com o Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência na Unicamp é inédito no Brasil. Desde o começo, o Centro congregou pessoas e visitantes, começou a publicar periódicos. Enquanto a Unicamp ainda não tinha editora, o Centro de Lógica tinha três revistas e uma coleção de livros. Recebeu mais de 500 visitantes do mundo. Criou-se o CLE para que fosse modelo nacional e referência internacional", conta Ítala. O Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, foi inspirado no CLE.

Nos anos seguintes, outros Centros e Núcleos que se tornariam referência em suas áreas foram surgindo na Unicamp. A década de 1980, em especial, foi marcada por uma profusão de unidades criadas para desenvolver projetos de pesquisa que não poderiam ser conduzidos em departamentos convencionais devido à abordagem interdisciplinar, abarcando basicamente todas as vertentes do conhecimento humano.

A inserção na sociedade por meio de parcerias com setores produtivos, diálogos com órgãos formuladores de políticas públicas, realização de eventos e atividades de extensão já era característica dos Centros e Núcleos, que aos poucos começavam a se firmar como peças fundamentais e um dos grandes diferenciais na produção científica da Unicamp.

Foi já no fim da década de 1990 que a professora Ítala identificou a necessidade de se criar uma estrutura que unificasse os Centros e Núcleos para fortalecer o sistema, tanto do ponto de vista científico quanto administrativo. "Eu fiz um relatório, escrito à mão, indicando que se tratava de uma coleção de órgãos muito importantes na Unicamp, que serviam de motivação e modelo para várias iniciativas similares em universidades do Brasil e da América Latina, e entreguei ao reitor", conta Ítala.

Nesse relatório, ela detalhou as atividades dos Centros e Núcleos, argumentou em favor de sua relevância e defendeu a necessidade da criação de uma coordenadoria. O pedido foi acatado pela reitoria e, assim, no dia 29 de setembro de 1998, a Deliberação CONSU-A-17/98 atribuiu à Cocen a missão de coordenação dos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp, e a professora Ítala assumiu a missão de comandá-la, tornando-se sua primeira coordenadora. "Inicialmente, não tínhamos muitos funcionários. Trabalhamos muito, foi uma dedicação incrível. Conseguimos reunir os Centros e Núcleos com carinho, com afeto e com garra. Eu sou muito militante nas minhas causas."

Cocen envolve quase 700 profissionais, entre coordenadores, pesquisadores, docentes associados, servidores, bolsistas, colaboradores, estagiários e patrulheiros
Cocen envolve quase 700 profissionais, entre coordenadores, pesquisadores, docentes associados, servidores, bolsistas, colaboradores, estagiários e patrulheiros

Centros e Núcleos: crescendo e convergindo

Nesses 24 anos, coordenados sistematicamente por meio da Cocen, os Centros e Núcleos vêm crescendo e se estruturando cada vez melhor. A coordenadoria conta hoje com 15 servidores.

No Sistema Cocen inteiro, são quase 700 profissionais, entre coordenadores, pesquisadores, docentes associados, servidores, bolsistas, colaboradores, estagiários e patrulheiros.

Para os próximos anos, a atual gestão, da coordenadora Ana Carolina Maciel, tem articulado projetos para fomentar a convergência entre os Centros e Núcleos por meio de pesquisas realizadas em conjunto, ampliando a integração do Sistema e explorando ainda mais a interdisciplinaridade.

Saiba mais sobre os Centros e Núcleos de Pesquisa Interdisciplinar da Unicamp

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A primeira coordenadora da Cocen Ítala D'Ottaviano: uma parcela da comunidade acadêmica manifestava resistência ao fortalecimento dos Centros e Núcleos

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004