Passados 34 anos da elaboração da Magna Charta Universitatum (MCU), o número de instituições signatárias saltou para 947 universidades de 94 países. Essas instituições passaram a incorporar os princípios da liberdade acadêmica e autonomia institucional contidas no documento em suas rotinas. A MCU foi criada em 1988, em comemoração ao aniversário de 900 anos da Universidade de Bolonha, a mais antiga universidade do mundo. Na época, líderes de universidades europeias elaboraram um documento que visava construir um sistema universitário mundial em prol do fortalecimento das democracias que intitularam Magna Charta Universitatum. O texto foi assinado por 388 representantes de instituições de ensino superior de todo o mundo.
A Unicamp assina o documento desde sua criação, uma vez que é comprometida com a liberdade de pensamento e pluralidade de ideias. “A liberdade de pensamento nunca foi tão importante quanto nos últimos tempos, em que as universidades desempenharam um papel fundamental contra o negacionismo da ciência e as fake news, por exemplo, alertando sobre a relevância da covid-19”, afirma a coordenadora-geral da Unicamp, a professora Maria Luiza Moretti.
Acesse o documento original da Magna Charta Universitatum em português.
Em setembro, a docente participou do evento de aniversário da Magna Charta, que anualmente realiza uma cerimônia para o recebimento de novas instituições signatárias. Na ocasião, mais de 170 líderes universitários de 45 países se reuniram na Universidade de Bolonha (Itália) para a realização de mesas-redondas e palestras sobre temas como direitos humanos, sustentabilidade, universidades na mídia, responsabilidade acadêmica e políticas de equidade.
Para Moretti, a Unicamp pode servir de exemplo às demais signatárias na incorporação dos princípios da Magna Charta. Ao participar de uma mesa sobre sustentabilidade, por exemplo, a coordenadora- geral constatou que a Universidade foi a instituição com o maior número de investimentos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Eu participei no intuito de ouvir as iniciativas de outros países e a Unicamp deu a maior contribuição da mesa”, revela a docente, que relatou experiências como o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) e a Fazenda Argentina.
Diversidade nas Universidades
Em 2018, um grupo multinacional foi formado para revisar a Magna Charta com o objetivo de adequá-la ao contexto das mudanças nas universidades e nos ambientes em que elas operam. Na época, a Unicamp foi a única representante latino-americana a participar da reformulação do texto. Essa reformulação, embora não tenha significado a remoção de nenhum item quando levados em conta os valores originais presentes na MCU, acrescenta preocupações contemporâneas, especialmente no que diz respeito à diversidade e ao reconhecimento da natureza global das universidades.
Para Moretti, tanto a ciência quanto a diversidade são essenciais para o desenvolvimento do Brasil. A Coordenadora Geral da Unicamp aponta que todos os países que atingiram um alto patamar socioeconômico são nações que investiram em educação e pesquisa, capacitando seus cidadãos, algo essencial para as democracias. No entanto, sem iniciativas voltadas à diversidade, não é possível garantir o acesso de todos a essas instituições e nem produzir um conhecimento de qualidade.
“Por que o Brasil precisa de iniciativas voltadas à diversidade? Pelo nosso histórico colonial, com um longo período de escravidão e extermínio de populações não-brancas, que faz com que nós ainda tenhamos espaços com muito pouca diversidade”, observa a professora. “Mas nós também temos que manter a vigilância, porque é preciso focar não apenas na entrada na Universidade, mas em políticas de permanência e de acesso ao mercado de trabalho, acompanhando nossos alunos e ex-alunos por todo esse período, que é bastante longo”, pondera.
Nesse contexto, a Unicamp mantém uma série de iniciativas de promoção de políticas como igualdade racial e de gênero e acesso e permanência estudantil. Além do programa de cotas e do vestibular indígena, a Universidade conta com serviços de assistência estudantil como bolsas de alimentação, transporte e moradia para alunos em condições de vulnerabilidade socioeconômica. “Causou uma grande surpresa nos participantes ouvir que, além de a Universidade ser gratuita, os alunos recebem apoio financeiro da Unicamp. Nós temos atividades únicas, em relação ao exterior, que precisam chegar a essas instituições. Eu saí de lá muito orgulhosa da nossa universidade”, relata.
Leia mais:
Unicamp faz reflexão sobre seus valores
Em defesa da liberdade e da autonomia