Uma comitiva internacional da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), com representantes de novas Cátedras Sérgio Vieira de Mello (CSVM) da Etiópia e da República Dominicana, visitou a Unicamp na quinta-feira (27/10) para um intercâmbio de experiências sobre o papel da universidade no acolhimento de refugiados. O evento reuniu professores, membros da Acnur e estudantes de várias nacionalidades.
“Até então, as Cátedras Sérgio Vieira de Mello só existiam no Brasil. Agora, começa um processo de internacionalização. Então, essa comitiva veio conhecer o trabalho que a gente vem desempenhando aqui, para que os novos membros do exterior se inspirem e tenham referências de iniciativas para implementar em suas universidades”, explica a presidenta da Cátedra na Unicamp, Ana Carolina Maciel, que organizou a recepção.
Na sede da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen), os visitantes assistiram a apresentações de vários setores da Unicamp que se mobilizam, através da Cátedra, para realizar ações de auxílio aos estudantes refugiados, como aulas de português, apoio acadêmico, atenção à saúde física e mental, programas de permanência estudantil, pesquisa e extensão. Recentemente, a Universidade ampliou as formas de ingresso para refugiados, com o objetivo de tornar o processo mais inclusivo.
“Nos últimos meses, a gente começou a receber alunos recém-saídos de zonas de conflito, o que vem alterando o perfil dos ingressantes na condição de refúgio, apátridas ou indocumentados na nossa universidade. Essa experiência tem agregado muito valor ao nosso projeto, que busca dar acesso a um ensino superior de qualidade a essas pessoas em situação de vulnerabilidade, para que elas possam se inserir no mercado de trabalho e restabelecer as suas vidas através do ingresso na Unicamp”, complementa Ana Carolina.
A professora Desiree Del Rosario, do Instituto Tecnológico de Santo Domingo (Intec), da República Dominicana, foi uma das integrantes da comitiva. Para ela, a visita permitiu ver como as ações de acolhimento foram desenvolvidas na prática e refletir sobre a contribuição da universidade para transformar imaginários e enfrentar os discursos de xenofobia que se alastram atualmente. “Observamos, aqui na Unicamp, a importância de atender à saúde mental, até para nos colocarmos no lugar dessas pessoas, que precisam lidar com anseios e dores ao deixar a pátria, os entes queridos, o trabalho, muitas vezes ter a própria identidade negada e todas as incertezas envolvidas”, destaca Del Rosario.
O professor Jose Riera-Cezanne, da University of Peace (UPEACE), também integrou a comitiva, por estar participando do processo de criação de uma nova Cátedra na Costa Rica. "Normalmente, é um ministério do governo federal que lida com as questões de refugiados. Mas essas pessoas chegam em municípios, em cidades, e existe uma total desconexão entre os governos federais e as instâncias locais. Então, a ideia dessas visitas é observar como a Cátedra Sérgio Vieira de Mello tem funcionado no Brasil, na sua relação com diversos atores que têm papel na recepção e assistência a solicitantes de refúgio, como as prefeituras e outras entidades. A inserção da universidade nesse processo é vital. Estou bastante impressionado com o modo como o Brasil desenvolveu o programa. E, agora, Sérgio Vieira de Mello e sua memória irão irradiar através do mundo acadêmico", diz.
A solenidade de abertura contou com a participação do reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, que salientou a importância do acolhimento humanitário e afirmou que a universidade seguirá fortalecendo as políticas de refúgio acadêmico. “Espero que muitas novas possibilidades de parcerias sejam debatidas, organizadas e realizadas a partir do encontro de hoje”.
No fim das apresentações, alguns estudantes que chegaram ao Brasil em condição de refúgio e ingressaram na Unicamp compartilharam suas experiências. Desde 2019, cerca de 25 alunos foram acolhidos pela Cátedra na universidade, vindos de países como Congo, Angola, Síria, Irã, Cuba, Serra Leoa, República Democrática do Congo, Gana, Palestina, Egito e Afeganistão.
A “Missão das Novas Cátedras” passou também pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de São Paulo (USP). Desde 2003, a Acnur implementa as Cátedras em cooperação com centros universitários nacionais. A República Dominicana e a Etiópia foram os primeiros países fora do Brasil a adotarem o modelo, e pretende-se expandi-lo para mais países.