Iniciou-se, na maior floresta tropical do mundo, um programa experimental de grande porte que medirá os impactos das mudanças climáticas a céu aberto. O AmazonFACE, depois de 11 anos de planejamentos e negociações, inaugurou suas primeiras torres de 35 metros de altura no sítio experimental em Manaus, na Amazônia, no dia 8 de dezembro.
O Programa, coordenado pela Unicamp e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), é resultado dos esforços multi-institucionais e internacionais para responder a uma questão-chave sobre as mudanças climáticas: quais os efeitos do aumento de gás-carbônico na atmosfera, nos organismos e no ecossistema amazônico?
David Lapola, coordenador do AmazonFACE e pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, enfatiza que a Amazônia está se aproximando do que os cientistas chamam de “tipping point”, um ponto sem retorno, no qual os impactos das mudanças climáticas serão irreversíveis e levarão à diminuição drástica das chuvas e ao aumento das temperaturas, resultando na savanização da floresta. “O tipping point deveria deixar os países amazônicos de cabelo em pé. Aqui, vamos tentar resolver essa questão”, conclui.
O evento reuniu, em Manaus, cientistas, estudantes, representantes da Unicamp e do Inpa, financiadores do MetOffice, da Embaixada Britânica, do MCTI e da FINEP, além de funcionários e colaboradores, que se emocionaram ao ver parte das primeiras fases de três torres de alumínio montadas no sítio experimental ZF2 do Inpa, a 70km de Manaus.
“Aqui, pretendemos fazer história, uma bela história científica. É difícil não se emocionar, porque aqui tem muita luta, esforço, estudos, estratégias e muitos desafios. É um sonho que estamos vivendo todos os dias, tentando entender como a Amazônia é importante para a espécie humana”, afirmou Bruno Takeshi Portela, pesquisador do Inpa e chefe de operações do AmazonFACE.
Esse experimento será formado por seis anéis, cada um composto por 16 torres de alumínio, com 30 metros de diâmetro. As torres possuem sensores que vão emitir até 50% a mais da concentração de CO2 atmosférico já existente nos fragmentos de floresta e medir os fluxos e armazenamentos de carbono nas plantas e no solo, bem como seus impactos no ciclo da água e nutrientes, na biodiversidade e socioeconômicos. Metade dos anéis funcionarão como grupo controle.
“O que vemos hoje é o exemplo de que ciência não se faz sozinho, ela conta com colaboradores, apoiadores, financiadores e com aqueles que passam a noite trabalhando para chegarmos aqui e termos uma surpresa dessa, para os alunos que poderão usufruir dessa plataforma e que já estão usufruindo e produzindo ciência de tão boa qualidade. Isso é para vocês, por vocês e em função de vocês”, afirma Sabrina Garcia, líder do Escritório Científico do AmazonFACE e pós-doutoranda no Inpa.
As primeiras 32 torres receberam financiamento de 2,25 milhões de libras (cerca de R$17 milhões) do governo britânico, administrados pelo MetOffice, o Serviço Nacional de Meteorologia do Reino Unido. No início de 2023, o AmazonFACE deverá celebrar a primeira parcela de R$32 milhões de recursos vindos da Ação Transversal do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI).
Dois anéis devem entrar em funcionamento ainda no primeiro semestre de 2023, e os demais, em 2024. Até lá, a equipe de cientistas segue coletando e analisando os dados que já geraram mais de 20 artigos científicos na primeira fase. “O AmazonFACE irá formar as novas gerações de cientistas que irão liderar a pesquisa sobre mudanças climáticas e influenciar políticas públicas", enfatizou Carlos Alberto Quesada, coordenador do Programa e pesquisador pelo Inpa.
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