“A energia incentivada sempre teve um preço maior do que a convencional, na ordem de 20% a 30% mais cara. Hoje, o cenário difere, nós fechamos um preço menor do que pagamos pela convencional no último contrato”, celebra Vicente Costa, coordenador da Divisão de Energia e Água da Unicamp. Ao contrário da energia convencional, a incentivada é produzida de fontes renováveis, como, por exemplo, aquela gerada nas usinas solares e eólicas que não emitem gases poluentes.
Esta é a origem da eletricidade que vai abastecer as unidades da Unicamp na Cidade Universitária Zeferino Vaz de 2024 a 2026. A sua contratação ocorreu em dezembro de 2022, como resultado do planejamento do Sistema de Gestão de Energia (SGE) e da articulação intersetorial. Essas estratégias constituem expressivos avanços desde 2002, quando a Unicamp passou a fazer parte do Ambiente de Contratação Livre (ACL).
Criada pela Lei n.º 9. 427 de 1996, a categoria “energia incentivada” diversifica e descarboniza a matriz elétrica nacional.
Segundo Leandro Cesini, doutorando da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC/Unicamp), esse contrato fortalece o compromisso socioambiental da Unicamp e reduz gastos orçamentários. “Caso a energia contratada fosse convencional, ou seja, gerada de fontes consideradas não renováveis, ao preço atual, pagaríamos em torno de 900 mil reais a mais por ano”, destaca o pesquisador. Ele também integra o grupo de trabalho que estuda e define procedimentos de acompanhamento permanente dos contratos de compra e gestão de energia elétrica (GTAC-ENER).
Luciana Pizatto, coordenadora administrativa do GTAC-ENER, realiza um comparativo dos preços e das vantagens entre os tipos de geração incentivada e convencional. Negociado com a empresa Tradener, o investimento ficou em pouco mais de 38 milhões de reais e, por se tratar de energia incentivada, recebeu 50% de desconto na Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd) — política da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esse abatimento está incluso no cálculo mencionado por Cesini e afeta diretamente o contrato de transporte dessa energia, praticado entre a Unicamp e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Os últimos três contratos demonstram uma moderação na compra para os anos de 2022 e 2023. Se comparada a quantidade contratada neste biênio com o volume da contratação do triênio de 2019 a 2021, a redução média chega a quase 5%. O percentual ainda melhora para pouco mais de 6%, comparando os valores de 2022 e 2023 com os de 2024 a 2026. Por outro lado, se o paralelo for entre os triênios, a queda ultrapassa pouco mais de 10%. Além disso, há uma distribuição de energia proporcional entre os anos dos dois últimos contratos, o que não ocorreu no primeiro, devido a uma perspectiva interna.
“Esses volumes anteriores [2019 a 2021] foram calculados a partir da previsão de crescimento da Unicamp. Só que esse crescimento estrutural da Universidade não ocorreu, fazendo com que essa quantidade de energia distribuída não representasse o consumo esperado”, justifica Costa. Ele, que também é engenheiro eletricista e integra o GTAC-ENER, cita a avaliação da disponibilidade do mercado, os aspectos climáticos e a construção de prédios como critérios imprescindíveis para a contratação. A crise econômica que atinge as universidades e a pandemia impactaram nas obras que seriam concluídas e desenvolvidas.
Estratégias e Articulações
Para que isso se tornasse possível, o GTAC-ENER elaborou um parecer de contratação apresentado à administração da Unicamp. O documento privilegiou o montante de energia a ser contratado, o prazo e a flexibilidade contratual, a garantia financeira e a viabilidade do investimento em energia incentivada.
O processo contou com a colaboração da Prefeitura Universitária, da Diretoria Geral da Administração (DGA), da Procuradoria Geral (PG) e da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi), por meio do Laboratório Vivo de Transição, Eficiência e Sustentabilidade Energética Campus Sustentável Unicamp.
Ligado à Câmara Técnica de Gestão de Energia, o Campus Sustentável Unicamp desenvolve, desde 2017, ações, pesquisas e projetos, estabelecendo um modelo de gestão energética nos campi da Unicamp. Apoiado pela Reitoria, um desses trabalhos resultou na criação do GTAC-ENER, que visa à melhoria do processo de compra de energia elétrica. “Antes mesmo do Campus Sustentável Unicamp ser institucionalizado — o que foi fundamental para que continuássemos esse processo de melhorias, até mesmo pelo respaldo da academia com relação às medidas a serem tomadas —, muitas vezes, nós, como área técnica, ficávamos presos à defesa do bem público”, finaliza Vicente Costa.
Matéria originalmente publicada no site do projeto Campus Sustentável.