Estreitar o contato entre a Unicamp e os estudantes de ensino médio, instigando o interesse pelos diversos campos do saber. Esse é o principal objetivo do programa Ciência e Arte nas Férias (CAF), que está realizando sua 19ª edição até o dia 3 de fevereiro. O encontro, que passou por um hiato durante a pandemia, retorna com um mês de atividades e a participação de 113 alunos vindos de 35 escolas públicas das regiões de Campinas, Limeira e Piracicaba. Entre os trabalhos, serão desenvolvidos projetos de iniciação científica, oficinas e visitas monitoradas em todas as áreas de conhecimento da Universidade, experiência essa que os participantes apresentarão no formato de pôsteres, no encerramento do evento.
Durante a solenidade de abertura do CAF, nesta segunda-feira (9), o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, João Marcos Travassos Romano, que representava a reitora em exercício, Maria Luiza Moretti, lembrou que os jovens ali presentes são o futuro e a esperança do país. De acordo com Romano, o Brasil passa por momentos recentes muito complexos e o apoio à educação, à ciência, às artes e às instituições são questões essenciais para a superação dessas dificuldades, o que passa pelo convívio e empatia entre as pessoas.
“Espero que o convívio de vocês aqui na Unicamp seja um momento de muito trabalho e de despertar de interesses, que seja também um momento empático, de troca de ideias e de abertura de mentes e corações”, comentou, lembrando ainda que a universidade tem a função primordial de formar as e dar asas às pessoas. “Mas não é exclusivamente formar para assumir uma profissão. É formar no sentido de dar conhecimento e amor ao conhecimento. É muito importante que vocês aproveitem essa oportunidade e vejam a beleza da ciência, da arte, do conhecimento e do pensamento”, enfatiza.
Também participaram da mesa de abertura do CAF os pró-reitores de Graduação e de Extensão e Cultura da Unicamp, Ivan Felizardo Contrera Toro e Fernando Antonio Santos Coelho, respectivamente, além do secretário municipal de Educação de Campinas, José Tadeu Jorge, que foi reitor da Unicamp nas gestões 2005-2009 e 2013-2017. “Espero que esse programa possa servir para vocês constatarem que a Unicamp é, sim, um sonho realizável. Que essa convivência ajude a quebrar barreiras e que vocês vejam que nossos pesquisadores, professores e cientistas são quase todos normais”, brincou José Tadeu.
Ciência e Transdisciplinaridade
A cerimônia de abertura do Ciência e Arte nas Férias contou ainda com uma palestra proferida por Ana Elisa Assis, professora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e coordenadora do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS). Em sua apresentação, a docente tratou da diferença entre ciência e ciências, a partir da abordagem dos pensadores Edgar Morin e Boaventura de Sousa Santos, para argumentar sobre a importância de aspectos como transdisciplinaridade e trabalho em conjunto na prática científica.
“A transdisciplinaridade ocorre quando fica difícil diferenciar o que pertence a uma disciplina ou outra. Não é mais possível falar que um assunto é das biológicas, exatas ou humanas, e a gente começa a ver que separar [o saber] por ‘ciências’ já não faz mais sentido”, explica. “Ciência é o conjunto, a soma de todos os conhecimentos, e ‘ciências’ são as áreas que compõem esse conjunto. E como elas se relacionam? Por meio da transdisciplinaridade”, revela.
A professora explicou aos alunos que todas as oficinas realizadas no Ciência e Arte nas Férias serão pautadas pela transdisciplinaridade. Por esse motivo, ela finalizou apresentando sete ferramentas que poderão auxiliar os estudantes a terem um pensamento transdisciplinar e a aproveitarem melhor as atividades do mês, a partir das obras Os sete saberes necessários à educação do futuro, de Edgar Morin, e Um discurso sobre as ciências, de Boaventura de Sousa Santos.
Essas sete ferramentas incluem ensinamentos sobre como entender que errar faz parte do processo de aprendizagem e que o contexto social importa ao fazer ciência; que cada ser humano é diferente e que precisamos cuidar da Terra porque dependemos dela para sobreviver; que é preciso enfrentar as incertezas, entendendo que algumas coisas não podem ser planejadas; que é necessário respeitar e tolerar a opinião do outro e agir segundo a ética humana.
“Somos um e todos ao mesmo tempo. Levar adiante essa ética do gênero humano é parte do pressuposto de que você e eu somos iguais, mas que a nossa igualdade também pressupõe uma diferença. Isso é extremamente relevante porque a gente não faz ciência se não conseguir estabelecer um parâmetro de diálogo”, afirma Assis, finalizando sua palestra com um questionamento: “Se as ciências juntas são ciência e se somos todos um, nós somos ciência também?”.
Assista reportagem produzida pela TV Unicamp sobre o Ciência e Arte nas Férias: