Teve início nesta terça-feira (17) a edição 2023 do Programa Ciência e Arte “Povos da Amazônia” (Capam 2023). Realizada pela parceria entre a Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Banco Santander, a iniciativa traz para Campinas estudantes da UFPA, membros de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas para um mês de atividades científicas e culturais junto a pesquisadores e alunos da Unicamp. O programa tem o objetivo de enriquecer os trabalhos desenvolvidos na universidade com novos saberes e perspectivas dos jovens paraenses. As atividades vão até o dia 16 de fevereiro.
A abertura do programa contou com a participação da reitora da Unicamp em exercício, Maria Luiza Moretti; da pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA, Maria Iracilda Sampaio; dos pró-reitores de Pesquisa, Graduação e Extensão e Cultura da Unicamp, João Marcos Romano, Ivan Toro e Fernando Coelho, respectivamente; e do gerente comercial do Santander Universidades, César Torini.
Neste ano, foram selecionados 20 estudantes de graduação das áreas de exatas, humanas, biológicas e saúde, oriundos de oito campi da UFPA. Dez deles são representantes de comunidades quilombolas, cinco de comunidades indígenas e cinco de grupos ribeirinhos e extrativistas. "Trouxemos o coração da UFPA para estarem com vocês durante esse período. Tenho certeza de que o Capam 2023 vai mudar a vida dos estudantes para sempre”, avaliou Maria Iracilda Sampaio, que destacou a representatividade feminina no grupo, com 17 mulheres e três homens.
Durante a permanência na Unicamp, os estudantes integrarão atividades ligadas a quatro projetos de pesquisa, cada um com cinco participantes, que serão desenvolvidos de terça à sexta-feira, das 8h30 às 17h30. A distribuição dos estudantes pelos projetos foi feita de acordo com sua proximidade com as áreas de seus cursos de graduação. Às segundas-feiras, eles participarão de oficinas científicas e culturais em grupo, também em período integral. As atividades serão conduzidas por docentes e pesquisadores da universidade.
A organização do Capam fornece estadia e alimentação aos estudantes. Graças à parceria com o Banco Santander, eles têm pagas as passagens aéreas e recebem um auxílio no valor de R$ 2,5 mil. “Um dos pilares de nossa instituição é promover a educação e a inclusão. Para nós, é uma alegria fazer parte desta iniciativa”, comentou César Torini.
Segundo o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, o programa traz benefícios para as duas instituições. Os estudantes da UFPA enriquecem sua formação e fortalecem suas comunidades com as vivências científicas e culturais, enquanto os pesquisadores da Unicamp têm contato com novos panoramas e desafios de pesquisa. "Vocês são o futuro do país. Temos muitos desafios para superar em relação à sustentabilidade, à água e à preservação da Amazônia. É a geração de vocês que irá apontar soluções definitivas para esses desafios”, pontuou João Marcos Romano.
Para Maria Luiza Moretti, o Capam é mais uma das formas com que a Unicamp promove a inclusão e amplia a diversidade no espaço acadêmico. "A universidade fica muito feliz em receber essas atividades. No futuro, cada um de vocês fará a diferença onde quer que estiverem."
Um aprende com o outro
Entre os estudantes, as expectativas são de aprendizados e experiências que os tornarão grandes pesquisadores, de forma a fortalecerem seus povos e saberes tradicionais. Aluna de História do campus de Belém, Josinele da Silva Nunes já esteve na Unicamp em 2022, durante o Encontro Nacional de Estudantes Indígenas (Enei). A jovem é da etnia Galibi-Marworno, natural da cidade de Oiapoque (Amapá), na divisa com a Guiana Francesa, e atual presidente da Associação dos Povos Indígenas Estudantes da UFPA. Ela espera compartilhar com os colegas e com sua comunidade a experiência obtida com o programa. “Existem iniciativas de levar o conhecimento até nós, mas precisamos também de estratégias para não deixar nossos saberes engavetados", explica.
A expectativa é compartilhada por Lucirlândia Santos Tambe, jovem da comunidade quilombola de Itamoari, em Cachoeira do Piriá (Pará). Aluna de Pedagogia, ela destaca a satisfação de representar a diversidade existente na própria universidade, em especial, seu campus, na cidade de Bragança. “É uma experiência riquíssima, espero que outros se inscrevam nos próximos anos."
Entre os docentes e pesquisadores da Unicamp, também se espera a troca de conhecimentos. Responsável por uma oficina de produção de desenhos animados, que será realizada em 23 de janeiro, o animador e professor do Instituto de Artes (IA) Wilson Lazaretti afirma que a participação dos paraenses na criação de animações é importante para que as produções não reproduzam estereótipos e possam trazer não apenas temas, mas o tempo e a estética de povos indígenas. “Existem temas muito importantes que podem ser abordados, como o garimpo, as línguas yanomamis, aliando isso ao traço dos desenhos indígenas”, comenta o docente.