Escola de Verão prepara universitários para maratonas de programação

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Curso acarreta uma série de benefícios para os estudantes, a exemplo do treinamento de soft skills, como capacidade de trabalhar em equipe, de concentração e de controle do nervosismo

Acontece entre 23 de janeiro e 4 de fevereiro, no Instituto de Computação (IC) da Unicamp, mais uma edição do Brazilian ICPC Summer School, escola de verão voltada a preparar estudantes universitários para a maratona mundial de programação International Collegiate Programming Contest (ICPC). Na competição, que tem cinco horas de duração, equipes formadas por três alunos são instadas a resolverem uma lista com diversos problemas computacionais. Vence o time que resolver o maior número de questões em menos tempo.

Organizada pela Unicamp desde 2012, a Escola de Verão traz ainda uma turma dedicada ao preparo dos alunos que irão participar da etapa brasileira da competição, organizada pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC). O evento ocorre ao longo de duas semanas, de segunda a sábado, e abrange aulas teóricas com grandes especialistas em programação competitiva, 50 horas de simulados de problemas de programação e palestras com os patrocinadores do encontro, que, neste ano, inclui as empresas Vtex, Stone, Motorola, Eldorado, Rei do Pitaco, Alura, ProFusion e Via Consulting.

O professor do IC Rafael Schouery, que é diretor da Brazilian ICPC Summer School, explica que o evento visa a reforçar o ensino de tópicos como algoritmos, teoria da computação, matemática e geometria, que a maioria desses alunos aprende de forma mais básica em seus respectivos cursos. Ele comenta que, para além do aspecto competitivo e de formação, esse tipo de curso acarreta uma série de benefícios para os estudantes, a exemplo do treinamento de soft skills, como capacidade de trabalhar em equipe, de concentração e de controle do nervosismo.

O professor do IC Rafael Schouery e o polonês Bartoz Kostka, da Google Canadá : para ministrar as aulas, a Escola de Verão convida ex-competidores ou técnicos de muito sucesso
O professor do IC Rafael Schouery e o polonês Bartoz Kostka, da Google Canadá : para ministrar as aulas, a Escola de Verão convida ex-competidores ou técnicos de muito sucesso

“Mas, de um ponto de vista um pouco mais pragmático, as empresas adoram pessoas que participam de maratonas, porque sabem que elas são ótimas programadoras”, comenta o docente. “Tanto é que muitas empresas como Amazon, Google e Facebook fazem seus processos seletivos bem parecidos com essas competições, apresentando um problema para o candidato explicar como resolveria, talvez até escrevendo algum tipo de código na lousa. A gente tem ex-maratonistas em todas as big techs do mundo ou mesmo criando suas próprias empresas de sucesso”, revela.

Apesar de ter como foco os alunos universitários que se classificaram para a competição mundial ou que irão participar da etapa nacional, também são convidados para o curso alunos do Ensino Médio que tiveram bom desempenho na Olimpíada Brasileira de Informática (OBI) ou na Olimpíada Internacional de Informática (IOI, na sigla em inglês). O objetivo, segundo Schouery, é atrair estudantes para conhecer a Unicamp e gerar neles o interesse pela Universidade, que, desde 2019, mantém uma modalidade de ingresso pelo desempenho em olimpíadas de conhecimento.

Para ministrar as aulas, a Escola de Verão convida ex-competidores ou técnicos de muito sucesso. Neste ano, a turma brasileira, que treina os alunos de estágios iniciais, tem quatro professores nacionais, enquanto os estudantes de níveis mais avançados, que estão classificados para o mundial ou são medalhistas da nacional, acompanham aulas ministradas por especialistas estrangeiros, em inglês. “Sempre tentamos trazer professores de grande renome, que tiveram bom desempenho em campeonatos internacionais como participantes ou treinadores, porque já treinamos esses alunos no dia a dia, então precisamos de profissionais que tenham um conhecimento além”, observa Schouery.

Uma dessas pessoas é o polonês Bartosz Kostka, que atua como desenvolvedor de software no Google Canadá e foi professor de Ensino Médio, levando seus alunos a ganharem 29 medalhas em olimpíadas de informática. Durante a Escola de Verão, ele abordou tópicos como algoritmos, matemática relacionada a permutação e a teoria dos jogos, elogiando o desempenho dos estudantes. “Eu realmente gosto que a maioria das aulas são muito interativas. Os alunos compartilham suas ideias, fazem perguntas e participam bastante”, exalta Kostka, que ainda comentou o papel desses treinamentos na formação dos alunos. “Eles aprendem a cooperar uns com os outros e expandem seus horizontes, descobrindo uma gama de problemas interessantes que podem resolver.”

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Neste ano, a turma brasileira, que treina os alunos de estágios iniciais, tem quatro professores nacionais

Presença feminina

Visando a aumentar a participação feminina nas competições, desde 2019, todas as alunas têm isenção na taxa de inscrição para a Escola de Verão. Além disso, as estudantes que tiveram bom desempenho nas competições podem ter sua vinda para o curso financiado, incluindo passagem, estadia e alimentação. Como resultado, enquanto em 2019 apenas 8 mulheres participaram do encontro, em 2023, esse número subiu para 45, das quais 31 tiveram todos os seus gastos custeados pela Escola ou por patrocinadores.

Outra medida para aumentar a participação delas foi a decisão, por parte da maratona, de abrir uma vaga exclusiva na final brasileira para o time feminino que tivesse o melhor desempenho nas regionais. A equipe vencedora de 2022, que participará da final em março de 2023 em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, é formada por três alunas da Unicamp: Karyn Allyson Dassie Huamán, da Engenharia Física, Larissa Gomes, da Ciência da Computação, e Yasmin Kaline, da Engenharia de Controle e automação.

As mulheres têm insenção na taxa de inscrição para estimular o aumento da participação feminina 
As mulheres têm insenção na taxa de inscrição para estimular o aumento da participação feminina

As alunas contam que tiveram experiências bem distintas com programação em suas vidas. Enquanto Karyn só conheceu o tema quando entrou na faculdade, Larissa já programava no ensino técnico em Eletrônica, mas de maneira básica. Yasmin, por outro lado, começou aos 14 anos, programando jogos e pouco tempo depois atuando com robótica durante o Ensino Médio técnico e participando de competições como a Olimpíada Brasileira de Informática.

As universitárias revelam que se conheceram somente no dia da competição regional de São Paulo, por intermédio de uma iniciativa do IC, que queria formar times femininos, e que esta foi a única competição de que participaram até agora como um time. Apesar do frio na barriga, elas estão confiantes de que se sairão bem na competição, pois a Escola de Verão tem trazido uma evolução significativa em seu dia a dia. “É uma experiência muito imersiva. Ficamos aqui o dia inteiro, todos os dias, de segunda a sábado. É muito cansativo, mas ao mesmo tempo estamos aprendendo tanta coisa nova que dá para ver nosso avanço a cada dia que passa”, conclui Larissa.

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As universitárias Karyn Allyson, Larissa Gomes e Yasmin Kaline: apesar do frio na barriga, elas estão confiantes de que se sairão bem na competição

Competição mundial

Essa é a primeira Escola de Verão que a Unicamp realiza presencialmente após a pandemia de covid-19, uma vez que, em 2021, o encontro não aconteceu, e em 2022, ocorreu online. Ao todo, 200 estudantes participam do curso, que recebeu mais de 350 inscrições de pessoas de vários países latino-americanos, como Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru, dos quais 25 estão classificados para a próxima edição da final mundial, que acontecerá no Egito.

É o caso de Frederico Bulhões, estudante de ciência da computação da USP que integra uma das equipes classificadas para a final mundial. Frederico já esteve três vezes na final brasileira e uma vez na mundial e conta que participa da Summer School da Unicamp desde 2017, quando ainda era um estudante de Ensino Médio competindo nas Olimpíadas de Informática e conquistou a medalha de bronze na competição internacional.

Para o aluno, as maratonas mundiais são muito mais complexas do que as olimpíadas de informática, porque envolvem um desafio maior de interagir como equipe e de fazer uma prova com mais conteúdo. Ele revela que, historicamente, o Brasil teve resultados muito bons nessas maratonas, mas que eles competem com universidades de excelência do mundo todo, o que torna muito difícil conquistar uma medalha. “Geralmente, são as 15, 20 melhores instituições de cada continente, então vencer é muito difícil. Por isso, nossa meta não é competir para chegar ao topo, mas treinar e fazer o melhor que podemos para ganhar ao menos entre as universidades da América Latina”, esclarece.

O engenheiro de computação André Amaral e o estudante Frederico Bulhões:
O engenheiro de computação André Amaral e o estudante Frederico Bulhões: estudo, aprendizado e diversão

Já o engenheiro da computação André Amaral, que é professor de Ensino Médio e acompanha seus alunos da OBI na Escola de Verão, ressalta que existem poucos treinamentos desse tipo ao longo do ano, motivo pelo qual ele traz seus alunos para o evento. Apesar do foco da Olimpíada de Informática ser um pouco diferente da maratona de programação, com os alunos competindo individualmente, ela tem o mesmo espírito e o mesmo formato de questões. Além disso, acrescenta o professor, é um momento para que eles possam trabalhar em grupo e interagirem entre si, resolvendo as questões das provas em conjunto.

Amaral foi professor nas duas últimas edições da Escola e também está aproveitando o evento para assistir às aulas proferidas nas turmas avançadas e aprender com a experiência de outros professores. No entanto, ele argumenta que, para as pessoas presentes, o evento não é apenas um momento de estudo e aprendizado, mas também uma forma de diversão. “Os alunos que estão aqui se divertem muito resolvendo problemas de programação. Quando resolvemos uma questão durante uma prova, principalmente as mais difíceis, é uma sensação de alegria enorme. É muito divertido, e por isso estamos aqui em nossas férias”, garante.  

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Organizada pela Unicamp desde 2012, a Escola de Verão traz ainda uma turma dedicada ao preparo dos alunos que irão participar da etapa brasileira da competição, organizada pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC)

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004