A entrega de uma proposta de master plan para a área do Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável — o HIDS —, em 2022, marcou uma fase importante do convênio firmado entre a Unicamp, a Prefeitura de Campinas e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Elaborada pelo instituto coreano KRIHS (Korea Research Institute for Human Settlement), a proposta sugere a criação de duas centralidades mais adensadas, com uso misto (incluindo habitação, áreas corporativas, comércio e serviços) e áreas predominantemente residenciais (com 10% de comércio e serviços), com 15% de habitação de interesse social e com densidade decrescente à medida em que se aproximam das áreas de várzea. As únicas áreas exclusivas para atividades tecnológicas são aquelas já existentes e a área da Fazenda Argentina, mais economicamente viável para esse tipo de uso.
A Secretaria de Planejamento e Urbanismo (Seplurb) da Prefeitura de Campinas reformulou a proposta de uso e ocupação do solo para a região, incorporando alguns elementos da proposta do KRIHS, por exemplo, o uso misto do solo, e ainda sugestões formuladas no âmbito do curso Especialização da FECFAU (Faculdade de Engeharia Civil, Arquitetura e Urbanismo) da Unicamp, como a criação do parque Anhumas. A Seplurb ainda acrescentou ao HIDS uma nova área de expansão ao norte, chamando-a de Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS). Atualmente, o Projeto de Lei é objeto de um processo participativo que vai coletar sugestões da comunidade para aperfeiçoamento do texto antes do envio à Câmara de Vereadores.
Na atual fase do HIDS, o desafio é consolidar o papel da Unicamp como provedora de novos conhecimentos, tecnologias e inovações para o desenvolvimento sustentável. “A ocupação da Fazenda Argentina com projetos alinhados à Agenda 2030 tem um forte potencial de atração de empresas, startups, empreendedores e de empreendedorismo social que se unam à Unicamp em desafios como o da produção sustentável de alimentos ou da transição energética”, afirmou o reitor da Unicamp, Antonio Jose de Almeida Meirelles. “Mais do que isso, o HIDS reforça o compromisso da Unicamp com a sustentabilidade e nos ajuda a construir a universidade que queremos para o futuro”, complementou o reitor.
“Estamos no início das discussões que vão resultar em uma proposta de ocupação da Fazenda Argentina e, nesse processo, é fundamental conhecer os projetos de ensino, pesquisa e extensão (já em andamento ou em fase de elaboração) alinhados com a Agenda 2030, assim como identificar interesses e demandas da comunidade acadêmica da Unicamp em relação aos espaços a serem ocupados na Fazenda Argentina”, explicou Mariano Laplane, coordenador da equipe de implantação do HIDS Unicamp.
Para esta consulta, que tem caráter preliminar e prospectivo, foi elaborado um questionário, disponível no site do HIDS, para ser respondido pela comunidade acadêmica. Ele tem dois objetivos: fazer um mapeamento de projetos — de ensino, pesquisa e extensão — relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030, seja em andamento, seja em fase de elaboração, e identificar demandas e interesses de desenvolver projetos na área da Fazenda Argentina.
Sustentabilidade como princípio
No master plan desenvolvido pelo KRIHS, a proposta é introduzir, na região do HIDS, uma série de atividades complementares necessárias à criação de um ecossistema de inovação de quarta geração, no qual, além do governo, da universidade, da indústria e da sociedade, o meio ambiente também é incluído. Assim, para que o HIDS Unicamp se consolide como um projeto bem-sucedido, é fundamental que seja exemplar na sua interação com o ambiente em todos os seus componentes: ar, terra, água, energia, flora e fauna.
A gestão da sustentabilidade em relação ao patrimônio ambiental do HIDS está calcada em dois conceitos distintos, mas complementares: o uso sustentável de recursos e a integridade ambiental.
O primeiro incorpora as práticas já consagradas nos últimos anos, que caracterizam os diferentes aspectos da economia verde, tais como o uso mais eficiente e racional dos recursos hídricos, a busca por energias limpas e com baixa emissão de carbono nos processos produtivos, a gestão de resíduos etc. O segundo reflete-se no conjunto de medidas que induz o desenvolvimento preservando a capacidade do ambiente de reter suas comunidades naturais, não só impedindo o empobrecimento destas, mas criando condições capazes de promover resiliência e crescimento populacional da biodiversidade local.
“Nosso compromisso com a Agenda 2030 vai além de um simples cumprimento formal de seus objetivos, mas expressa a convicção de que esses objetivos são relevantes e necessários para a transformação das nossas relações com as pessoas e o ambiente. Portanto, queremos que nossos parceiros empresariais e institucionais também adotem essa perspectiva em seus projetos e iniciativas”, aponta o texto dos princípios norteadores do HIDS Unicamp.
“Destacamos que essa é uma consulta prévia, que tem como objetivo mapear projetos alinhados aos 17 ODS da ONU e identificar interesses em ter projetos de ensino, pesquisa e extensão instalados no HIDS Unicamp. Essas informações irão colaborar na elaboração de um plano de ocupação da Fazenda Argentina que reflita ao mesmo tempo a visão de sustentabilidade da Unicamp e as demandas e interesses da comunidade universitária”, frisou Laplane.
Estudos de compatibilidade
Em parceria com o Centro de Estudos sobre Urbanização para o Conhecimento e a Inovação (Ceuci), foi elaborado um estudo da proposta de master plan do KRIHS buscando compatibilizar a ocupação da área da Fazenda Argentina com os corredores ecológicos, projeto da Coordenadoria de Sustentabilidade da Unicamp (CSus). Também foram iniciados estudos de volumetria de implantação de edifícios, segundo as diretrizes do Projeto de Lei da Prefeitura de Campinas. Os estudos estão sendo elaborados pela pesquisadora do Ceuci, a arquiteta Marcela Noronha. “Segundo a proposta do Instituto coreano, a ocupação da Fazenda deve acontecer em três fases distintas”, explica Gabriela Celani, que coordena o Ceuci. “Com esses estudos de compatibilização que estamos fazendo, já é possível fazer previsões mais concretas para a instalação de edifícios que virão a ser centros de pesquisa, laboratórios, espaços para empresas ligadas à inovação em parceria com a Unicamp etc., nessa primeira fase de ocupação”, conclui Celani.