A fonoteca do Instituto de Artes (IA) da Unicamp teve seu acervo enriquecido pela coleção CDSON, doada pelo Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS), vinculado à Coordenadoria dos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen). São mais de 5 mil discos de vinil, provenientes de vários países, épocas e gêneros musicais, com clássicos e raridades de música erudita, sacra e popular, agora disponíveis ao público.
A maior parte da coleção CDSON foi doada à Unicamp na década de 1990 pelo então adido cultural da embaixada francesa no Brasil, Pierre Montouchet — que, além do acervo, deixou diversos bens valiosos para a universidade em seu testamento.
"São discos que não tínhamos, inclusive alguns bem raros, que fogem do convencional e chegam para enriquecer nosso acervo", diz Daniel Beraldo, responsável pela fonoteca do IA, que, após a doação do NICS, conta com cerca de 11 mil LPs no total. "Qualquer pessoa que tenha interesse pode vir, consultar o acervo, escolher o disco e escutar no aparelho de som que temos no atendimento", orienta.
O coordenador do NICS, Manuel Falleiros, destaca o valor histórico e cultural dos discos reunidos por Montouchet. "Na época pré-internet, esse acervo foi de uma importância ímpar para os alunos de música e artes, por ser uma seleção de interesse musicológico”. Nos últimos anos, contudo, o acervo CDSON ficou guardado, sem uso efetivo.
Após avaliar diversas possibilidades para o melhor aproveitamento dos LPs, a equipe do NICS chegou à conclusão de que a opção mais indicada seria a doação para a fonoteca do IA, que possui serviço de catalogação contínua.
“Conseguimos trazer esse conjunto de obras para o lugar certo. Agora, teremos um novo aproveitamento dessa coleção, no sentido da difusão cultural. Outra questão também é que há um interesse de arqueologia da mídia. Temos alunos hoje que nunca viram um LP, não sabem como funciona. Isso também é uma forma de aprendizado. Atualmente, trabalhamos de maneira muito digital, mas explicar como a natureza de uma mídia se desenvolve é também explicar processos de inovação — como foi, por exemplo, sair de uma mídia física para uma digital”, diz Falleiros, que assumiu a coordenação do NICS em 2022.
Garimpo sonoro
"Conversamos com pesquisadores antigos da universidade para resgatar a história do acervo. Assim, soubemos que o Pierre Montouchet era colecionador de discos e viajou pelo mundo, adquirindo LPs em vários países”, conta o profissional de assuntos administrativos do NICS, Dante Pezzin.
“Para quem é um colecionador bem modesto de vinis, como eu, é incrível vasculhar esse acervo. Um dos primeiros discos que peguei, por exemplo, era do Milton Nascimento, daqueles exemplares que, nos sebos, custam caro”, diz Dante, que se debruçou, junto com a estagiária Geovana Marchezoni, também do NICS, no trabalho de garimpar a mina de LPs, reconstituir sua história, localizar seu catálogo e formalizar sua doação à fonoteca.
A equipe do NICS observa ainda que, além da disponibilização da coleção para o público, a fonoteca conta com uma estrutura física mais apropriada para a manutenção do acervo.
Geovana, que estuda ciências sociais no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), exalta o valor cultural da coleção e a importância de sua disponibilização à comunidade. "Saber que os discos estão em um lugar apropriado, dentro da universidade pública, onde as pessoas podem acessar, é algo excelente para quem trabalha com ciência e arte, em especial porque a gente vem de um processo muito difícil de desvalorização da cultura", avalia a estudante.
A difusão do acervo ainda será expandida através de um novo podcast do NICS. Professores convidados farão análises sobre a relevância musical e histórica dos discos do acervo. O projeto do podcast foi aprovado no último edital da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), e deve ser lançado no início do segundo semestre deste ano.