O mês de março, que termina nesta sexta-feira (31), marcou os três anos do início da pandemia de covid-19. Também foi o mês em que o Brasil atingiu a triste marca dos 700 mil mortos. A boa notícia foi divulgada recentemente pela Organização Mundial da Saúde, que alterou as recomendações para a vacinação contra a doença. A OMS criou uma classificação de risco simplificada que dispensa doses adicionais aos adultos saudáveis.
Os três anos que passaram foram marcados pelo protagonismo da ciência. Ainda em fevereiro de 2020, pesquisadores conseguiram determinar a estrutura de DNA do SARS-CoV-2, possibilitando, pela primeira vez na história, o uso desse conhecimento para construir, em tempo real, respostas de saúde pública a uma pandemia.
Uma dessas respostas foi o desenvolvimento, em tempo recorde, de vacinas seguras e muito eficazes na prevenção das formas graves da covid, já que conhecer a estrutura do agente infeccioso permitiu investigar as formas como ele atua e produz a enfermidade.
Uma novidade foi o uso de vacinas que utilizam a tecnologia de carreamento de RNA, o material genético do vírus. Para o docente do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp Alessandro Faria, que chefia o Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, a finalização dessas vacinas foi agilizada porque o mundo inteiro parou para focar apenas nesse assunto. Além disso, havia um nível de financiamento à pesquisa nunca visto antes.
A Unicamp se destacou com a criação de uma Força-Tarefa contra a Covid-19. A iniciativa colocou a infraestrutura da universidade a serviço da luta contra a doença (veja mais detalhes no vídeo abaixo). Atualmente, a Universidade continua realizando cerca de 500 testes por semana, embora grande parte seja de maneira preventiva, como no caso de testes em pacientes que irão se submeter a transplantes.
Para a infectologista Raquel Stucchi, um aprendizado da pandemia de covid-19 foi que, hoje, a sociedade está preparada para atuar de maneira mais rápida em emergências de saúde pública. Por outro lado, ela também acredita que ainda não aprendemos a lidar com as desigualdades entre as nações. “Tivemos um conhecimento grande adquirido sobre as formas de controlar e prevenir a doença, mas a distribuição das medicações e vacinas ainda é muito desigual, privilegiando os países ricos e mantendo sob risco as nações economicamente desfavorecidas. Isso, infelizmente, a pandemia não conseguiu mudar”.
Educart: uma ferramenta com várias funcionalidades
A retomada das aulas presenciais na Unicamp em meados de março de 2022 foi marcada por uma novidade. A fim de garantir o distanciamento dos estudantes em sala de aula, a Universidade adquiriu 220 Equipamentos de Transmissão Inteligente (ETIs), em um modelo que foi denominado na Unicamp de “salas gêmeas”. Os equipamentos, chamados de robôs educacionais ou Educart, fazem parte de uma das ações adotadas pela Universidade no âmbito da Força-Tarefa para a retomada das atividades no período em que a pandemia começava a perder força.
Os aparelhos ETIs têm a capacidade de captação e difusão de vídeo e áudio em tempo real, e o conteúdo gravado pode ser compartilhado em diferentes salas. No início, os aparelhos seriam destinados a atender as salas mais numerosas, num sistema de rotatividade entre os professores, de forma que, ao longo do semestre, todos os estudantes da turma tivessem aulas na sala principal onde estava o professor.
Nesse contexto, foi possível, por exemplo, garantir o funcionamento de salas de aula observando o distanciamento entre os estudantes recomendado pelas autoridades sanitárias. Os ETIs também tornaram possível a presença virtual de professores e de estudantes que estavam obrigados a ficarem em isolamento.
Por conta de sua versatilidade, no entanto, o equipamento, muito rapidamente, ganhou outras funcionalidades. “Conseguimos fazer um curso sobre Urbanização, Dinâmicas do Uso e Cobertura da Terra com sete convidados. Todos eles, em diferentes regiões do país”, conta o professor da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp Roberto Donato. “Ao invés de estimular o ensino à distância, o sistema vai fortalecer a presença”, acredita o professor.
Além desse exemplo, outras possibilidades de uso do Educart se multiplicaram no campus. O 46º encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) – um dos maiores eventos do setor no Brasil –, realizado na Unicamp em outubro de 2022, teve o suporte, em grande parte, dos robôs educacionais.
O mesmo ocorreu com o 23º Congresso de Leitura (Cole), realizado na Unicamp na segunda quinzena de fevereiro deste ano. De acordo com o professor da Faculdade de Educação Carlos Miranda, um dos organizadores do Cole, a avaliação foi positiva.
“Sim, nós usamos [o recurso] e temos uma avaliação muito positiva sobre o equipamento. Em muitas salas, o público ficou por causa dos robôs”, garante ele. “E houve possibilidade de abertura com a mesa. É muito interessante o fato de o Educart dispor de uma câmera pela qual a mesa pode ver a plateia. Esse contato visual era o principal elemento para nós. Saber que as pessoas não estão apenas dentro de uma sala virtual, mas que estão sendo vistas, isso era mais importante para nós”, acrescentou.
“Em algumas mesas houve a possibilidade de fazer o uso da palavra e isso foi muito positivo. A avaliação dos componentes das mesas e conferências foi muito positiva, e houve uma resposta muito positiva dos congressistas”, concluiu Miranda.
Paralelamente, passou a ser utilizado também, em bancas de defesa de tese, simpósios ou eventos, um sistema híbrido de presença.
Uso em áreas administrativas
O uso dos robôs educacionais acabou sendo utilizado também nas áreas administrativas da Universidade. A Central de Pregões da Diretoria Geral de Administração (DGA) comunicou, por exemplo, que planeja utilizar os robôs Educart em algumas situações de licitações regidas pela Lei de Licitações 14.133/21. De acordo com o órgão, o equipamento será usado em situações em que haja necessidade de gravação em áudio e vídeo.
A Escola de Educação Corporativa (Educorp) já assimilou a nova ferramenta. O supervisor da área de apoio educacional, Carlos Alberto Dias, diz que a escola conta com um aparelho e que encomendou mais dois. Segundo ele, o aparelho é usado em várias situações, desde eventos em auditórios até a gravação de aulas. Dias afirma que a Educorp chegou mesmo a criar o curso “Secretaria de Colegiado”, que ensina as pessoas a usarem o equipamento.
A Câmara de Mediação de Ações Colaborativas informa que está perto de iniciar o uso do equipamento. De acordo com o órgão, os mediadores estão apenas aguardando treinamento para que a ferramenta passe a ser utilizada. A Câmara tem como missão estimular o diálogo para a resolução de conflitos e para o fomento da cultura da paz na Universidade.
“Na prática, os robôs Educart foram completamente integrados à vida da Universidade”, avalia o professor Roberto Donato. “Em pouco tempo, as potencialidades do equipamento trouxeram novas perspectivas de uso. E é isso que se verifica hoje na Universidade”, reforçou a assistente de gabinete da Coordenadoria Geral da Universidade, Ana Paula Montagner.
A ferramenta
O professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação Matheus Souza, que integra o Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE), diz que a ferramenta cumpriu todas as finalidades para as quais foi adquirida.
Esse equipamento permite transmissões de som e imagem de alta qualidade, é versátil, pois pode ser levado de um lugar a outro com facilidade, e se mostrou útil mesmo depois de passado o momento mais crítico da pandemia.
O Educart é uma peça de três componentes. Aquela que o professor chama de carro – uma estrutura mecânico-elétrica móvel – na qual estão acoplados um monitor e uma câmera 4k (imagens com resolução de 4 mil pixels de largura), que transmite em full HD.
Essa câmera é algo que se recomenda para a captura de imagens em espaços amplos, mas é um dispositivo que consegue reproduzir movimentos como os gravados em close, e não só.
Acima da câmera, há um conjunto de microfones direcionais que têm a capacidade de identificar fontes de som. Combinando as propriedades de captação de sons e imagens com sistemas de inteligência artificial, as câmeras conseguem focar automaticamente uma determinada imagem.
Em um curto espaço de tempo, o dispositivo capta a imagem do rosto da pessoa que está falando, por exemplo. E essa funcionalidade é fundamental numa conferência ou numa aula, em que há interação entre palestrantes e plateia. Além disso, o aparelho consegue focalizar imagens ou mensagens que um professor, eventualmente, possa escrever na lousa.
“Quando faço uma avaliação, concluo que se trata de uma ferramenta muito boa. O temor que tínhamos no início era o de que o Educart pudesse ficar sem uso depois da pandemia. Mas isso, definitivamente, não se confirmou”, conclui o professor.
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