Um trabalho silencioso, desenvolvido por um pequeno grupo na Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU), tem sido vital para os resultados da Unicamp nos rankings acadêmicos.
Em parceria com as unidades, o grupo tem conseguido extrair dados estatísticos e informações qualitativas essenciais para se medir o desempenho da Unicamp em relação às demais universidades de todo o mundo.
A Unicamp está hoje entre as 200 melhores universidades do mundo, segundo avaliação QS World University Rankings 2023 divulgada em março. Em nove áreas de pesquisa, está entre as 100 do mundo. Esse desempenho se deve à capacidade da Universidade em produzir e disseminar conhecimento, mas também está associado à qualidade dos dados apresentados às empresas responsáveis pelo ranking.
A servidora Rosangela Leves, coordenadora da equipe de rankings da PRDU, conta que a coleta e sistematização dos dados são processos em constante aprimoramento, e, por conta disso, têm sido mais frequentes os contatos com os diretores de unidades.
“No ano passado, visitamos, presencialmente, 14 institutos e faculdades para mostrar aos diretores a importância de termos dados não apenas das grandes áreas, que já estão com a sistematização consolidada — casos das publicações científicas ou internacionalização —, mas também para dizer que precisamos avançar em áreas como as de reputação acadêmica, reputação empresarial e outras”, disse ela.
A coordenadora lembra que, para se chegar a dados mais próximos da realidade, o ranking da QS mede a reputação da universidade. Para fazer isso, a empresa solicita às universidades participantes a indicação de 400 referências acadêmicas — que são professores e pesquisadores — e 400 referências de profissionais não acadêmicos, potenciais empregadores de alunos e ex-alunos. Esses profissionais, acadêmicos e não acadêmicos, podem atestar a qualidade do ensino e da pesquisa na Universidade.
Rosângela Leves conta que, além da dificuldade de se obter o contato dos ex-alunos, há, ainda, o complicador da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) — que regula as atividades de tratamentos de dados pessoais.
“Nós temos de pedir autorização do ex-aluno para transferir eventuais dados dele para a empresa que elabora o ranking e, muitas vezes, esse processo é muito demorado”, argumenta.
Uma das saídas, diz ela, tem sido o Alumni Unicamp — uma comunidade virtual formada por ex-professores e ex-estudantes — que conta hoje com cerca de 6 mil membros. Mas, além disso, a parceria com as unidades, que enviam contatos de acadêmicos e profissionais não acadêmicos, tem sido de fundamental importância, ressalta a coordenadora
Apesar das dificuldades, os contatos do grupo com as unidades têm surtido efeito. Em 2022, a Unicamp conseguiu fazer 194 contatos acadêmicos. Neste ano, já foram 340. A evolução se deu também nos contatos empresariais, que subiu de 226, no ano passado, para 277. Rosângela Leves lembra, ainda, que essa lista precisa ser mudada todos os anos.
O grupo da PRDU mantém permanente interação com órgãos da Universidade, como a DAC (Diretoria Acadêmica), a Comvest (Comissão de Vestibular), a Pró-Reitoria de Graduação, a Aeplan (Assessoria de Economia e Planejamento), a Deri (Diretoria Executiva e Relações Internacionais) e o Edat (Escritório de Dados Institucionais e Suporte à Decisão), subordinado à CGU (Coordenadoria Geral da Universidade).
Segundo Leves, essa interação tem permitido a obtenção de dados que estão na Universidade, mas que acabam diluídos nas unidades. Por exemplo, o grupo vem tentando sistematizar dados como o histórico de vida do estudante. “Nós estamos sendo demandados sobre informações mais aprofundadas do perfil do aluno, como, por exemplo, se ele é o primeiro da família a ingressar numa universidade”, conta a coordenadora. “São dados que nós temos, que precisam ser sistematizados e que nós fornecemos às empresas responsáveis pelos rankings”, explica ela.
Dezenas de indicadores
O professor Renato Garcia, assessor na PRDU, explica que, apesar de avaliar instituições com objetivos diferentes, esses rankings classificam as universidades com base em informações sobre as grandes áreas — ensino, pesquisa, transferência de conhecimento e visão internacional —, mas não apenas.
Eles examinam dezenas de indicadores, cujos pesos variam de acordo com a região da instituição e com a área de conhecimento. Outro ranking, o THE Impact, elaborado pelo THE (Times Higher Education), é voltado para a avaliação das ações da universidade nas áreas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O THE Impact é completamente diferente dos demais. Ele possui uma parte quantitativa importante, mas também tem uma grande parte em que a Unicamp precisa fornecer evidências das ações desenvolvidas pela universidade. Como ele é voltado para os 17 ODS, o ranking mede o quanto a universidade está engajada com esses objetivos”, exemplifica ele.
O professor acredita que o aprofundamento das informações resultará em melhores dados, mas ressalta a importância da parceria entre a PRDU e as unidades. “Não tenho dúvidas de que ter informações mais organizadas acaba desempenhando um papel fundamental para a definição da posição da universidade dentro do ranking”, afirma ele.
Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário da Unicamp, o professor Fernando Sarti lembra que, cada vez mais, as universidades estão criando estruturas internas para a organização dessas informações, e não apenas para o ranking.
“É importante, porque [essa organização] irá trazer, para dentro da universidade, uma série de indicadores, de forma que a instituição possa gerir melhor esses dados e que o emprego dessas informações possa ter impactos não apenas na pesquisa, mas também em programas de extensão, amplificando o impacto da atuação da Universidade junto à sociedade”, finaliza.