Unicamp desenvolve desinfetante que gelifica no instante da aplicação

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Na limpeza de superfícies que requerem controle contra a proliferação de micro-organismos, alcançar frestas, poros e ranhuras pode ser algo bem trabalhoso e que demanda diferentes produtos. Soluções aquosas tendem a escorrer facilmente das superfícies, reduzindo o tempo de ação, e outras em gel podem não ser tão eficazes e seguras, comprometendo a higienização. Uma composição desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, contudo, consegue juntar o melhor dos dois mundos.

“O objetivo da pesquisa foi desenvolver um desinfetante com alto poder bactericida que ao ser aplicado na forma aquosa reagisse no local formando instantaneamente um gel, com uma composição menos tóxica e menos corrosiva para a limpeza de ambientes e diferentes superfícies”, disse o professor e pesquisador da Unicamp Edvaldo Sabadini.

O invento se baseia em um dos fundamentos da química, como comenta o pesquisador responsável pelo estudo. “O mesmo mecanismo, denominado por efeito hidrofóbico, que levou à formação das membranas nos organismos mais primitivos ligados à origem da vida, promove a formação do gel bactericida”, explica. Trata-se da criação de micelas gigantes, agregados moleculares também conhecidos por seu formato alongado, como mostrado na imagem obtida por microscopia eletrônica de uma solução de micelas congeladas.

A nova formulação contém dois compostos muito conhecidos no mercado por seu poder bactericida, sendo usados em enxaguantes bucais. São eles o cloreto de cetilpiridínio e o timol. “A literatura já relata a ação bactericida do cetilpiridínio e do timol há muito tempo. Acreditávamos que as duas substâncias bactericidas apresentavam todas as características estruturais necessárias para a formação das micelas gigantes em água e isso foi demonstrado no trabalho de mestrado do Rafael Ishikawa”, disse o pesquisador. 

O pesquisador Rafael Ishikawa e o professor Edvaldo Sabadini demonstraram a formação de micelas gigantes de cetilpiridínio e timol
O pesquisador Rafael Ishikawa e o professor Edvaldo Sabadini demonstraram a formação de micelas gigantes de cetilpiridínio e timol

Transição de fase

A formação dos hidrogéis ocorre quando as duas substâncias, que se encontram dissolvidas em água, mas em compartimentos separados, são combinadas no spray. Separadas, elas apresentam a mesma viscosidade da água, mas quando combinadas formam rapidamente o gel. A malha formada é capaz de aprisionar uma grande quantidade de água, apresentando as características de um gel bactericida.

Um aspecto interessante da invenção capaz de gerar inovação no setor de produtos de limpeza é a viscosidade do gel, que pode ser facilmente ajustada variando-se concentração e proporção dos dois componentes. Géis mais consistentes podem ser obtidos usando uma concentração maior de micelas gigantes, pois, nesse caso, formam-se mais desses “espaguetes moleculares”, que, portanto, se entrelaçam mais. 

“Quando você combina esses dois ingredientes, além da produção do gel, cria um sinergismo em relação ao poder bactericida.” Testes realizados em laboratório demonstraram que o produto apresenta especial sinergia contra uma espécie de Salmonella causadora de infecções recorrentes na criação de suínos. 

Aplicações

De acordo com Sabadini, o desinfetante em gel pode ser empregado na limpeza de diferentes superfícies – como metal, plástico, vidro, madeira e azulejos –, e principalmente na limpeza de superfícies mais porosas e inclinadas, nas quais é desejável que o produto mantenha sua atuação desinfetante por algum tempo sem escorrer.

“Você pode ter um gel bactericida colocando polímero em uma formulação bactericida, mas, nesse caso, o gel pode não atingir regiões mais restritas, por ser viscoso. O diferencial desta invenção é que o aumento de viscosidade somente ocorre quando os dois líquidos, pouco viscosos se separados, entram em contato. Com isso você consegue uma maior cobertura de superfícies porosas e uma melhor desinfecção”, exemplifica.

A formulação proposta no invento não contém hipoclorito de sódio, sendo uma alternativa para boa parte dos produtos de limpeza disponíveis no mercado. O composto não apresenta desvantagens como degradação do ativo por ação microbiana ou degradação química.

O gel bactericida também não tem propriedades corrosivas, que podem danificar equipamentos, sendo essa uma outra vantagem. As micelas agem sem agredir a estrutura que estão higienizando. O produto ainda é lavável e de fácil remoção. Ao aplicar água na superfície que recebeu o gel, a diluição resulta na desagregação instantânea das micelas gigantes, e seus componentes podem ser então facilmente removidos.

Transferência de tecnologia

O ineditismo da pesquisa científica e o potencial de aplicação industrial da composição antimicrobiana levaram a Agência de Inovação Inova Unicamp a solicitar a proteção da propriedade intelectual do invento junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Atualmente, a tecnologia faz parte do Portfólio de Patentes da Unicamp e está disponível para licenciamento.

Empresas e instituições públicas ou privadas interessadas na transferência da tecnologia para inovação de seus produtos ou processos podem entrar em contato diretamente com a Inova Unicamp pelo formulário de conexão pesquisa-mercado disponível no site da agência. Além do acesso a tecnologias de ponta, a transferência de tecnologia reduz riscos associados ao desenvolvimento de novos produtos e processos inovadores e colabora para o desenvolvimento socioeconômico baseado no conhecimento científico.

Matéria originalmente publicada no site da Inova Unicamp.

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O pesquisador Rafael Ishikawa: o objetivo da pesquisa foi desenvolver um desinfetante com alto poder bactericida que ao ser aplicado na forma aquosa reagisse no local formando instantaneamente um gel

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004