O arquiteto Joan Villá, responsável pelo projeto arquitetônico da Moradia Estudantil da Unicamp, visitou a residência universitária nesta segunda-feira (24). Acompanhado de cerca de 130 alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, onde leciona, ele rememorou o período em que foi construído o conjunto habitacional, destacando o processo participativo realizado dentro da comunidade acadêmica antes que fosse definido o desenho final do projeto. Em diálogo com representantes da Universidade, ele também falou sobre os desafios e propostas de ampliação e revitalização da moradia.
O projeto da moradia, lembrou Joan Villá, teve início após uma reivindicação de alunos da Unicamp. “Como começou isso? Com uma greve estudantil que reivindicava moradia para os estudantes. O reitor na época era o Paulo Renato Souza e ele me chamou para ver o que se poderia encaminhar diante dessa greve. Imediatamente pedi ao DCE [Diretório Central dos Estudantes] e aos grêmios das unidades que constituíssem um grupo de trabalho para que, junto comigo, pudéssemos encaminhar e desenvolver esse desejo.”
O arquiteto, que liderava o Laboratório da Habitação da Unicamp, já havia realizado outros projetos na Universidade, como o Restaurante Universitário e o prédio que abriga a Casa do Lago, colocando em prática a técnica de pré-moldados cerâmicos, que também foram utilizados na moradia. Com experiência em habitação de cunho social e em diálogo com diversos movimentos populares no Brasil e no exterior, ele destaca a importância da participação dos usuários em potencial do prédio para o desenvolvimento do projeto.
No caso da Moradia Estudantil, lembrou, houve assembleias durante seis meses em que era discutida a concepção da residência universitária. Os encontros chegavam a reunir 600 pessoas. Ao voltar para a moradia, diz, sente-se em casa e disposto a contribuir nos projetos de ampliação e revitalização.
A visita de Joan Villá fez parte da formação de alunos do Mackenzie e foi acompanhada também por outros professores da instituição. Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, o professor Lucas Fehr salientou a importância da visita para a formação dos estudantes, pontuando que essa é “uma aula que não vão esquecer”.
Ainda ressaltou o que representa a Moradia Estudantil no âmbito da arquitetura no país. “É importante ter a percepção de que essa é uma obra extremamente importante. É de um momento muito particular da arquitetura brasileira e do Estado, [um momento] em que se discutia tecnologia para habitação. O conjunto habitacional da Unicamp foi uma oportunidade de trabalhar com essas questões que estavam sendo desenvolvidas.”
Programa Moradia Estudantil
O Programa Moradia Estudantil (PME) da Unicamp, conhecido como Moradia Estudantil, acomoda atualmente cerca de 850 alunos e 60 familiares. A política é voltada especialmente a alunos de fora da região metropolitana de Campinas que atendam a critérios de vulnerabilidade socioeconômica. A Universidade também mantém um programa de auxílio financeiro para moradia (Bolsa Auxílio Moradia).
A crescente demanda por habitação e o desgaste de unidades residenciais suscitou a discussão sobre a necessidade de ampliar e revitalizar o PME. No caso das reformas necessárias, o projeto executivo já está em andamento.
Conforme Sávio Cavalcante, assessor da Pró-Reitoria de Graduação, o aumento da demanda tem relação com a ampliação da inclusão social na Unicamp. “Estamos num momento de discussão das políticas de permanência na Unicamp, que exigem lidar com grandes desafios, como a reforma de algumas unidades existentes, a reforma mais ampla de unidades e os projetos de ampliação da moradia. Ainda é um processo inicial, mas temos boas perspectivas.”
Diante dos alunos e professores presentes na visita, Cavalcante frisou a importância da moradia para a comunidade. “A moradia da Unicamp tem sido fundamental para acolher de uma forma minimamente isonômica os estudantes. E ela tem se mostrado cada vez mais diversa, trazendo um conjunto de experiências de grupos de estudantes.”
Para o estudante de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp e morador da residência estudantil Gabriel Bote, receber Joan Villá no local contribui para avançar nas discussões sobre a ampliação. “A moradia tem o carinho dos alunos e poder receber a pessoa que pensou esse projeto é muito bom. A ampliação e a revitalização são essenciais e o Joan Villá tem muito a acrescentar, seja no método seja na forma de pensar [a moradia].”