A Neger Telecom, empresa-filha da Unicamp de engenharia de radiofrequência, que atua na busca por inovação, vem firmando e renovando convênios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novas tecnologias junto à Unicamp.
O convênio de P&D mais recente foi assinado em 2021 e prevê o desenvolvimento de uma tecnologia para detecção de drones comerciais. O objetivo da empresa é colocar no mercado uma solução acessível, em termos de custo e de manuseio.
Segundo Eduardo Neger, ex-aluno de Engenharia Elétrica da Unicamp e diretor de engenharia da empresa, os drones comerciais no Brasil têm sido utilizados para crimes, como espionagem de condomínios de luxo, transporte de drogas e materiais ilícitos em presídios e roubo de carros-fortes. Além disso, o tráfego irregular de drones em áreas de aeroportos tem causado sérios riscos de acidentes aéreos.
“Os drones comerciais, quando adaptados, podem se transformar em verdadeiras armas. Por isso, há uma forte demanda por tecnologias que detectem esses equipamentos e façam alertas, mas que sejam acessíveis, tanto pelo custo quanto pela facilidade de manuseio”, acrescentou o diretor.
O convênio de pesquisa com a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp tem duração de cinco anos e está sendo desenvolvido no Parque Científico e Tecnológico da Universidade, sob gestão da Agência de Inovação Inova Unicamp, onde a empresa instalou um núcleo de pesquisa.
Com a parceria, a Neger pretende contar com o conhecimento de pesquisadores para chegar à tecnologia inovadora e ocupar um nicho de mercado que ainda não é aproveitado.
Os pesquisadores farão um trabalho exploratório. Serão realizados testes para identificar o que é tecnicamente possível, além de estudos das tecnologias já existentes. A proposta é desenvolver um sistema que detecte drones comerciais e crie alertas. Para isso, foram instaladas torre, plataforma e antenas para teste de radiofrequência com emissão de sinais e simulações.
Neger explica que uma das principais motivações para desenvolver uma tecnologia acessível e de fácil manuseio é que os sistemas disponíveis hoje são extremamente robustos e caros, voltados especialmente para atender à área da segurança militar, que tem investido em conhecimento para controle desses dispositivos.
"Há oferta de tecnologias muito sofisticadas e que custam dezenas de milhões de dólares. Ou seja, há um gap no mercado para atender os drones comerciais, e nós estamos atentos a isso”, afirma o diretor.
Cultura disruptiva
Fundada em 1988 como fabricante de material para avicultura, a empresa mudou o seu portfólio ao longo dos anos diante das demandas e oportunidades de mercado. A migração aconteceu, primeiramente, para telefonia e internet rural até chegar aos drones comerciais.
Desde então, a empresa vem investindo em projetos de pesquisa voltados à inovação há pelo menos 10 anos, especialmente junto à FEEC Unicamp, com a primeira parceria firmada em meados de 2015.
Na época, a FEEC possuía um programa de mestrado para desenvolver um sistema de bloqueio de drones na área de segurança utilizando a tecnologia spoofing. A técnica consiste em identificar o drone, gerar um alerta e fazer uma intervenção, assumindo o controle do dispositivo. Um protótipo foi construído a partir da pesquisa.
Para Eduardo Neger, a parceria com a FEEC foi uma semente plantada para que a empresa começasse a entender o mercado. Os estudos foram adaptados para desenvolver um produto viável comercialmente, visto que, no Brasil, a intervenção de drones ainda é proibida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) — exceto em áreas de unidades prisionais.
Com isso, as pesquisas para bloqueio foram repensadas, e a Neger, por meio de uma parceria com a Brinks — empresa de transporte de valores —, passou a desenvolver um sistema de detecção e alerta de drones. A empresa vinha sendo alvo de roubos com a utilização desses equipamentos.
“A parceria acadêmica oxigena os profissionais que atuam na empresa, de forma a pensarmos fora da caixa. Na outra via, nós, enquanto empresa, conseguimos indicar quais são as necessidades do mercado para algumas pesquisas resultarem em inovação para a sociedade”, explicou Neger sobre o relacionamento com a Unicamp.
O convênio de pesquisa entre a Neger Telecom e a FEEC Unicamp foi firmado por meio da Inova Unicamp. O projeto de P&D tem apoio do programa Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para custeio de bolsas para os pesquisadores.