O coletivo negro A Voz do Morro inaugurou sua sede na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. A inauguração foi celebrada como um marco na história da Universidade, por ser esse o primeiro coletivo negro a ter uma sede própria ali. Além do auditório lotado com estudantes, funcionários e professores da faculdade e representantes de diversos coletivos negros, marcaram presença no evento o pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, os diretor e diretor associado da Feagri, Angel Pontin Garcia e Rafael Augustus de Oliveira, respectivamente, e a representante do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, Layne Gabriele.
Para o pró-reitor, a inauguração do espaço é uma celebração pessoal e institucional. "Estar aqui para ver A Voz do Morro estabelecer as suas bases, ser um espaço de acolhimento, um espaço de discussão e troca de experiências, é muito importante", afirmou. Segundo ele, a conquista vai na direção do trabalho que vem sendo desenvolvido pela administração da Universidade e deve contribuir com novos avanços. "A consolidação desse espaço deve aumentar os laços dentro dessa comunidade e também com a administração, permitindo que avance cada vez mais essa integração e inclusão da comunidade preta e parda da nossa Universidade, que é algo extremamente desejável", enfatizou.
Layne Gabriele chamou atenção para o marco que a inauguração representa na história dos coletivos negros. “Que bonito pensar nisso e falar de futuro. Ainda mais quando estamos falando de uma faculdade de engenharia, que é dominada por homens brancos. Que lindo pensar que, hoje, dentro desse espaço, os alunos negros vão ter um espaço para ser acolhidos”, ressaltou.
Fundado em 2020, pouco antes da suspensão das atividades presenciais em virtude da pandemia de covid-19, o coletivo surgiu com o objetivo de ser um espaço de acolhimento e integração e surgiu marcado pela chegada dos primeiros estudantes ingressantes na Feagri por meio das cotas étnico-raciais, conforme relatou Vitor Silva, integrante do A Voz do Morro. "Viemos para receber as demandas relacionadas a atos de racismo e questões voltadas para essa pauta na Universidade. Mas, sobretudo, para ser um espaço de união dos estudantes negros da Unicamp", afirmou.
Para o estudante, agora no mestrado da Feagri, a universidade demorou muito para ter o povo representado dentro dela. "A gente está falando de uma universidade com mais de 50 anos de existência e que só agora isso vem ocorrendo. Mas é importante destacar que, mesmo que tenha demorado, está acontecendo. Está vindo e está vindo com tudo. Que essa conquista sirva de inspiração para os demais coletivos negros da Unicamp e para todo o movimento social", ressaltou Vitor Silva.
Segundo ele, apesar dos avanços evidentes verificados na população estudantil, frutos das ações afirmativas, a diversidade ainda não está refletida no quadro docente, nem no quadro dos funcionários de alto escalão da Universidade. "Os coletivos vêm com duas demandas principais: a primeira é mostrar que chegamos, que estamos aqui, e apresentar esse espaço como um espaço de resistência; e a outra é se somar aos esforços externos à Universidade, para garantir que essas políticas avancem e que se consolidem ao longo do tempo dentro da nossa Universidade", destacou.
"Essa é, seguramente, a ação mais importante da nossa gestão", afirmou Angel Garcia. Para o diretor da Feagri, poder colaborar com o coletivo é também uma forma de retribuição pelo apoio que a administração tem recebido. "Eles são bastante ativos aqui na faculdade. Participam de várias instâncias da administração, nos ajudam em eventos, são realmente parceiros”, afirmou.