O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, recebeu na tarde desta quarta-feira (24) o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich. A audiência – que contou com a presença da coordenadora-geral da Universidade, professora Maria Luiza Moretti – marca um novo processo de aproximação entre a Unicamp e instituições de ensino superior do país do Oriente Médio.
Erdreich disse que pretende facilitar o intercâmbio entre as universidades israelenses e a Unicamp e colocou o consulado à disposição para intermediar negociações com vistas a eventuais acordos de cooperação e troca de informações entre as instituições de ensino.
“Se pudermos iniciar as conversações para a conclusão de acordos de cooperação, isso será muito importante para nós”, disse o cônsul, que é o responsável pelo órgão em São Paulo e também para os Estados do sul do Brasil.
Erdreich lembrou que Israel conta com universidades de ponta em áreas como as de tecnologia, inovação e outras e que essas instituições estariam dispostas a ampliar ou iniciar contatos com a Unicamp.
Segundo ele, Israel pretende estimular o intercâmbio de professores, pesquisadores e estudantes e promover ações de cooperação em diversas áreas de pesquisa entre instituições de ensino dos dois países.
Incidentes registrados
O reitor Antonio Meirelles pediu desculpas ao cônsul pelos incidentes registrados no dia 3 de abril, no campus de Barão Geraldo, quando uma feira, que pretendia apresentar universidades israelenses a estudantes brasileiros, foi impedida de ser realizada por conta de protestos.
A feira, que estava em sua quarta edição, contava com a participação de instituições como a Bar Ilan University, Technion, Tel Aviv University, The Hebrew University of Jerusalem e University of Haifa.
Cerca de 50 manifestantes cercaram a área do evento e bloquearam as entradas do prédio destinado à feira. Funcionários das universidades e servidores da Unicamp foram impedidos de entrar e sair do edifício.
Segundo relatos de integrantes do Serviço de Vivência do Campus (SVC), três pessoas foram agredidas fisicamente durante a manifestação – dois agentes da SVC e uma pessoa da organização do evento.
Na véspera o reitor teve dados pessoais divulgados nas redes sociais e chegou a sofrer ameaças veladas.
“Antes de qualquer manifestação, queremos pedir desculpas pelo ocorrido”, disse o reitor ao cônsul. “Podemos ter pessoas na comunidade com alguma dificuldade para conviver com a liberdade de expressão, mas a Unicamp, como instituição, preza pela democracia e vai trabalhar para garantir a livre circulação de informação e de conhecimento”, afirmou.
A coordenadora-geral da Unicamp também condenou os atos de violência que impediram a realização da feira. “A democracia, a liberdade de expressão e a liberdade de ensino são os pilares da nossa Universidade”, disse ela. “Não podemos aceitar esse tipo de atitude em relação a uma atividade acadêmica”, acrescentou.
A professora Adriana Nunes Ferreira, da Chefia de Gabinete Adjunta, disse que a atitude dos manifestantes “foi um choque” para a Universidade. “Temos limites que não podem ser ultrapassados e nós da Unicamp temos isso muito claro. Isso foi expresso pelo reitor em todas as câmaras de deliberação da Universidade. Além disso, todos os diretores de unidades assinaram uma nota de repúdio ao ocorrido”, disse a professora.
O reitor lembrou, ainda, que um boletim de ocorrência foi registrado na polícia civil para a abertura de um inquérito policial. Além disso, afirmou, uma investigação interna foi instaurada na Unicamp para apurar se houve a participação de membros da comunidade acadêmica no episódio.
Visita a universidades israelenses
Meirelles reforçou a intenção da Universidade de retomar as relações com as instituições de ensino superior de Israel. Ele disse que pretende trabalhar para a realização de algum evento conjunto envolvendo as universidades, ainda no segundo semestre deste ano, e que intenciona organizar a visita de professores e pesquisadores da Unicamp a universidades israelenses no primeiro semestre do ano que vem.