Em cerimônia marcada pela defesa da autonomia universitária, a sessão extraordinária do Conselho Universitário (Consu) realizada na tarde desta sexta-feira (2), concedeu o título de professor emérito da Unicamp ao advogado e economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo.
De acordo com o Conselho, a distinção se dá pela importante contribuição de Belluzzo como economista e pensador político e por sua extensa lista de publicações relevantes que exerceram significativa influência no meio acadêmico. Em três momentos da cerimônia, que durou cerca de duas horas, Belluzzo foi aplaudido de pé pela plateia que lotou o Auditório III do Centro de Convenções.
A cerimônia reuniu parentes próximos do homenageado, amigos e um grande número de economistas – entre eles, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, Gabriel Galípolo, secretário-executivo do Ministério da Fazenda e indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, Guilherme Mello, atual secretário de Política Econômica, e Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A outorga do título contou, ainda, com a presença dos ex-reitores da Unicamp José Tadeu Jorge, Marcelo Knobel e Carlos Vogt e do ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil Aloisio Nunes Ferreira.
A proposta de concessão do título foi apresentada pelo Instituto de Economia (IE) depois da aprovação unânime pela Congregação do IE. Contou, em seguida, com a ratificação por uma comissão especial formada pelos economistas Luciano Coutinho (presidente) e Leda Paulani e pelo jurista Eros Grau.
Formado em Direito e Ciências Sociais pela USP (Universidade de São Paulo), Belluzzo ingressou no curso de pós-graduação em Desenvolvimento Econômico promovido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Também cumpriu importante papel no início do processo de instalação do IE na Unicamp.
Tendo se tornado doutor em Economia em 1975 e professor titular do IE em 1986, Belluzzo foi celebrado na solenidade como um dos principais responsáveis pela articulação da autonomia orçamentária das três universidades públicas estaduais paulistas – mecanismo que garantiu investimentos regulares nessas instituições e proveu o suporte necessário para o desenvolvimento delas.
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, lembrou que a autonomia é um marco na vida das três universidades e também da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do São Paulo). Meirelles avalia ter havido um salto de qualidade nas instituições depois disso, tanto no desenvolvimento de pesquisas em todas as áreas do conhecimento como na formação de profissionais e no trabalho de extensão.
“Isso é resultado de uma ação tomada há 30 anos, da qual o professor Belluzzo foi protagonista”, disse o reitor. Segundo Meirelles, a comunidade acadêmica avalia que essa foi a medida de política pública mais importante e mais decisiva do sistema de ciência e tecnologia do Brasil. “A comunidade científica e o Brasil devem agradecer a ele por isso”, acrescentou o reitor.
Belluzzo agradeceu pelo título, minimizou o peso de sua participação no processo de concessão de autonomia às universidade e nos estudos sobre a economia do país e declarou seu amor à Universidade. “A Unicamp é a grande paixão da minha vida”, disse. “Talvez se equipare até com a paixão que tenho pelo Palmeiras”, acrescentou o professor, recebendo caloroso aplauso da plateia.
Num discurso informal, de cerca de 20 minutos, Belluzzo relembrou o momento em que chegou à Unicamp junto com o amigo João Manuel Cardoso de Melo, ainda na década de 1970. Rememorou as dificuldades que as universidades enfrentaram na ditadura militar, destacou o apoio que os professores receberam do fundador da Unicamp, professor Zeferino Vaz, e citou as crises institucionais que se sucederam nos anos 1980.
Melo, o padrinho designado pelo IE para homenagear Belluzzo, falou sobre os quase 70 anos de amizade que os unem, sobre as lutas que travaram contra o regime militar e sobre as dificuldades que tiveram de superar quando chegaram à Unicamp.
Em 2001, Belluzzo foi incluído no Biographical Dictionary of Dissenting Economists entre os cem maiores economistas heterodoxos do século XX. Recebeu o Prêmio Intelectual do Ano Troféu Juca Pato de 2005. E é considerado o melhor economista heterodoxo do Brasil devido às suas interpretações sobre a, sugestões para a e críticas à sociedade brasileira sob a ótica de Karl Marx e de John Maynard Keynes.
“Não é nenhum exagero afirmar que Belluzzo firmou uma interpretação absolutamente original e consistente das obras de Marx e Keynes. O trabalho monumental dos dois notáveis pensadores do capitalismo foi dissecado, depurado e reavaliado de maneira lapidar por Belluzzo”, diz um trecho da justificativa apresentada pelo professor Frederico Mazzucchelli junto à proposta da Congregação do IE que recomendou a concessão do título. “Apenas esse esforço bastaria para consagrá-lo como um dos principais economistas de seu tempo”, continua a justificativa.
“Intelectual raro, Belluzzo é um professor permanente. Sua cultura abrangente, sua inteligência aguda, sua memória prodigiosa e sua paixão pelo conhecimento converteram-no em bússola segura para todos que pretendem refletir com profundidade sobre a economia e a sociedade no mundo contemporâneo”, acrescenta Mazzucchelli.
Seu currículo registrava, até meados de 2022, 14 livros e algumas dezenas de capítulos e prefácios publicados, além de 18 artigos em periódicos arbitrados. Belluzzo exerceu um papel essencial de formador de intelectuais, professores e economistas que se destacam em vários campos de atuação: foi orientador principal ou coorientador de 34 dissertações de mestrado e 44 teses de doutorado. Aposentou-se da Unicamp em 2001, mas segue desde então como colaborador em disciplinas, seminários, projetos de pesquisa e discussões sobre vários temas.
Belluzzo participou ativamente da vida pública. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão de Dílson Funaro. Foi também secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, cargo em que se distinguiu ao conduzir – por determinação do então governador, Orestes Quércia – o processo que levou à autonomia financeira das universidades paulistas.
Belluzzo foi membro do Conselho Superior da Fapesp entre 1992 e 1995 e posteriormente entre 2007 e 2013. Foi membro e o primeiro presidente do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC, que opera a TV Brasil). Entre 2003 e 2007 foi também membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), da Casa Civil da Presidência da República.
Primeiro título
O diretor do IE, professor André Biancarelli, lembrou que o título emérito concedido nesta sexta-feira a Belluzzo é o primeiro da história do instituto. Segundo Biancarelli, Belluzzo tem uma atuação para além dos muros da Universidade, já que participa de uma extensa lista de conselhos e associações dos setores público e privado e de organizações não governamentais. “Belluzzo é uma das pessoas mais influentes do Brasil. Um intelectual notável. Um homem público decisivo e um professor generoso e cordial”, finalizou o diretor.
Assista a cerimônia transmitida ao vivo pelo Canal Imprensa Unicamp: