O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dominic Phillips completa um ano no dia 5 de junho. Na data, ocorrem atos no Brasil e no Reino Unido em homenagem a Dom e Bruno. O evento também chama a atenção para a situação ambiental e das populações indígenas no país, alertando para desrespeito a direitos e para recentes ataques, como o Projeto de Lei 490, que visa desconstituir direitos dos povos originários. O campus da Unicamp no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, é um dos locais onde ocorrerão as manifestações. O ato será no Teatro de Arena, às 13 horas.
“O ato tem múltiplos sentidos: de solidariedade entre nós e de reconhecimento de que a causa de Dom, Bruno e dos estudantes indígenas é a nossa luta. Luta por dignidade, pelos direitos cidadãos e pela vida. Mas sobretudo pelo fortalecimento da cidadania de cada um de nós. Reconhecer que essa é uma luta pela dignidade de todos nos fortalece como cidadãos e comunidade”, aponta a diretora executiva de Direitos Humanos da Unicamp, Silvia Santiago.
“Não somos indiferentes ao que aconteceu e ao que está acontecendo nesse momento com a aprovação do Marco temporal [PL 490]. Essa aprovação fere a todos nós. O nosso ato é o reconhecimento de que nós, a terra, o ar, as águas, os seres todos, somos um só mundo e dependemos uns dos outros para a construção da felicidade”, diz.
A Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) organiza o ato com apoio da Secretaria Executiva de Comunicação da Unicamp (SEC). Em junho de 2022, a SEC enviou uma equipe ao Javari, a fim de acompanhar as buscas por Dom e Bruno e produzir uma série de reportagens sobre o contexto em que o crime ocorreu.
“Acompanhamos a situação desde o desaparecimento de Dom e Bruno. Além disso, há uma preocupação com as questões ambientais e indígenas na SEC. Acreditamos que o papel da Universidade é refletir sobre esses temas e por isso apoiamos iniciativas como o ato. Para a data, também preparamos um conteúdo especial para a edição do Jornal da Unicamp, que será divulgada no sábado, dia 3 de junho”, afirma o coordenador-geral da SEC, Álvaro Kassab.
A ideia de integrar homenagem e mobilização, segundo a professora Josianne Cerasoli, membro da DeDH, surgiu a partir do diálogo com Alessandra Sampaio, viúva de Dom. “Ela foi extremamente acolhedora com nossa proposta e compreendeu que a Unicamp se coloca ao lado dos povos originários, que temos um trabalho ainda muito inicial, mas que pretende colher muitos frutos. Alessandra compreendeu de imediato esse contexto da Unicamp, e surgiu a ideia de participarmos do ato.”
A professora também comenta o legado de Dom e Bruno. “As pautas que estavam nos trabalhos extremamente significativos e de grande repercussão de Bruno Pereira e de Dominic Phillips são pautas que interessam a todos nós. [Trazem] a ideia de que podemos viver com a natureza, de que não temos que a usurpar e podemos aprender com manejos e tecnologias ancestrais. O que Dom e Bruno nos lembram, e que o ato deve ecoar, é que não precisamos compactuar com essas violências, e que quando aceitamos modelos predatórios, aceitamos junto as ameaças e tragédias que se repetem”, diz.
A manifestação contará com a participação de estudantes indígenas da Unicamp, dentre eles alunos que são da região do Vale do Javari.
O evento será transmitido ao vivo no canal da Tv Unicamp no Youtube.