Prêmio H2Ótimo busca melhores soluções em hidrogênio verde

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O período de residência científica do engenheiro eletricista Mario Veiga no Programa “Cesar Lattes” do Cientista Residente (oferecido pelo Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp) rendeu frutos na forma de uma premiação voltada a alunos de graduação e pós-graduação e a profissionais com foco na produção de hidrogênio verde. Iniciativa conjunta do IdEA e da consultoria e provedora de soluções de energia PSR, com o apoio da CPFL Energia, o Prêmio H2Ótimo será lançado no dia 16 de junho, com a abertura do período de inscrições para os grupos interessados. 

Em meio à crescente preocupação com os impactos da crise climática, esse veículo energético pode contribuir para a descarbonização na produção de áreas como fertilizantes, aços e plásticos. Apesar de não ser uma fonte de energia primária, o hidrogênio pode ser gerado a partir de várias fontes, armazenado e transportado para os locais de consumo.

Atualmente, o hidrogênio produzido com baixa emissão de carbono representa menos de 1% da produção global de hidrogênio, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). Apesar de promissor, o processo de eletrólise, que emprega a eletricidade para separar o hidrogênio do oxigênio na água, responde apenas por 0,1% de todo o hidrogênio produzido no mundo. Entre os principais entraves para o escalonamento dessa tecnologia estão os custos de produção, a falta de um arcabouço regulatório e questões de infraestrutura.

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No H2Ótimo, as propostas a serem apresentadas buscarão obter a maior renda possível em projetos de produção de hidrogênio verde gerado a partir da eletrólise da água com energia produzida por fontes renováveis, como solar fotovoltaica e eólica, levando em conta os sistemas de armazenamento de energia.

Os inscritos poderão competir em quatro categorias: estudantes de graduação, estudantes de mestrado, estudantes de doutorado e profissionais da área, sem limites quanto ao número de membros por grupo. Em cada uma dessas categorias, a H2Ótimo Premiação Científica oferecerá uma estadia técnica na PSR, passagem aérea e despesas com estadia para a apresentação da proposta, um prêmio em dinheiro no valor de R$ 2.500,00 e um certificado de proposta vencedora.

Segundo Veiga, a premiação nasceu com a intenção de dar continuidade aos temas discutidos na residência, intitulada “Energia do Futuro & Futuro da Energia” e realizada entre setembro e novembro de 2022, tendo em vista a importância da integração entre academia, instituições e empresas de modo a contribuir da melhor maneira possível para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

“Há uma demanda internacional potencialmente gigantesca por produtos verdes, como aço, fertilizantes, combustível de aviação e outros. Os grandes recursos de geração renovável e de biomassa do país nos tornam competitivos nesses mercados verdes, o que será uma grande fonte de renda e geração de empregos”, afirma Veiga, nome de referência do setor elétrico no Brasil e no exterior, diretor-fundador e chief innovation officer da PSR, em entrevista ao Portal da Unicamp.

O engenheiro eletricista Mario Veiga, cientista residente do Programa “Cesar Lattes”: premiação voltada a alunos de graduação e pós-graduação e a profissionais com foco na produção de hidrogênio verde (Foto: Antoninho Perri)
O engenheiro eletricista Mario Veiga, cientista residente do Programa “Cesar Lattes”, em 2022: premiação voltada a alunos de graduação e pós-graduação e a profissionais com foco na produção de hidrogênio verde (Foto: Antoninho Perri)

O projeto almejado pelo H2Ótimo deverá gerar rendimentos a partir da venda do hidrogênio e dos excedentes de eletricidade à rede elétrica nacional, levando em conta os custos que envolvem o investimento e a operação da planta de eletrólise, as plantas de geração de energia renovável, o sistema de armazenamento e a água, considerada um importante insumo do processo.

Inovações na produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis abrem a possibilidade de cooperações multidisciplinares abarcando um grande conjunto de áreas de conhecimento, como engenharia elétrica, química, computação, matemática aplicada, engenharia de produção e engenharia mecânica, explica o coordenador do IdEA, Christiano Lyra. “Esse é um problema novo no qual o Brasil tem um espaço amplo para ser um dos protagonistas mundiais, e isso devido a suas condições geográficas favoráveis à produção de energia limpa, devido à participação significativa de energia sustentável na matriz energética e devido a sua história de inovações no planejamento da produção e uso de energia”, diz Lyra, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp.

Após a primeira crise do petróleo, em 1973, o Brasil começou a buscar potenciais saídas para a escassez de combustível fóssil. Foi na Unicamp, em 1975, que nasceu uma das primeiras iniciativas brasileiras de pesquisa sobre o potencial do hidrogênio como combustível, com a fundação do Laboratório de Hidrogênio (LH2) no Instituto de Física Gleb Wataghin.

Para Veiga, o Brasil tem condições técnicas, competitividade econômica e capital de investidores privados para entrar no mercado internacional de hidrogênio verde. “O maior desafio é restabelecer a racionalidade do planejamento e reforçar as instituições.” De acordo com o diretor da PSR, a Europa regulamentou duas formas de produção de hidrogênio verde para exportação. A primeira prevê a construção de fontes de energia renovável dedicadas à eletrólise. E a segunda consiste em utilizar a energia do mix de geração do país, o que se coloca como uma grande vantagem para o Brasil.

“O requisito europeu para a segunda opção é ter uma proporção de 90% de energia limpa na matriz elétrica, o que é impossível para a grande maioria dos países. O Brasil é uma das pouquíssimas exceções, pela combinação de hidrelétricas, de biomassa e de fontes de energia eólica e solar”, destaca Veiga. “No entanto, como nós mostramos em um artigo recente no jornal O Estado de S. Paulo, os 8 mil MW das chamadas ‘térmicas jabuti’, cuja construção foi imposta pelo Poder Legislativo como parte da lei da privatização da Eletrobras, farão com que o Brasil perca a qualificação se essas térmicas forem de fato construídas.”

Os grupos vencedores da premiação terão a oportunidade de uma estadia técnica na PSR, empresa que atua em mais de 70 países, fazendo estudos e análises sobre diversos temas relacionados à energia, usando metodologias e algoritmos desenvolvidos internamente e em parceria com universidades. “Nossa ideia é integrar os visitantes a uma das equipes que estão realizando estudos de descarbonização. No momento, estamos trabalhando com 18 países a respeito desse tema. Temos certeza de que nossos visitantes vão aproveitar essa experiência”, declara o diretor-fundador da PSR, explicando que atualmente há, na empresa, três estudantes de importantes universidades francesas valendo-se desse mesmo modelo de estadia técnica.

Durante os três meses em que foi cientista residente no IdEA, Veiga promoveu um ciclo de palestras com temas diversos sobre energia – análise histórica sobre os problemas de organização institucional do setor, previsões para a geração de energia no Brasil e a importância de uma ação coordenada na busca pela racionalidade energética –, além de ter participado de reuniões com grupos de alunos, pesquisadores e professores da Unicamp. “Fiquei extremamente honrado pelo convite, e considero um privilégio ter colaborado com uma equipe de professores e alunos de altíssimo nível científico e com pessoas extraordinárias que se transformaram em grandes amigos.”

Christiano Lyra
O coordenador do IdEA, Christiano Lyra: "problema novo no qual o Brasil tem um espaço amplo para ser um dos protagonistas mundiais" (Foto: Antonio Scarpinetti)

Desdobramentos

Para Lyra, a experiência de Veiga no IdEA teve muita densidade científica e vem se ramificando em iniciativas com perspectivas de gerar benefícios substantivos para a Unicamp e o país. “A residência trouxe, inicialmente, as contribuições acadêmicas significativas de um cientista maduro, autor de inovações científicas na área de energia que motivaram o reconhecimento de academias no Brasil e no exterior”, elogia o coordenador do IdEA.

Outro desdobramento positivo da residência científica de Veiga foi a assinatura de um memorando de entendimento entre a PSR e a Unicamp com o objetivo de fomentar ações de colaboração no ambiente da Unicamp, no HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), nos centros de pesquisas e nas empresas inovadoras. Um primeiro fruto será o workshop “Energia e Sustentabilidade – Prospecção de Oportunidades de Colaborações e Sinergias”, a ser realizado em 7 de agosto de 2023, na Unicamp, para a troca de experiências entre a Universidade e empresas brasileiras sobre inovações na área de energia.

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Escritor e articulista, o sociólogo foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais no biênio 2003-2004