Nesta segunda-feira (19), a Unicamp recebeu a IV edição do Seminário Nacional: A Política Pública de Educação Integral para uma Cidade Educadora. O evento é promovido pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas, Educação e Sociedade (GPPES), ligado à Faculdade de Educação (FE), com o objetivo de refletir sobre os avanços e desafios das políticas públicas para a educação integral no país. A tarde de discussões contou com representantes do poder público ligados à educação das esferas municipal e federal, lançamento de livro e conferência com especialistas do setor.
Participaram da abertura do seminário o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles; o diretor da FE, Renê Trentin Silveira; José Tadeu Jorge, secretário municipal de educação e reitor da Unicamp em gestões anteriores; o vereador Luiz Carlos Rossini, presidente da Câmara Municipal de Campinas; e Alexsandro do Nascimento Santos, diretor de políticas e diretrizes para a educação integral básica do Ministério da Educação. “A realização deste seminário é uma feliz iniciativa no momento em que precisamos retomar as discussões sobre a educação no país, sobretudo a educação integral”, destacou Renê Silveira na saudação aos convidados. Ele também lembrou que o evento ocorreu no mesmo dia em que mais um atentado a tiros em escolas foi noticiado no país, na cidade de Cambé, no Paraná. “Esse é mais um motivo para pensarmos na educação e na sociedade que queremos e em como a escola pode contribuir para isso”.
O secretário municipal de educação apontou a importância das discussões realizadas no âmbito acadêmico para o fortalecimento das políticas públicas do município. Atualmente, a secretaria desenvolve novos projetos arquitetônicos para as escolas de ensino fundamental integral da cidade, no sentido de ampliar a formação dos estudantes. José Tadeu Jorge comentou também que a implantação de dez escolas de ensino fundamental integral está em processo de licitação. A meta da secretaria, cumprindo o Plano Municipal de Educação de Campinas, é chegar a 28 escolas nessa modalidade, o que compreende 50% do total de escolas de ensino fundamental do município.
O professor também ressaltou a importância da parceria com a Unicamp na elaboração das políticas públicas para o setor, pois a universidade se destaca na abordagem interdisciplinar dos desafios que afetam a sociedade. “Acredito que a educação integral pode nos aproximar do cumprimento de nossa missão, que é dotar as pessoas que passam por nossas escolas de cidadania plena”, destacou.
Parceria com o poder público
Representando o ministro Camilo Santana, titular da pasta da Educação, Alexsandro Santos defende que a educação integral é um tema prioritário para a atual gestão federal e que, nesse sentido, o Ministério da Educação deve atuar em sintonia com estados e municípios. Ele argumenta que apenas 0,8% das matrículas em educação básica no país são de responsabilidade da União, todo o restante corresponde às redes municipais e estaduais de ensino. Por isso, defende a meta da gestão de dar suporte às demais esferas para que, em 2024, o país chegue a 1 milhão de novas matrículas em escolas integrais no país. “É uma contradição falarmos de uma educação que não seja integral. Cabe ao poder público marcar posição sobre qual concepção de educação deve refletir um projeto de sociedade”, afirmou Alexsandro Santos.
O reitor da Unicamp pontuou que o seminário está em consonância com a missão da universidade de contribuir com a construção de projetos abrangentes para a sociedade e com a formação de pessoas preparadas para isso. “Estamos vivendo novos tempos, em que a formação humana e a tecnológica têm fronteiras turvas. Temas como inteligência artificial, transição energética, sustentabilidade envolvem vários elementos técnicos, mas também éticos, de um mundo que é cada vez mais desafiador”, destacou Antonio Meirelles, que ressaltou a vocação interdisciplinar da instituição. “A Unicamp tem uma tradição histórica de analisar e discutir essas questões sob um ponto de vista que envolve vários campos do saber”.
Novos horizontes para a educação
Baseado na tese de doutorado da autora, o livro “Educação Integral: caminhos possíveis para o pleno desenvolvimento da pessoa humana?” (Pontes Editores), de Crislaine Fernandes, reúne dados e análises a respeito da política pública de educação integral praticada em Campinas e de que forma ela fornece bases para a formação humana integral dos estudantes e para a discussão e gestão democrática da educação. “Essa obra é uma indagação que me persegue na condição de professora e pesquisadora. Afinal, o que é educação integral? O que é o pleno desenvolvimento da pessoa humana? A educação integral não é uma modalidade de ensino, mas uma concepção de educação que visa ao desenvolvimento humano em todas as suas dimensões”, propõe a autora.
Orientadora da pesquisa, Débora Mazza, professora da FE, ressaltou que o livro é o resultado do trabalho de vários pesquisadores que atuam em prol da educação e que as parcerias com a Prefeitura de Campinas e com outras cidades da Região Metropolitana criam um ambiente em que universidade e poder público se complementam na construção da educação integral no país. “Sempre que pensamos em educação integral, nos perguntamos quais são os lugares, espaços e circunstâncias que professores e professoras precisam visitar e vivenciar para se constituírem como educadores e educadoras engajadas com as classes populares”.