A capacidade auditiva do ser humano consegue diferenciar sons diversos que circulam em um mesmo ambiente – percepção essa que especialistas definem como processamento auditivo espacial. No entanto, limitações podem surgir em muitos casos.
Para avaliar a performance auditiva das pessoas, uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp desenvolveu um programa de computador que pode contribuir para o diagnóstico de indivíduos com queixas sobre dificuldade de compreensão de sons em ambiente ruidoso.
O Teste de Processamento Espacial com Sentenças no Ruído é a primeira versão, em português, do Listening in Spatialized Noise-Sentences-Test (Lisn-S), teste em inglês realizado a fim de identificar quando pacientes encontram dificuldades para focar na percepção de determinados sons em detrimento de outros vindos de diferentes locais.
“Não tínhamos uma versão em português até agora, mas tivemos contato com os idealizadores da tecnologia original, o que aumenta a confiabilidade sobre o que conseguimos desenvolver aqui”, explica um dos participantes do processo de desenvolvimento da tecnologia, Bruno Sanches Masiero, professor da Feec.
O programa de computador foi registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp para proteger a propriedade intelectual da tecnologia e foi incluído no Portfólio de Patentes e Softwares da Universidade.
Diagnóstico auditivo realizado por programa de computador
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde, o Brasil possui cerca de 2,2 milhões de pessoas com perda auditiva decorrente de alterações no ouvido externo, médio e/ou interno. O comprometimento das vias e estruturas centrais auditivas podem levar ao denominado Transtorno do Processamento Auditivo Central (Tpac), cujo principal sintoma é a dificuldade de compreender mensagens sonoras em ambiente ruidoso. Novos testes poderão contribuir com um diagnóstico mais preciso do Tpac e contribuir de maneira mais assertiva com o planejamento terapêutico no caso de crianças e adolescentes.
“Hoje, as equipes de fonoaudiologia sabem que o desenvolvimento da fala e da audição de crianças e adolescentes precisa contar com uma equipe multidisciplinar para identificar em que medida os possíveis problemas apresentados vão ter impacto não só na saúde, mas até mesmo no próprio processo de aprendizado das crianças”, explica Maria Francisca Colella dos Santos, professora da FCM e coordenadora do projeto de idealização da tecnologia.
No teste desenvolvido pelos pesquisadores da Unicamp, o especialista que usa a ferramenta deve inserir as informações do paciente. O programa apresenta quatro condições de teste e utiliza uma placa de som que vai reproduzir, de forma síncrona, duas histórias infantis e uma sequência de frases de teste.
Conforme o teste é realizado, o paciente deve repetir ao especialista as palavras que consegue identificar e a quantidade dos acertos é anotada no software, que vai ajustando o nível sonoro da frase seguinte, conforme a evolução das etapas, até chegar ao critério estabelecido pelo especialista.
Tecnologia disponível para empresas
Os pesquisadores acreditam que o programa de computador, intitulado ProSER, poderá ser utilizado por fonoaudiólogos, médicos, instituições públicas e privadas e empresas de produtos fonoaudiológicos.
O programa de computador pode ser licenciado por empresas que comercializam softwares e sistemas online para triagem ou treinamento auditivo. Empresas ou instituições interessadas na tecnologia devem contatar, via formulário de Conexão Pesquisa e Mercado, a Inova Unicamp, órgão da Universidade responsável por receber os contatos e realizar as negociações para a transferência de tecnologias.
Matéria originalmente publicada no site da Agência de Inovação Inova Unicamp.