A necessidade de um olhar mais atento voltado para a saúde mental do trabalhador foi o que impulsionou o Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho (Lab Ester) – vinculado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp – a lançar, em abril último, a Rede Margarida. A iniciativa foi desenvolvida em parceria com grupos de referências na área sindical, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerest) de Campinas e São Paulo e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), entre outros.
Segundo a professora do Departamento de Saúde Coletiva da FCM Márcia Bandini, “a Rede Margarida visa partilhar saberes e experiências, reconstruir laços de solidariedade entre as classes trabalhadoras e somar forças em prol de modos de vida mais saudáveis”.
A professora acredita que o trabalho deve ser fonte de realização e não de sofrimento e, para que isso aconteça, o conhecimento, a prática e as soluções devem ser construções compartilhadas. “É importante que todos os interessados participem como interlocutores ativos e que as diferentes formas de experiência e saber sejam respeitadas”, defende Bandini.
Atualmente, a rede conta com mais de 20 entidades e órgãos representativos dos trabalhadores, cobrindo diferentes regiões do país. Recentemente, a Rede Margarida foi contemplada no edital dos Fóruns Permanentes da Unicamp com o tema "Sofrimento mental e suicídio relacionados ao trabalho: tecendo redes de acolhimento e enfrentamento", que ocorrerá em setembro.
O nome da rede é uma homenagem a Margarida Maria Silveira Barreto, médica e pesquisadora pioneira na área de assédio moral praticado contra o trabalhador. A ideia do nome surgiu de forma coletiva, sendo também uma alusão à capacidade de resistência que as margaridas possuem frente às intempéries naturais.
A Rede Margarida organiza encontros mensais entre seus representantes. Para acesso do público, esses encontros são transmitidos ao vivo via YouTube.
Laboratório Ester
O Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho (Lab Ester) surgiu de uma parceria entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) de Campinas e a Unicamp com o objetivo de estudar a área de saúde do trabalhador, seja ela física ou mental. “O maior projeto neste momento é dedicado ao tema da prevenção do sofrimento mental e suicídios relacionados ao trabalho, projeto esse realizado com o apoio do Ministério Público do Trabalho da 15ª Região”, afirmou Bandini.
Atualmente existem cinco estudos em andamento no Laboratório. Tratam do ‘estado da arte’ no Brasil de suicídios entre trabalhadores, da depressão, da ansiedade, do transtorno de estresse pós-traumático e da Síndrome de Burnout, também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional.
Outro estudo em fase de aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp propõe reconstituir, por meio de entrevistas com familiares e colegas de trabalho, histórias de vida de pessoas que se suicidaram.
O projeto de pesquisa, em análise junto ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), trata da área de design participativo, debruçando-se sobre como elaborar uma alternativa de saúde digital para política pública de promoção da saúde. Será realizado em parceria com outras universidades e com o Centro de Pesquisa em Inteligência Artificial (BI0S) da Unicamp.
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