O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, discutiram, na última quinta-feira (29), em Brasília, propostas de ampliação das políticas de acesso e permanência de estudantes indígenas. Meirelles reiterou a disposição da Universidade em ampliar suas políticas afirmativas e disse contar com o apoio do governo federal.
A comitiva da Unicamp – que, além do reitor, foi composta pelo pró-reitor de Graduação, Ivan Toro, e pelos professores Sávio Cavalcante e Chantal Medaets – pediu ajuda do governo para aperfeiçoar a estrutura do sistema de transporte de estudantes de suas regiões de origem, em deslocamentos para a realização de provas, a efetivação da matrícula e o início do ano letivo, ou, ainda, para viagens durante o recesso escolar com o objetivo de rever familiares.
“Os estudantes indígenas são vulneráveis e não têm condições de pagar passagens de avião”, argumenta o reitor, que também participou de uma audiência no Ministério da Defesa para tratar dessa questão. A ideia é avaliar a possibilidade de utilizar aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) para fazer esse tipo de transporte.
A Unicamp conta, atualmente, com 348 estudantes indígenas, de 49 etnias. Perto de 85% deles são provenientes da região Norte do país. Muitos desses estudantes são da área de Tabatinga (AM), cidade localizada a mais de 500 quilômetros de São Gabriel da Cachoeira (AM), município onde a Universidade realiza o vestibular indígena. O reitor lembrou ainda que há deslocamentos de estudantes de Manaus para Campinas, aonde os alunos vão para estudar.
Além de discutir a questão do transporte, Meirelles sugeriu à ministra o estabelecimento de um acordo determinando a instalação, em Campinas, de um equipamento de saúde para o atendimento exclusivo de indígenas – estudantes da Unicamp e não estudantes. Esse programa poderia até mesmo envolver a Prefeitura Municipal de Campinas, acrescentou.
O reitor defendeu, ainda, a criação de um programa federal para o intercâmbio de estudantes indígenas da América Latina. Meirelles disse também que a Universidade está aberta para firmar outros tipos de colaboração com o Ministério dos Povos Indígenas.
Toro, por sua vez, revelou à ministra a intenção da Unicamp de construir, no campus de Barão Geraldo, um espaço exclusivo para o convívio dos estudantes indígenas, espaço esse que poderia ser destinado também para a realização de atividades culturais ou religiosas.
Ampliação de bolsas
Membro da Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas (Caiapi) da Unicamp, a pesquisadora Medaets contou que a comitiva da Universidade pediu à ministra a ampliação dos programas de bolsa permanência para abrangerem as universidades estaduais públicas. Hoje o programa federal oferece R$ 900 de bolsa para estudantes indígenas e quilombolas, mas apenas para os matriculados em instituições de ensino superior federais.
Chantal contou que nos dias 8 e 9 de agosto, a Unicamp deverá organizar o seminário Povos Indígenas e o Ensino Superior. A ideia, segundo ela, é receber na Unicamp lideranças indígenas e professores ou gestores de universidades que tenham programas destinados a estudantes indígenas para que, juntos, possam pensar sobre caminhos e experiências da presença indígena no ensino superior.
Ela contou ainda que Guajajara revelou o plano do ministério de organizar um evento semelhante a fim de reunir representantes de 30 universidades que tenham algum tipo de ação afirmativa envolvendo estudantes indígenas. O objetivo é promover um amplo debate sobre a política de inclusão e permanência dessa população nas instituições de ensino superior do país. Esse evento está previsto para ocorrer em 2024. Meirelles ofereceu a Unicamp para sediar o encontro.
Inclusão e permanência
Por meio de redes sociais do Ministério dos Povos Indígenas, Guajajara comentou o encontro com a comitiva da Universidade. “Em parceria com a Unicamp, discutimos a ampliação de políticas públicas afirmativas, de inclusão e permanência para os estudantes indígenas”, escreveu a ministra.
“É de extrema importância direcionar ações específicas para garantir a política de permanência dos estudantes indígenas, considerando que a Universidade abriga o maior número de povos indígenas de diversas regiões do país. Juntos, trabalharemos pela construção de um ambiente acadêmico mais inclusivo e acessível”, finalizou.
O encontro contou também com a presença da deputada federal Sâmia Bomfim.