A reitora da Unicamp em exercício, professora Maria Luiza Moretti, recebeu na tarde desta quinta-feira (6), um grupo de deputados da chamada bancada negra da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Eles conversaram sobre ações de inclusão e permanência estudantis, sobre o perfil do mercado de trabalho para estudantes pretos e pardos e sobre política de cotas para professores.
A visita fez parte de uma agenda iniciada pela manhã, quando os parlamentares participaram de um evento organizado pela Proec (Pró-Reitoria de Extensão e Cultura) em que trataram de temas como agroecologia, economia solidária, comunidades quilombolas e vulnerabilidades sociais. O encontro da manhã contou com a participação das deputadas Mônica Seixas do Movimento Pretas (Psol – Partido Socialismo e Liberdade) e Paula da Bancada Feminista (Psol), além dos deputados Rômulo Fernandes e Eduardo Suplicy, ambos do PT (Partido dos Trabalhadores).
Coordenadora-geral da Unicamp, Moretti explicou aos parlamentares o funcionamento dos programas adotados pela Universidade para promover a inclusão e a permanência de estudantes. Ela lembrou que a Unicamp investe perto de R$ 112 milhões por ano nessas políticas e que tem aprimorado os sistemas de formação de professores com capacitação para o ensino sobre história e cultura dos povos originários e dos descendentes de africanos. Moretti citou ainda os programas de bolsas e de moradia e falou sobre as cotas raciais e o Vestibular Indígena.
A coordenadora-geral, no entanto, defendeu a implementação de leis que estimulem empresas a oferecerem emprego aos estudantes, em especial aos que são atendidos pelas políticas afirmativas. “A política de cotas já está consolidada. Não há mais retorno. O que precisamos a partir de agora é de uma política para atender o pós-universidade”, disse a coordenadora. “E, nessa questão, precisamos contar com a Assembleia Legislativa [do Estado de São Paulo]”, alertou ela. “Precisamos de leis que estimulem as empresas a recrutar esses profissionais”, acrescentou.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, professor Fernando Coelho, que também recepcionou o grupo de parlamentares, disse que a Universidade tem planos para a adoção de uma política que estimule a contratação de professores negros. “Quando entrei aqui, há mais de três décadas, se contava nos dedos de uma mão o número de professores negros. Hoje usamos os dedos das duas mãos, dos pés. E ainda não é o suficiente. Mas precisamos avançar muito mais”, afirmou ele. “Só que precisamos de autorização para aumentar o número de vagas destinadas a docentes e, a esse respeito, também carecemos da intervenção dos agentes políticos”, argumentou.
Seixas disse que o grupo tem muito interesse em trabalhar junto com a Universidade na formulação de políticas afirmativas. Segundo a deputada, a academia precisa absorver o que chamou de “intelectualidade negra” – pessoas que ingressaram nas universidades por meio de programas como o Prouni (Programa Universidade para Todos) e que hoje estão no mercado de trabalho. “Não queremos mais ser alvos de pesquisa. Nós somos os pesquisadores”, afirmou Seixas.
De acordo com a deputada, a história do Estado de São Paulo foi feita por povos indígenas e negros e isso não aparece nos currículos das escolas. “São Paulo é solo preto e indígena”, definiu. Coelho disse ao grupo que há muitas possibilidades para a implementação de políticas afirmativas por meio de programas de extensão e que a Universidade está aberta para iniciar pesquisas a esse respeito e ações de cooperação. “Ouvir que parlamentares estão pensando a educação como prioridade é uma injeção de ânimo para nós, que dedicamos a nossa vida ao ensino”, finalizou Moretti.