O Centro de Convenções da Unicamp recebeu, nesta quarta-feira (27), a abertura do encontro “Diplomacia Científica: uma cooperação entre o Brasil e a Baviera” (Science Diplomacy: a cooperation between Brazil and Bavaria). O evento é uma realização da Diretoria Executiva de Relações Internacionais (Deri) da Unicamp em conjunto com o Centro Universitário da Baviera para a América Latina (Baylat) e tem o objetivo de discutir desafios e estratégias para estreitar as relações entre instituições científicas do Brasil e do estado alemão da Baviera, de forma a contribuir para as relações internacionais entre os dois países e o potencial de incluir a ciência como ativo da diplomacia brasileira.
Participaram da mesa de abertura do encontro o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, a diretora executiva da Baylat, Irma de Melo-Reiners, e o diretor de Relações Internacionais da Unicamp, Osvaldir Pereira Taranto. Estiveram presentes, ainda, representantes de outras instituições de ensino, entre elas a Universidade de São Paulo (USP), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Embaixada da Alemanha no Brasil.
“A diplomacia científica visa construir cooperação científica, que melhora a relação entre os países. Ela é importante há muito tempo, mas sua relevância tem crescido frente aos desafios globais”, pontuou Osvaldir Taranto. Ao longo da abertura, os convidados ressaltaram que a longa trajetória de parcerias entre Brasil e Alemanha contribui para o avanço científico e para as relações entre os dois países. “Desde 2007, a Baylat trabalha incentivando a cooperação entre as instituições da Baviera e da América Latina, fornecendo uma plataforma de intercâmbios entre estudantes, parcerias de pesquisas e financiando programas para construir uma cooperação científica próspera e consistente”, destacou Irma de Melo-Reiners.
Hoje, a Unicamp tem 30 acordos com instituições alemãs e 35 professores que desenvolvem projetos em cooperação com o país, além de outros 20 pesquisadores apoiados pelo programa Capes/Humboldt. “Certamente, podemos fazer mais, e este é o objetivo deste encontro. Como podemos estreitar nossas relações para ampliar as ações conjuntas?”, questionou o reitor da Unicamp, que aponta a intenção da universidade de ampliar a presença de pesquisadores alemães em áreas estratégicas, como transição energética, sustentabilidade, tecnologia da informação, saúde, agricultura, inovação e promoção de equidade de gênero, étnica e social. “Queremos ter mais professores, alunos e pesquisadores da Alemanha aqui na Unicamp”.
Ciência como soft power
A Diplomacia Científica é um conceito recente que engloba os valores do fazer científico e da diplomacia na busca por soluções globais para problemas que extrapolam as fronteiras dos países. A definição foi proposta durante a palestra “Diplomacia Científica? Por que precisamos da ciência na diplomacia?”, apresentada por Rui Oppermann, diretor de Relações Internacionais da Capes. Em sua conferência, Oppermann pontuou que a ciência sempre participou das relações internacionais como ativo dos países, mas sem uma sistematização que permitisse a elaboração de políticas próprias.
Ele aponta que o tema envolve a aplicação dos valores universais da ciência, como a operação nas fronteiras do conhecimento e a tomada de conclusões baseadas em evidências, ao campo da diplomacia, que se caracteriza como uma abordagem das relações entre países baseadas no diálogo. Segundo Oppermann, os valores científicos contribuem para a boa governança e aumentam a confiança entre as nações.
O diretor também destaca que a Diplomacia Científica não se confunde com iniciativas de cooperação internacional, pois ela não tem como meta apenas o avanço científico, mas também os benefícios trazidos a outros setores, como o desenvolvimento econômico, político e social. “A pandemia de covid-19 e o risco de novas pandemias são exemplos da importância dessa interação entre a comunidade científica internacional. De um lado, o compartilhamento de estudos resultou em soluções para a doença e, de outro, a cooperação entre países possibilitou a elaboração de políticas internacionais de enfrentamento”, explicou.
Oppermann destaca também os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas como um exemplo de oportunidade para se promover a Diplomacia Científica, já que trabalha com desafios globais. Para isso, ele aponta a necessidade de os laços estabelecidos pela comunidade científica abraçarem também legisladores e governos e vê na América Latina uma grande oportunidade para isso. “Muitos países do sul global entendem que, frente a sua herança histórica e cultural, precisam desenvolver a cooperação entre si, tendo a pesquisa e a educação como caminhos para isso.”
Novos programas
Recentemente, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou a liberação de R$ 3,6 bilhões para a recuperação e expansão da infraestrutura de pesquisa em universidades e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), setor que passou por cortes orçamentários expressivos nos últimos anos. Para Rui Oppermann, o anúncio é importante para que a Capes possa lançar novos programas de internacionalização. Atualmente, o órgão conta com o Programa Capes PrInt, que se encerra no próximo ano. “Um dos grandes desafios é propormos um novo programa de internacionalização em linha com o que colocamos no encontro, promovendo a diplomacia científica e a cooperação internacional”, explicou.
Outra demanda identificada por Oppermann é tornar os programas mais alinhados a temas ligados ao desenvolvimento do país. “Vamos lançar editais em que temas estratégicos para o país recebam atenção para a internacionalização. Entendemos que os recursos da capes precisam estar em linha com o que é visto como necessidade para o desenvolvimento do país, para a economia verde, entre outros temas.”
Dados de 2019 da Plataforma Sucupira apresentados pelo diretor mostram que apenas 1,91% de docentes, estudantes e pesquisadores de pós-doutorado do Sistema Nacional de Pós-Graduação do país são oriundos de outros países. Questionado sobre os entraves para ampliar a internacionalização das universidades brasileiras, Oppermann pondera que não é apenas a barreira linguística que dificulta esse movimento, mas que políticas direcionadas para isso são necessárias. “Precisamos focar na priorização da política de atração de estudantes e pesquisadores para o Brasil. O país tem uma posição de liderança na América Latina e no Caribe e entre os países do Sul global”, afirmou.