“Será que a escravidão terminou mesmo? Ou ela ficou invisível? Será que a casa grande terminou? Ou a casa grande foi para dentro do condomínio?”, questionou Sérgio Adriano H., nesta quinta-feira (3), na Galeria de Artes do Instituto de Artes (Gaia) da Unicamp. O evento marcou a inauguração da exposição “Helô Sanvoy e Sérgio Adriano H. em visita”, promovida pelo Museu de Artes Visuais da Unicamp (MAV), órgão vinculado à Diretoria de Cultura (DCult), da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec).
A exposição reúne obras dos dois artistas, Helô Sanvoy e Sérgio Adriano H., que incluem fotografia, vídeo e instalações, provocando questionamentos sobre o passado e o presente da história colonial do país. “A cada 23 minutos, um homem negro morre no Brasil. Foi esse o tempo que ficamos aqui”, ressaltou Sérgio Adriano H., ao final de performance no gramado da Galeria.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, destacou a contundência da performance e da exposição, refletindo sobre a relevância da sua presença na universidade. “É realmente um momento de reflexão sobre essa violência que é sofrida pela população minorizada, que é a maioria da população brasileira. Precisamos refletir, e a universidade é um espaço para essa reflexão. Todo esse movimento precisa estar na universidade. A universidade, apesar de ser um ambiente extremamente criativo e de inovação, também é um ambiente conservador”, afirmou.
“Acho que precisamos da contundência da arte no mundo em que vivemos, poder lidar com esse tempo, que é colonial. Esse tempo que parece que só se repete no Brasil, que não passa. Para podermos parar para pensar, sentir e efetivamente sermos afetados por essas questões que são urgentes do país”, pontuou Carolina Cantarino, diretora adjunta de Cultura da DCult.
Para a diretora do MAV, Sylvia Furegatti, a exposição marca uma “lição de casa”, que precisava ser cumprida pelo museu, que ainda não possuía em seu acervo referências claras à matriz africana. “A exposição tem muitas camadas de informação. Foi muito desafiador e maravilhoso planejar esse projeto e tentar trazer questões sobre o quanto a universidade precisa repensar seu jeito de agir e o quanto os museus de artes universitários podem ser protagonistas de mudanças”, refletiu.
Além da exposição dos trabalhos por dois meses, o projeto inclui palestras, oficinas e a doação para o acervo do MAV de dois trabalhos de Sérgio Adriano H. e três objetos de uma instalação de Helô Sanvoy, criados com pedaços de construção do teatro do Instituto de Artes.
A Gaia fica no térreo da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (Rua Sérgio Buarque de Holanda, s/nº). A entrada é gratuita, e a visitação pode ser realizada até 29 de setembro, de segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 9h às 17h.
Confira imagens da performance de Sérgio Adriano H.: