O físico Marcelo Knobel, 54 anos, entrou nesta terça-feira (15) para a galeria oficial de ex-reitores da Unicamp. Em solenidade que contou com a presença de colegas e amigos, um quadro de autoria da artista plástica Stella Nanni foi colocado nas paredes da antessala do Conselho Universitário (Consu) — a mais alta instância deliberativa da universidade. Pintada em óleo sobre tela, a imagem de Knobel foi colocada ao lado do quadro de outros 11 professores que ocuparam o cargo de reitor nas quase seis décadas de existência da Unicamp.
Marcelo Knobel tomou posse como reitor da Unicamp em 19 de abril de 2017, aos 48 anos. O mandato foi encerrado em abril de 2021. “É indescritível a sensação de participar de um momento tão especial como este, cercado de familiares e amigos. Esta cerimônia pode parecer um pouco ultrapassada e até extemporânea, mas faz parte da construção de tradições que nos definem e da cultura de valorizar as pessoas que se dedicam à administração universitária, que não é um trabalho simples”, disse ele, que esteve na solenidade, ao lado da mulher, Keila; da filha Sara e da mãe, Clara. A professora Teresa Atvars, que ocupou o cargo de coordenadora-geral na gestão e o reitor da PUC-Campinas, Germano Rigacci Júnior também estavam presentes.
Knobel diz ser uma honra integrar uma galeria onde estão figuras basilares da história da Universidade. “É uma honra incrível, e não apenas pelo Zeferino (Zeferino Vaz, idealizador e um dos responsáveis pela criação da Unicamp), mas porque temos grandes professores e administradores que conseguiram fazer o que a universidade é hoje. Fico feliz por ter contribuído um pouquinho para isso e por estar nessa galeria tão importante e respeitada”, disse.
Marcelo Knobel teve o mandato marcado por grandes transformações internas e dois grandes desafios externos. Em um deles, empreendeu defesa intransigente da universidade pública diante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O segundo momento foi marcado pelo grande esforço da comunidade para manter a Unicamp em funcionamento após o advento da crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19.
“Foram períodos de grande turbulência, mas, como tudo na vida, aprendemos com as dificuldades e com as crises”, disse o professor. “São momentos como esses que devemos aproveitar para nos fortalecer”, ensina. “E tenho certeza de que a Universidade saiu mais fortalecida”, acredita.
Nascido em Buenos Aires, na Argentina, Knobel imigrou para o Brasil com a família em 1976, aos 8 anos. Seu pai, o psicanalista Maurício Knobel, que foi expulso pela ditadura militar da cátedra da qual era titular na Universidade de Buenos Aires, aceitou o convite do então diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, José Aristodemo Pinotti, para organizar o Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da unidade.
Knobel ingressou no curso de física da Unicamp em 1986, aos 17 anos. Formou-se em 1989 e, três anos depois, obteve, também pela Unicamp, o título de doutor em ciências. Depois de realizar estágios de pós-doutorado no Instituto Eletrotécnico Nacional Galileo Ferraris, na Itália, e no Instituto de Magnetismo Aplicado, na Espanha, prestou concurso e passou a integrar, aos 27 anos, o corpo docente do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp. Em 2008, assumiu o cargo de professor titular do IFGW.
Antes de assumir a Reitoria da Unicamp, Knobel foi pró-reitor de Graduação na gestão do médico Fernando Costa, de 2009 a 2013. Nesse período, foi responsável, entre outras ações, pela criação do Programa Interdisciplinar de Educação Superior (ProFIS), reconhecido com o Prêmio Péter Murányi de 2013.
Knobel é membro eleito do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); membro do Conselho de Governança do Observatório da Magna Charta; e presidente do Conselho do Instituto Principia. Em 2010, foi agraciado pela Presidência da República com a insígnia de Comendador da Ordem do Mérito Científico.
O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, disse que a homenagem é a reafirmação de uma tradição na Universidade. “As instituições vivem de momentos como estes, em que tentamos materializar o sentimento de pertencimento”, afirmou Meirelles. “Esta homenagem se concentra, hoje, na pessoa do Marcelo Knobel, mas talvez a maior homenagem seja o fato de sabermos que, de uma forma ou outra, estamos dando continuidade a um movimento capaz de manter o alinhamento da instituição a um conjunto de ideais”, acrescentou o reitor. Segundo Meirelles, trata-se de valores como a defesa da democracia, da inclusão e dos direitos humanos e a valorização da ciência, do conhecimento e da inovação. “Um movimento que gera uma continuidade institucional, e essa talvez seja a maior homenagem que se possa fazer: saber que, de alguma forma, estamos dando continuidade àquilo que você fez e outros reitores fizeram antes de você na história da Unicamp”, finalizou Meirelles.
A coordenadora-geral da Unicamp, Maria Luiza Moretti, agradeceu o empenho de Knobel na condução da Universidade e lembrou que o professor continua levando o nome da Unicamp para o país através de seu trabalho e sua produção acadêmica.
Knobel já publicou mais de 300 artigos científicos e 15 capítulos de livros e orientou dezenas de estudantes. Frequentemente, escreve textos de opinião e de divulgação científica para jornais e revistas. Recebeu, entre outros, o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz (2004), da Unicamp, o TWAS-ROLAC Young Scientist Prize (2007), o Prêmio José Reis de Divulgação Científica (2019) e o Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia (2022).