Em uma casa do bairro Jardim América, no distrito de Barão Geraldo, o material reciclável recolhido pelas ruas é mais do que uma fonte de renda para as catadoras trans Dill Vasquez e Katrina Vasquez. O que começou como uma resposta ao preconceito que as impedia de obter empregos formais, transformou-se, nas mãos das irmãs, em oportunidade de aprendizado e em causa ambiental.
Parte do trabalho das irmãs foi registrado pela equipe da Secretaria Executiva de Comunicação (SEC) da Unicamp, acompanhada então pela graduanda em Ciências Sociais da Universidade Julia Leite Cassa, integrante da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). A ITCP é um projeto de extensão ligado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) por meio do qual a Unicamp atua junto às catadoras de material reciclável.
No primeiro dia de visita à casa das catadoras, Dill e Katrina mostraram os retalhos de tecidos encontrados no lixo que elas transformam em roupas customizadas e, por isso, além de como catadoras, identificam-se também como estilistas e modelos. No segundo, a equipe acompanhou o trabalho das catadoras nas ruas do bairro.
A busca pelo material reciclável trouxe também outro tipo de aprendizado, esse advindo da observação das múltiplas características dos objetos descartados: o tipo de material, o valor de venda para as cooperativas, as possibilidades de reúso e os perigos envolvidos na atividade (como, por exemplo, quando esses objetos contêm resíduos tóxicos).
As irmãs perceberam que o descarte de lixo nas caçambas é feito, muitas vezes, de forma inadequada, misturando-se resíduos orgânicos e recicláveis e contaminando materiais que poderiam ser reutilizados ou vendidos para cooperativas. Em muitos casos, esse descarte inadequado gera resíduos cujo destino só pode ser os aterros sanitários.
O trabalho pelas ruas fez nascer nas irmãs a consciência de que falta conhecimento por parte da população sobre a forma correta de descartar o lixo e falta ação por parte do poder público para promover essa conscientização.
Uma das opções para mudar essa realidade seria, segundo elas, a valorização do trabalho dos catadores autônomos, que dependem da reciclagem para viver e por isso mesmo podem ser agentes de proteção do meio ambiente. “Nosso objetivo não é criminalizar a população, mas educar a população”, diz Dill, que hoje conta com a assessoria e o apoio da ITCP para a elaboração de um livro e um podcast.
A parceria entre as catadoras e a ITCP vai permitir a divulgação de informações sobre como deve ser feito o descarte correto do material reciclável, ressaltando seu potencial de reúso, como no caso dos tecidos – que a criatividade de Dill e Katrina transformou em peças únicas. As irmãs desejam ainda que a oportunidade de divulgar temas relacionados à educação ambiental seja também uma forma de diminuir o preconceito que enfrentam diariamente no trabalho pelas ruas.
Assista a parte 1 da matéria Um projeto de vida para catadoras trans.
Assista a parte 2 da matéria Um projeto de vida para catadoras trans.