O artigo “Ongoing declines for the world’s amphibians in the face of emerging threats” (em tradução livre, “Declínios contínuos dos anfíbios do mundo em face às ameaças emergentes”), publicado nesta quarta-feira (4) pela revista Nature, apresenta dados da segunda avaliação global sobre anfíbios, uma iniciativa coordenada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) que reúne resultados de trabalhos desenvolvidos por mais de mil cientistas, entre 2004 e 2022 – o primeiro levantamento compreendeu o período de 1980 a 2004 (ano em que foi publicado). Professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Luis Felipe Toledo está entre os autores do novo relatório.
A avaliação global analisa os riscos de extinção de mais de 8 mil espécies de anfíbios do mundo todo (ou cerca de 94% do total da classe), dentre as quais 2.286 foram avaliadas pela primeira vez, e revela que 40,7% das espécies de anfíbios do mundo, ou duas a cada cinco, estão ameaçadas de extinção – ante 26,5% dos mamíferos, 21,4% dos répteis e 12,9% das aves. Um crescimento de 1,7% desde 2004. Quatro anfíbios, dois oriundos da Guatemala, um da Costa Rica e um da Austrália, foram considerados extintos. Outros 27 passaram a ser classificados como potencialmente extintos, elevando para mais de 160 o número de espécies que possivelmente desapareceram.
Jennifer Leudtke, membro do grupo de especialistas em anfíbios da IUCN que liderou o levantamento, ressalta que o relatório também traz boas notícias. “Desde 1980, 63 espécies estudadas foram resgatadas da extinção devido aos trabalhos de conservação. Isso prova que esforços nesse sentido funcionam e devem ser intensificados para mitigar e conter a diminuição no tamanho dessas populações.” Da primeira avaliação até 2022, houve uma melhora na classificação de 120 anfíbios na Lista Vermelha da IUCN – que relaciona os animais mais ameaçados do planeta.
Dentre as conclusões destacadas, o estudo aponta o crescente impacto das alterações climáticas decorrentes da ação humana, no mundo todo, entre as principais causas do declínio das populações e do desaparecimento de sapos, rãs, pererecas, salamandras, cecílias, cobras-cegas e tritões. No Brasil, o artigo alerta para a redução do sucesso reprodutivo de rãs de desenvolvimento direto (é o caso dos gêneros Cophixalus e Brachycephalus), devido à degradação e à diminuição do volume de chuvas na Mata Atlântica.
A maior incidência de eventos extremos, como secas, furacões e enchentes, segundo o artigo originado do estudo, provoca alterações em aspectos como temperatura e umidade dos habitats desses animais e compromete seu ciclo reprodutivo, sua capacidade de respiração (mais sensível a interferências externas por ser realizada também ou exclusivamente pela pele) e sua alimentação. Fundamentais para a manutenção do equilíbrio ecológico, os anfíbios atuam para o controle de mosquitos e insetos, compõem a dieta de aves, répteis e mamíferos e contribuem para a fixação de nutrientes.
Uma matéria completa sobre os resultados e contribuições da segunda avaliação global de anfíbios será publicada na próxima edição do Jornal da Unicamp, a ser publicada no próximo dia 16 de outubro.